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Sexta-feira, 13/4/2007 E se refez a Praça Roosevelt em sete anos Guilherme Conte Caminhar pela Praça Roosevelt numa noite de sexta-feira é testemunhar um processo histórico de transformação. O entra-e-sai dos teatros, as mesinhas na calçada, as rodas de gente conversando... Este seria um cenário impensável há alguns anos - você só encontraria pontos de tráfico e prostituição. A virada na sorte da praça começou em dezembro do ano 2000, quando a companhia curitibana Os Satyros abriu as portas de seu teatro por ali. Os espaços foram conquistados aos poucos. Um público cativo começou a se formar e o Espaço dos Satyros passou a ser uma referência do fazer teatral na cidade. Outros teatros foram surgindo, os Satyros abriram seu segundo Espaço e o ano de 2006 viu a chegada de mais um hóspede ilustre na Praça: os Parlapatões abriram sua casa por lá. As Satyrianas - evento organizado para celebrar a chegada da primavera, com intensa programação em 78 horas ininterruptas - desse ano selaram de vez o caso de amor entre a Roosevelt e a cidade: cerca de 12 mil pessoas passaram por ali. O que poderia cair num perigoso comodismo transforma-se em combustível nas mãos do grupo. E os paulistanos podem assistir a outra criação ambiciosa dos Satyros: o projeto E se fez a Praça Roosevelt em 7 dias. É a conclusao da "Trilogia da Praça Roosevelt", que já contou com os espetáculos Transex, de 2004, e A vida na Praça Roosevelt, de 2005. Só os números já bastariam para impressionar: sete dramaturgos foram convidados a escrever textos com a Praça como tema ou ambiente. São ao todo 52 pessoas envolvidas, um número notável em se tratando de teatro. As peças estão em cartaz diariamente, de segunda a domingo, sempre às 19h. "Queríamos ver as diferentes visões", explica Ivam Cabral, do Satyros. Os nomes por trás do projeto, porém, dão a real medida de sua importância. Entre os dramaturgos, Sérgio Roveri, Mario Bortolotto e Mario Viana. Na direção, nomes como Alexandre Reinecke, Marcos Loureiro e Luis Valcazaras. E, nos elencos, Clara Carvalho, Otavio Martins e Fernanda D'Umbra. Panorama da cena teatral A aparente grandiloqüência ao se falar do projeto não é descabida. E se fez a Praça Roosevelt em 7 dias vem para coroar o trabalho iniciado pela companhia há 18 anos, principalmente depois de sua mudança para São Paulo. A atuação do grupo devolveu a Praça à cidade e aos paulistanos. Como a região virou um verdadeiro ponto de encontro da classe e do público, era o cenário ideal para um projeto como esse. Assim, o que se tem ali é um valoroso panorama de um tipo de teatro que cada vez ganha mais espaço na cidade. A multiplicidade de linguagens, formações, referências e trajetórias promove um encontro rico e desafiador para os artistas. Isso tem um papel fundamental para o aprimoramento de uma classe nem sempre aberta à reflexão e à discussão. Tornam-se preciosos esses contatos com o outro, o diferente, o divergente. E a ambição de Rodolfo García Vazquez e Ivam Cabral, os mentores do Satyros, já dá provas de sucesso. A sexta-feira santa foi marcada pela apresentação das peças em seqüência. E de O amor do sim, de Mario Viana, às 14h, a Uma pilha de pratos na cozinha, de Mario Bortolotto, às 2h, todas as sessões lotaram - cenário que se repetiu desde então, com as montagens em seu horário regular. Esta é a programação completa do projeto: Domingo: Uma pilha de pratos na cozinha, de Mario Bortolotto. Direção do próprio autor. Com Alex Gruli, Eduardo Chagas, Otavio Martins e Paula Cohen. Narra o encontro de quatro pessoas num apartamento da Praça Roosevelt. Um câncer terminal traz a morte para o centro das discussões. Segunda-feira: O amor do sim, de Mario Viana. Direção de Alexandre Reinecke. Com Adão Filho, Ângela Barros, Flavia Garrafa e Otavio Martins. Num dia de folga, um iluminador, uma manicure e um garçom se refugiam de hordas violentas que estão aterrorizando a cidade, dentro de um teatro fechado na Praça Roosevelt. Lá encontram-se com o Espírito do Teatro. Terça-feira: Na noite da Praça, de Alberto Guzik. Direção de Luis Valcazaras. Com Álvaro Franco, Marilia de Santis, Ricardo Gimenes e Rodrigo Fregnan. Um estilista é preso em flagrante com um garoto de programa menor de idade, em um dia de enchente. O escândalo põe em questão temas como a hipocrisia e o preconceito. Quarta-feira: Impostura, de Marici Salomão. Direção de Fernanda D'Umbra. Com a própria Fernanda, Mario Bortolotto e Patricia Leonardelli. Uma madrugada em um porão infecto, com um escritor fracassado, sua mulher insatisfeita e uma moça, possível amante, que ela traz. Excluídos, em suma, num jogo de agressões mútuas. Quinta-feira: Hoje é dia do amor!, de João Silvério Trevisan. Direção de Antonio Cadengue. Com Gustavo Haddad. Monólogo sobre um michê de luxo em uma sessão de sadomasoquismo, dialogando com alguém que nunca aparece. Passa-se numa Quinta-Feira Santa, e discute os sentidos da dor. Sexta-feira: A noite do aquário, de Sérgio Roveri. Direção de Sérgio Ferrara. Com Clara Carvalho, Chico Carvalho e Germano Pereira. Passa-se no início dos anos 60, com o fechamento de um porto, fato que condenaria à morte um pequeno vilarejo à beira-mar. Uma das histórias evocadas é sobre uma viagem que a personagem, mãe de dois filhos, fez a São Paulo e sua visita à Praça Roosevelt, onde Elis Regina fazia seu primeiro show na cidade. Sábado: Assassinos, suínos & outras histórias na Praça Roosevelt, de Jarbas Capusso. Direção de Marcos Loureiro. Com Eduardo Chagas, João Fábio Cabral e Sérgio Guizé. Um assassino de aluguel parte para a Praça com seu parceiro e a missão de executar um morador local, no dia do batizado da mulher do segundo na Igreja Universal. Para ir além Espaço dos Satyros Um - Praça Roosevelt, 214 - Tel. (11) 3258-6345 - Centro - Diariamente, às 19h - R$ 10 cada, ou R$ 50 o passaporte para todos os espetáculos - Até 30/06. Guilherme Conte |
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