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Terça-feira, 17/4/2007 O Pêndulo de Mussa Luis Eduardo Matta O adultério é uma temática imortal, tão enraizada no imaginário humano quanto a religião, o amor e a necessidade de comida e água. Eu iria mais longe e até afirmaria que o adultério já se tornou parte do inconsciente coletivo, isto é, do conjunto de valores e sensações que toda a humanidade compartilha. É um assunto que inevitavelmente mexe com as entranhas de cada um e, quando se é vítima dele, penetra fundo na alma das pessoas, sangrando-a e gerando um vórtice tempestuoso de sensações inquietantes, cujas conseqüências podem ser dramáticas. A traição amorosa, quando aliada a um sentimento de rejeição, é das mais funestas e angustiantes experiências que o ser humano pode vivenciar. Debruçar-se sobre esse tema, com profundidade, portanto, é sempre um desafio. Muitos o fizeram e ainda o fazem. O adultério existirá na literatura, enquanto existir a humanidade. Pensei muito nisso durante a leitura de O movimento pendular (Record, 2006, 238 págs.) de Alberto Mussa, que comprei no final do ano passado, no mesmo dia em que ele chegou às livrarias. Aliás, o próprio Mussa, que coincidentemente estava na livraria naquele momento, testemunhou a compra e tudo indica que eu, Luis Eduardo Matta, se não fui o primeiro a ler o livro, certamente fui o primeiro a adquiri-lo e a receber o autógrafo do autor. Além de uma pessoa culta e simpaticíssima, Alberto Mussa é um escritor brilhante, dono de um estilo, uma voz e uma prosa singulares dentro da literatura brasileira, sobretudo dentro da literatura brasileira contemporânea. Seus livros, de O trono da Rainha Jinga, passando por O enigma de Qaf, até este O movimento pendular, de tão ricos e múltiplos, são difíceis de serem definidos, o que está longe de ser um demérito. A meu juízo, isso serve para demonstrar a caudalosa verve criativa do autor, que não conhece limites e reinventa a literatura com consistência e espontaneidade, sem mutilá-la ou adulterá-la de forma gratuita como historicamente tem acontecido no Brasil: a reinvenção pela reinvenção, como um ato vazio de rebeldia pretensamente intelectual com resultados, muitas vezes, sofríveis. Numa narrativa absolutamente original, O movimento pendular - que recebeu o prêmio de melhor romance da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) e o Machado de Assis, da Biblioteca Nacional, na mesma categoria - aborda a temática do adultério de uma forma inusitada. Não se trata propriamente de um romance - embora ele assim seja apresentado - mas talvez de uma simbiose entre o romance e o ensaio na forma de histórias interligadas, que acabam por formar um conjunto. A partir de casos de adultério ocorridos no decorrer da História e devidamente arrecadados pelo autor, O movimento pendular tenta demonstrar as mais variadas formas de se estabelecer um triângulo amoroso, fornecendo-nos um amplo e múltiplo panorama da infidelidade humana através dos tempos, em momentos e ambientes os mais diversos. Logo no começo do livro, Alberto Mussa instiga o leitor, ao advertir que muitas das histórias narradas foram vividas por ele e que, à exceção de uma única, todas as demais aconteceram de fato. E essa advertência nos acompanha durante todo o livro, como num enredo de mistério: afinal qual das histórias será a falsa? E quais Mussa teria vivenciado? Para compor O movimento pendular, Mussa valeu-se da linguagem que o consagrou, que mescla erudição e fluência, com algumas doses de reflexão histórica e antropológica e de um senso de humor sofisticado, perceptível ao longo de toda a narrativa. É um livro que diverte, encanta e nos faz viajar pelos tempos e pelos desvarios da alma humana de uma forma vertiginosa. Em dado momento, não se sabe se o narrador é o próprio Mussa ou algum personagem criado por ele. O livro é um grande jogo entre realidade e ficção e essa saudável e saborosa confusão em que ele enreda o leitor é um dos seus grandes atrativos. Já os teoremas e elementos geométricos que permeiam o livro são uma atração à parte. Com eles, o narrador esquematiza alguns dos casos expostos, dando-lhes uma compleição matemática, o que torna o texto ainda mais instigante. Alberto Mussa é, assim como eu, alguém que acredita que literatura é, sobretudo, prazer. O fato de ele pensar assim, não só o engrandece como escritor, como encoraja o mergulho na sua obra, uma vez que entre as suas intenções ao compô-la estava, seguramente, a de proporcionar ao leitor horas agradáveis e estimulantes de leitura. A mim, pelo menos, essas horas foram proporcionadas e convido os demais leitores a fazer o mesmo experimento e a conhecer o mundo extraordinário deste notável prosador brasileiro. New Age e leitura: um casamento perfeito 2006 foi para mim um ano de singelas, porém extraordinárias descobertas, sobretudo a partir do segundo semestre. Foram descobertas no campo da literatura, no campo da criação literária (me aguardem!) e, particularmente, no campo da música. Há muitos anos, que leio e escrevo ouvindo música. É, indubitavelmente, a minha maior fonte de criação, pois a música além de aguçar a minha criatividade e a minha sensibilidade, estabelece uma ponte entre todos os meus níveis de consciência, dá ritmo à minha escrita e embala as minhas horas solitárias de leitura. Embora eu tenha um gosto musical bastante eclético, nestes momentos, prefiro os ritmos mais suaves. Houve tempos em que eu escrevia e lia ouvindo música clássica, sobretudo Bach e Chopin. Depois, passei para o jazz de Miles Davis, Duke Ellington e Oscar Peterson's Trio. E foi em 2006 que, por acidente descobri e me apaixonei pelo New Age. Aconteceu totalmente ao acaso. Em meados de 2006 a operadora de TV a cabo da qual sou assinante instalou o seu sistema digital em minha casa, o que me permitiu ter acesso a vários canais de áudio. Eu, que pouco ligava a televisão (a última coisa a que assisti com alguma regularidade foi a novela Belíssima e, ainda assim, via, no máximo, um ou dois capítulos por semana, se tanto) e que, ultimamente, limito-me a, quando muito, assistir a um ou outro episódio do seriado House ou as entrevistas do Sem Censura, passei a usar a TV para ouvir rádio. E, destrinchando as estações, um dia descobri a de New Age; por coincidência numa noite em que começava a ler um romance que me marcou sobremaneira. Desde então o New Age converteu-se no meu fundo musical obrigatório para a leitura de livros. Como em qualquer rádio que se preze, as músicas, apesar de muito variadas, se repetem e isso me fez descobrir e me familiarizar com lindas canções que eu, dificilmente, conheceria de outra maneira. São músicas como "A lonely voice" do October Project, uma banda norte-americana, cuja vocalista Mary Fahl, tem uma das vozes mais belas, refinadas e arrebatadoras com as quais tive contato nos últimos tempos. Também o grupo francês Era e suas músicas, cuja sonoridade latina nos remete a uma atmosfera medieval como "Sentence" e "Misere Mani", foram me envolvendo aos poucos e, quando dei por mim, já não podia passar sem elas. Eu seria capaz de escrever parágrafos intermináveis enumerando músicas e intérpretes, mas fecho a minha listagem com o CD que estou ouvindo no momento em que escrevo estas linhas: Dreamland, de Robert Miles, que adquiri há alguns anos e redescobri agora, cujas faixas que mais me encantam são "Fable (Message version)", "Fantasya" e "Princess of light". Não me canso de ouvi-las. Talvez eu tenha feito essas descobertas tardiamente, já que essas e outras músicas são tocadas e conhecidas por muitos há bastante tempo. Mas a verdade é que nunca é tarde para se deslumbrar com as coisas, sobretudo quando elas passam a fazer parte das nossas vidas e a nos acompanhar nas sempre imprevisíveis viagens pelas páginas mágicas da literatura, que é o que acontece comigo. Com o New Age, ler tornou-se para mim uma experiência ainda mais intensa. Para ir além Luis Eduardo Matta |
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