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Quarta-feira, 31/5/2006 Zimbo Trio: Sorrisos e Improvisos Rafael Fernandes O Zimbo Trio - sinônimo de liberdade artística - nasceu ironicamente no mesmo ano do Golpe Militar: 1964. Luiz Chaves (baixo), Rubens Barsotti (bateria) e Amilton Godoy (piano) juntaram elementos eruditos, do jazz, samba e demais ritmos brasileiros numa mistura até então rara. O grupo foi um dos primeiros - e acabou se tornando um dos principais - trios instrumentais do Brasil, juntamente com o Tamba Trio, Jongo Trio, entre outros. Porém, diferente de seus contemporâneos, o Zimbo continua firme e forte até hoje. Se atualmente é corriqueiro encontrar trios com influências jazzísticas - qualquer cantora metida a moderna tem; se é relativamente fácil encontrar bares e casas de shows que oferecem jazz em seu cardápio musical, se é normal misturar esse estilo com música brasileira (para além da bossa nova), muito se deve ao Zimbo Trio. Não só precursores musicais, mas também no ensino, seus integrantes fundaram, em 1973, o CLAM - Centro Livre de Aprendizagem Musical, em São Paulo - que funciona até hoje, e é um dos mais importantes e conceituados centros de ensino musical do país. Com quase meia centena de discos gravados (quarenta e oito, para ser preciso), o Zimbo Trio também acumula prêmios, entre eles o Troféu Imprensa, Roquete Pinto, Pinheiro de Ouro, Chico Viola, Índio de Prata, Candido Mendes, o VIIš Prêmio Sharp de Música, entre outros. O trio estreou em um show de Norma Bengel (produzido por Aloysio de Oilveira) e começou a ganhar projeção em 1965 quando formou a banda de apoio do programa O Fino da Bossa, da TV Record, com Elis Regina e Jair Rodrigues. Além desses, acompanharam diversos artistas durante os anos, dentre os quais, Elizeth Cardoso, Sebastião Tapajós, Leila Pinheiro, Leny Andrade, Heraldo do Monte e se apresentaram com orquestras sinfônicas do Brasil, Venezuela, Argentina, Uruguai, Colômbia e também no Phillarmonie de Berlin, Town Hall, entre outras. Incontáveis são e foram as apresentações em trio no exterior. O Zimbo Trio de 2006 conta com Itamar Collaço no baixo e a música continua brilhante. Recentemente o grupo fez show no agradável e elegante Tom Jazz, com um público em muito bom número - considerando que estávamos na semana do "caos" em São Paulo. Iniciaram a festa com "Samba Dobrado" (Djavan), seguida pela bela "Bebê" (composição de Hermeto Pascoal, incluída em seu ótimo disco de piano solo Por Diferentes Caminhos) e "Feitio de Oração" que começou com belo solo de Amilton Godoy - o músico alternou entre delicadeza e virtuosismo; seus companheiros o seguiram e fizeram marota versão do clássico de Noel Rosa e Vadico. O show prosseguiu com mais uma de Hermeto, "Chorinho pra Ele"; "Bocoxé" - um dos afrosambas de Baden Powell e Vinícius de Moraes - veio a seguir e depois o trio executou "Conversando no Bar", de Milton Nascimento, com um arranjo que soube equilibrar com destreza volúpia e delicadeza. Destaque também para o público, que estava muito mais interessado no show do que num "happy hour chique". Raro isso. Tão raro que, antes de "Beatriz", Amilton Godoy destacou o quanto é necessário uma alta dose de concentração para sua execução, implicando silêncio e afirmou que por isso não tocam essa música com a freqüência que gostariam, pois poucas vezes a platéia colabora; em seguida elogiou o comportamento dos presentes. A execução da obra-prima de Chico Buarque e Edu Lobo teve momentos de diálogo melódico entre piano e baixo e a versão do Zimbo teve início delicado para, em seguida, desembocar numa suave bossa nova - que privilegiou o improviso, e retornou à delicadeza para encerrar a canção. Antes de "O Morro não tem vez" (Tom Jobim e Vinícius de Moraes), Amilton disse ser essa canção um prato cheio para os músicos amantes do improviso, o que foi confirmado na execução da música, que teve altas doses de peso e swing, com espaço para solos da vigorosa cozinha. "Gabriela" - de Tom Jobim - apareceu em sua versão completa, o que nem sempre ocorre. Para o bis, os músicos tocaram "Chega de saudade" (Tom Jobim e Vinícius de Moraes), convidando o público a cantar a música, com resposta imediata. Um grande indicativo de um bom show são os sorrisos nos rostos dos músicos e do público. E isso aconteceu com fartura. O Zimbo Trio continua afiado e cheio de sorrisos e improvisos. Nota do Editor Todas as fotos são de autoria de Murilo Rodrigues. Rafael Fernandes |
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