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Quarta-feira, 12/9/2007 É clássico, pode acreditar Tais Laporta “O que é clássico para você?” Ao ouvir a pergunta, quem acompanhava os tradicionais Concertos BankBoston teve uma bela surpresa, visto que a temporada 2007 sofreu uma evolução conceitual. Batizada de Clássicos Personalité, a nova série tira de cena a pura erudição – o Julio acompanhou nos anos anteriores – para abrir alas a um experimentalismo corajoso. E faz questão de salientar que, nem por isso, os concertos deixam de ser clássicos. A velha separação entre música clássica e popular perde o sentido com imortais do jazz, MPB, tango e choro. Exato, o mesmo que nasceu nos morros cariocas. É do ouvinte a definição do que é “clássico”, sem se preocupar com o apartheid dos gêneros musicais. Para os criadores da campanha, a mudança melhor atende ao público-alvo dos concertos. Depois que o Itaú comprou o BankBoston, em agosto de 2006, a marca foi incorporada ao Itaú Personalité, primeiro banco a prestar atendimento personalizado ao varejo no Brasil. Até o ano passado, o Itaú preservou a identidade da série, com exceção do nome (Concertos Itaú Personalité). “Este ano, não só reeditamos os concertos, como também adequamos a filosofia da série, de modo que o público questione a própria música”, revela Fernando Chacon, executivo de marketing do Personalité, durante a apresentação da temporada 2007. Roberto Ring, que além de curador e diretor artístico dos concertos, é um dos grandes violoncelistas brasileiros, conta que nunca esteve tão instigado intelectualmente em um projeto musical. “Um sonho de criancinha”, reconhece. O motivo, segundo ele, é a dissolução de rótulos musicais perigosos. “Os ouvintes de música popular consideram a música clássica arrogante, intelectualóide. E quem gosta de 'música clássica' vê o gênero popular como superficial, simplista, sem profundidade”, dispara. “É tudo preconceito”, resume o artista, já que é possível encontrar grande complexidade em composições dos popularíssimos Chico Buarque e Pixinguinha – para citar poucos. Para Ring, parte deste preconceito é reforçada pelos próprios músicos que sobem ao palco. “A formatação do espetáculo em si, aquela roupa de ‘pingüim’ do músico transmite uma postura distante. Por que não mostrar que é uma pessoa em carne e osso?”, questiona o curador. Mas Ring reforça que os concertos da série Personalité não são melhores nem piores que os tradicionais do circuito paulista. Apenas diferentes. “Há séries maravilhosas no Teatro Cultura Artística, no Teatro Municipal, o Mozarteum, as apresentações da OSESP. Nossa proposta é ousada, mas não necessariamente melhor”, acrescenta. O exemplo mais agudo do erro em separar o clássico do popular é, segundo Ring, a genialidade de Mozart. Festejado, amado e campeão em audiência há séculos, Mozart pode ser definido como um compositor popular. Mas o diretor dos concertos – nos quais será membro do conjunto residente, o Solistas Personalité – lamenta a resistência do público ao tentar dar a Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga e Chico Buarque o mesmo prestígio a que Mozart tem direito. Uri Caine – Um dos exemplos mais marcantes do espírito da série está na proposta do polêmico pianista Uri Caine (que mereceu a alcunha de “Furacão”, do trocadilho hurricane, em inglês). Ele ficou mundialmente conhecido por readaptar, com ousadia, compositores até então intocáveis. De apresentação marcada para o segundo concerto, o pianista promete desconcertar arranjos de forma transgressora. Seu último trabalho, Uri Caine Esemble Plays Mozart, sintetiza toda a discussão: clássico e popular são inseparáveis, sim senhores. Ele funde gêneros sem qualquer pudor, mas não perde a disciplina musical. Introduz um bando de instrumentos do jazz e do rock, sem contar as turntables (aquelas mesas de vinil usadas por DJs), prontas para fazer uma releitura moderna de Mozart. Uri Caine arrepia os pêlos dos tradicionalistas ao introduzir sons de pássaros e macacos na obra do compositor, uma verdadeira selva em Mozart. O português Leonel Santos, organizador do site Jazz Logical definiu sabiamente a proposta do músico. “Desde logo, os arranjos para aquela formação surgem desajustados para os ouvidos mais conservadores. Mas a forma como ele introduz elementos microscópicos estranhos, alterações na melodia, subvertendo o ritmo, dissonâncias e brechas de todo o tipo sobre a linha da composição, jogando com os instrumentos, uns improvisando sobre a pauta que outros tocam. Improvisação versus pauta. Instrumentos contrapondo outros. O tema que se desloca do violino para o piano, do piano para o violino-clarinete ou para o trompete; ao mesmo tempo que os outros instrumentos constroem novas melodias, novos contrapontos, parecendo associar-se ou dissociar-se aleatoriamente. Puro jazz”, finaliza. Os Concertos – Os compositores que surgirão das cortinas do Clássicos Personalité são autores de arranjos feitos especialmente para a série e terão a oportunidade de executar suas próprias criações. Para Ring, esta é uma grande aposta no músico brasileiro, sem contar a oportunidade de reunir nomes de nossa música junto a artistas internacionais. O corpo fixo, Solistas Personalité, reforça essa aposta nas raízes brasileiras. “Nada mais natural”, lembra Ring, “já que o próprio Itaú, de onde parte o projeto, tem nome originado do tupi-guarani (pedra negra)”, comenta. Serão seis atrações internacionais, com o total de 18 apresentações em São Paulo e no Rio de Janeiro. A programação completa está no site da série, que também informa as minúcias de cada artista que subirá ao palco nos próximos quatro meses. Vale destacar as presenças de Romain Guyot (clarineta), Lee Konitz (saxofone), Ohad Talmor (saxofone) Hagai Shahan (violino) e os brasileiros Nelson Aires (piano), Antonio Carlos Carrasqueira (flauta), Paulo Sérgio Santos (clarineta), Maurício Carrilho (cordas) e Caio Márcio (violão). Um banho de clássicos. Para ir além Clássicos Personnalité Tais Laporta |
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