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Segunda-feira, 18/6/2007
Declínio e queda do império de papel
Eduardo Mineo

Queria ser mais partidário dos blogs, falar bem sobre eles em todos os lugares que eu vou e me escandalizar de verdade quando ouvir alguém dizendo que prefere papel. Penso até em demonstrações mais convincentes, fazendo protestos pela abolição dos papéis e me arremessando contra policiais pela causa dos blogs. Eu faria tudo isso se não fosse coisa de retardado. E além disto, tenho a falha de também preferir papel. Defendo os blogs porque gosto muito deles, acredito em seu futuro, acredito que o meu blog ainda me trará muito prestígio, muita glória, e que um dia ainda serei abordado na rua por loiras tetudas pedindo autógrafos por causa de algum post particularmente brilhante. Mas papel realmente é muito melhor.

A publicação em papel tem uma tradição que encanta. É muito legal poder publicar qualquer coisa em papel, mas é uma publicação cara, demorada e tem baixa acessibilidade. Mais até que a Internet, que é barata, instantânea e tem um alcance infinitamente maior. E quando dizem que a publicação pela Internet exclui as pessoas que não têm acesso, o dizem como se estas pessoas tivessem algum tipo de acesso ilimitado às publicações em papel, como se não houvesse dificuldade alguma na distribuição física e o valor cobrado fosse perfeitamente compatível com o orçamento destas pessoas.

Não é preciso ir muito longe para compreender que a relação entre o custo e o benefício da publicação pela Internet é muito mais vantajosa que a publicação em papel. O custo de se ter um computador com acesso à Internet pode ser maior que o custo de se obter um livro, mas se fosse possível calcular quantos livros se consegue obter na Internet, quanta informação, melhor dizendo, se consegue obter na Internet, o custo do computador se reduziria a centavos. Talvez nem isto. Só o site Domínio Público disponibiliza quase 40 mil obras prontas para serem acessadas sem custo algum. É vantagem tanto para quem publica como para quem lê.

O ponto interessante da publicação em papel está no retorno financeiro, que é uma conseqüência da sensação de profissionalismo que há neste tipo de publicação, mas é um retorno que está vinculado mais a atividades de utilidade imediata como o jornalismo, que não é exatamente arte - é quase mecânico até - e sofre do problema de saturação de profissionais. Em contrapartida, o jornalismo de Internet cresceu satisfatoriamente e já é possível visualizar um mercado próprio e um espaço crescente para profissionais, o que contribui para elevar a condição de se atuar nesta área.

Já no caso específico da publicação de livros, ou melhor, de livros com pretensões literárias, o retorno é quase sempre semelhante ao de um blog com pretensões literárias: nenhum. Um em, sei lá, milhões, consegue publicar um livro literário que lhe renda o sustento. É mais difícil que loteria. Mesmo os nossos melhores escritores tiveram de trabalhar - seja como professor, seja como funcionário público, seja como jornalista, etc. -, e levar sua vida literária paralelamente. Estou falando dos melhores escritores brasileiros: Machado de Assis, Euclides da Cunha, João Cabral de Melo Neto, Lima Barreto, enfim, os de sempre. E por isto fico com o blog, que ao menos é mais barato.

Eu sei que são formatos diferentes, os blogs e os livros, mas é possível publicar uma obra na Internet de diversas formas que não os blogs (em PDF, por exemplo) e atingir o objetivo que deveria ser o de um escritor de literatura: ser lido. Ganhar dinheiro é bom e saudável, mas existem formas mais eficientes que publicar livros. Além disto, quando dinheiro se mistura à arte, corre-se o risco de influenciá-la, de viciá-la, e isto nunca será bom.

Há, entretanto, uma vantagem, a maior, do papel sobre a Internet: a comodidade. É ainda muito mais cômodo ler um livro do que um texto no computador. Faço a comparação imaginando que os dois tenham mais ou menos a mesma qualidade, afinal, quem não largaria alegremente qualquer livro de motivação empresarial para queimar suas retinas lendo um bom blog?

Quer dizer, há esta vantagem por enquanto. Vi estes dias um aparelhinho de e-Text e fiquei todo empolgado com o progresso e tudo. Imagino que me empolguei tanto quanto um índio ao ver um espelho pela primeira vez, mas sem aquele lance de dar a irmã em troca. Me controlei. Mas achei realmente genial, achei realmente muito boa a idéia de poder ler um livro de mil e quatrocentas páginas com todo o conforto que cem gramas podem me proporcionar. A iluminação também é confortável; não é ofensiva como a de monitores de computador. E tem dicionário embutido, tem opção de localizar palavras, você pode fazer anotações, enviar várias páginas por e-mail e guardar em sua memória uma quantidade de livros maior do que a que existe na biblioteca do congresso norte-americano - a maior do mundo. Suponho que o futuro da mídia, se houver, deve ser muito parecido com este aparelhinho de e-Text.

Eduardo Mineo
São Paulo, 18/6/2007

 

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