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Sexta-feira, 22/12/2006 Minha primeira vez - parte I Rafael Rodrigues Desde 2002 costumo colocar no papel um balanço das minhas conquistas durante os 12 meses do ano que está prestes a terminar. Sempre num tom literário, quase uma crônica de final de ano. Nunca havia passado pela minha cabeça escrever um texto sobre o que de melhor aconteceu em termos de literatura (que é a minha área) durante algum ano. Eis que agora, motivado pelo Especial Melhores de 2006, enfim faço a minha primeira seleção de melhores leituras. E como tudo na vida, tudo tem seu tempo certo. Houve um ano, 2002, se não me engano, em que li cerca de 50 livros. Pouco, para alguns; muito, para outros. Para mim, foram muitos, porque o ano começou, pra valer, em maio, quando entrei na faculdade e, por conta de duas greves, vivia indo à biblioteca, para não perder o costume de ir à universidade nem esquecer o caminho dela. Ou seja, foram (vamos arredondar, para a conta sair certinha) 48 livros em 8 meses. Isso dá 6 livros por mês. Foi uma boa média, acredito eu. Com o tempo, as leituras foram dividindo espaço com a escrita e foram diminuindo um pouco, infelizmente. Mas o que perdi em números, ganhei em qualidade, que não sou bobo. Foi o que aconteceu neste ano de 2006. Minhas outras atividades (ainda estudante de letras, filho mais velho, revisor deste Digestivo e colunista - agora ex - de outros sites) me fizeram selecionar melhor o que ler e o que deixar de ler. Mas sobre os livros que li (e os que não li, também), escreverei um outro texto. Neste aqui farei uma pequena seleção dos textos que mais gostei de ler aqui mesmo, no Digestivo. E é bom dizer: seleções nunca são justas. Sempre alguma coisa muito boa acaba ficando de fora (sem trocadilhos, por favor). Então que critério usar para selecionar os melhores textos, na minha opinião, publicados aqui, neste ano? O critério utilizado será um só: minha memória. Que já não anda lá muito boa, é verdade, mas ainda me ajuda bastante. Os textos que aqui vou listar são os que primeiro me vieram à mente, ao bater o olho no nome de cada colunista. Não há ordem de preferência, nem deve haver. Todos se encontram no mesmo patamar. Nem todos os "Digestores" serão citados, para eu não me perder e também para não me prolongar. Além do que fica impraticável, por exemplo, selecionar um, dois ou três textos da Ana Elisa, por exemplo. Ela é a colunista mais equilibrada do Digestivo, no sentido de que seus textos têm o mesmo "padrão de qualidade", são todos igualmente excelentes. Difícil também escolher um texto do Marcelo Miranda, por exemplo, ou do meu xará Fernandes, que sempre escrevem excelentes e bem alicerçados textos, mas cinema e música não são lá a minha praia, apesar de eu gostar muito de ambas as áreas. Quando tive a idéia de fazer este texto, lembrei logo da coluna "Sim, é possível ser feliz sozinho", do Luis Eduardo Matta. Não cheguei a comentar o texto, mas deveria, porque gostei muito dele e também porque o LEM - que é como me refiro a ele mentalmente, já que não o conheço pessoalmente - é um gentleman e vira e mexe acompanha meus pulos além-Digestivo. Minha vez agora de comentar o texto dele e dizer o motivo de eu ter gostado tanto do que ele escreveu. Viver sozinho foi algo que fiz durante muito tempo. Enquanto meus amigos namoravam, eu continuava solitário, tímido que era - e continuo sendo - para engatar uma boa conversa com uma garota e iniciar um namoro. Mas o Luis não fala da solidão juvenil. Fala da solidão adulta, a qual ainda não experimentei, pois moro com meus pais e irmãos. Mas ainda assim me identifiquei com o texto. Isso porque, mesmo cercado por pessoas dentro de casa - e fora dela -, gosto da solidão. Sou um homem solitário por natureza. Gosto de ficar no meu canto, ouvindo minhas músicas, tocando minha guitarra, lendo meus livros ou, simplesmente, deitado na cama olhando para o teto. O texto do Luis é um alento para quem está ou prefere ficar sozinho, pois ele deixa claro e prova por A+B que estar só não é nada de mais, desmistificando a imagem de "insensível" que essas pessoas têm perante os seus próximos e, talvez, de frente para o espelho. A Marília Almeida trouxe para os leitores do Digestivo um texto sobre Estamira, nome de uma mulher e de um documentário feito sobre a sua vida. Estamira é uma mulher de 63 anos (na época do documentário, lançado em 2005) que ganha a vida catando lixo em um aterro sanitário em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. "Filósofa, mulher, guerreira, louca, lúcida e feiticeira, Estamira é várias mulheres em uma.", diz Marília. Com um texto muito bem escrito, Marília traz à tona a história dessa mulher singular e também de muitas outras pessoas que vivem dessa mesma "profissão". Recomendo a leitura do texto e, é claro, assistir ao documentário. Em "Qual é o seu departamento?", Elisa Andrade Buzzo escreve sobre a agonia que é entrar - mesmo que não seja para comprar - em uma loja de departamentos. O legal do texto é que ele me fez lembrar do meu tempo de funcionário da C&A, tempo esse nem tão longe assim, pois trabalhei lá até julho do ano passado. Me diverti muito e aprendi muitas lições, profissionais e de vida. Todos nós que de lá saímos, chamamos a loja de uma escola, porque é realmente engrandecedor trabalhar lá. Algumas das melhores colunas foram publicadas dentro dos Especiais. Um deles, o Eleições 2006, foi o que talvez tenha gerado mais polêmica. E um dos textos que mais gostei foi o "Voto fulo", do Guga Schultze, que estava indignado por ser obrigado a votar. Como muita gente, aliás. Eu concordo com o Guga, mas com reservas. Acho que se hoje o voto deixasse de ser obrigatório, estaríamos mais perdidos ainda. É claro que respeito a opinião dele, e gostei demais do texto, mesmo tendo essa divergência. Ah, e o título da coluna é hilário. E agora, o Marcelo Maroldi. É sempre bom ler o Maroldi, mas existem três textos dele que são fora de série - isso dos que eu li, deve haver outros. "Dos amores possíves", "Receita para se esquecer um grande amor" e "Recomeço". Eles formam uma trilogia, e coloquei os títulos em ordem cronológica. Do último, vai um trechinho: "Eu caminho de mãos soltas contra o vento gelado e provinciano. Os meus olhos agora são olhos de um novato, tolos e debutantes. Há tempos não me sentia um idiota completo, a gente sempre se sente melhor quando está amando". Todos carregados de sentimento e poesia. Recomendo a leitura dos três e de outros textos do Maroldi, claro. Ah, mas só depois que terminar de ler o meu! Ainda está aí, caro leitor? É que eu não posso deixar de falar de outro colunista, o Rafael Bandini. Digo, o Rafael Rodrigues, que com seus textos maravilhosos, arrebata uma legião de leitores, sendo sempre abordado por dezenas de fãs, no meio do rua, a lhe pedir autógrafos. Por isso se atrasa tanto para seus compromissos, o Rafael. Pra terminar, e pra deixar claro que o parágrafo anterior não passa de uma brincadeira, o textaço do Julio, nosso editor, "Não me venham com escritores (gênios, então...)", que fala sobre a constante chegada de indicações de novos gênios da literatura brasileira em sua caixa de e-mail e de correio. São mensagens eletrônicas, livros e textos impressos, que quase chegam a soterrar o Julio, pedindo para que ele publique este ou aquele "artigo genial" ou indique este ou aquele "novo e genial escritor inédito" a alguma editora. E o Julio dá um recado que serve para qualquer um que se pense merecedor de destaque nas letras: trabalhe. Apoiar-se nas costas de alguém ou ter um bom padrinho não é o melhor caminho. Além de o autor não ter a melhor sensação que se pode ter: a do trabalho reconhecido através do próprio esforço. Rafael Rodrigues |
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