|
Quinta-feira, 27/9/2007 Adeus, coxinha & cia. Elisa Andrade Buzzo foto: Sissy Eiko O paulistano, longe de seu habitat natural, pode recorrer a guaraná por cinco euros, suco de maracujá da África do Sul ou mesmo feijão em lata, mas não é a mesma coisa. Se esfiha, croquete e yakisoba de calçada estão apartados dele (como diria o poeta), o jeito de viver é relembrando, relembrando... Por isto, esta coluna traz um miniguia gastronômico para desejos expressos, com oito delícias paulistanas por até oito reais. Algumas por bem menos. Algumas verdadeiras refeições, outras sobremesas ou comida de passagem. Cada uma delas traz como acompanhamento o ambiente em que são consumidas, espécie de cartão-postal comestível. E será que algo é mais saboroso na imaginação de quem sonha do que na boca de quem come? Se o amor à distância é o mais sofrido e duradouro, a água na boca por elas só tende a aumentar. Churrasquinho grego no centro de São Paulo - Nada melhor do que conhecer a realidade paulistana fazendo um passeio pelo centro da cidade, admirar os prédios antigos e os calçadões cravejados de pirataria. Estar em São Paulo e não freqüentar o centro é passar a vida em cinza. Quando bater aquela fome, a solução vai estar sempre à sua frente. Escolha o espeto em que a carne estiver mais gorda e acompanhe seu corte, as lascas caindo no pão francês suavemente. Tudo por um real, e ainda com o suco, grátis. Acompanhe o movimento da rua, integre-se como monumento vivo. Não se furte em comer com a boca aberta, se preferir. Ninguém está olhando pra você. Coxinha do Viena - Se a coxinha é uma especialidade brasileira, talvez não seja exagero dizer que a coxa mais desejada do mundo seja a do Viena. A combinação levemente crocante por fora (casquinha da massa) e macia por dentro (recheio de frango cremoso) confere perfeição a essa iguaria. Não é uma coxinha que muda de gosto assim como quem troca de roupa. Ela tem um sabor inconfundível que acompanha até mesmo sua versão pequena. Ideal para ser consumida jogando charme no quiosque do Conjunto Nacional. E de boca fechada, claro. Bolo de morango do Café V. - A maior atração da Livraria Cultura do Conjunto Nacional não são os livros. Nem mesmo o pé-direito alto ou os dinossauros-incentivo-à-leitura-para-as-crianças. Enquanto algumas prateleiras do primeiro andar estão às moscas, o Café V. está bombando no térreo. Quem tiver o ar blasé ou cara de intelectual freqüentemente vistos pela casa é porque não está comendo bolo de morango. No empurra-empurra das cadeiras marrons estofadas este manjar é self-servido em pratos brancos quadrados e garante cinco minutos de felicidade. A explicação é a massa dupla de pão-de-ló super macia recheada com creme e morangos. Bandejão Central da USP - Amado por alguns, odiado por muitos, o maior restaurante universitário da USP está envolto por uma camada de preconceito. Não, não é mais servido leite no almoço. Os gatos não entram mais lá, embora haja cachorros pidões na saída. Há tantos pontos positivos em comer no bandejão que fica até difícil enumerar! O bandejão é o campeão da relação custo-benefício, ou seja, você faz uma refeição equilibrada, variada (com arroz, feijão, duas misturas quentes, salada, suco, água, pão e sobremesa) e saudável por um real e noventas centavos (valor do tíquete para uspianos). O bandejão permite observar a fauna uspiana (ok, parte dela apenas) e reencontrar velhos amigos. É o melhor programa antes de entrar nas aulas noturnas. Não perca os dias de bolo de chocolate, panqueca ou batata sauté. Fuja do chuchu crocante, do arroz com passas e das carnes com gordura. Hambúrguer do Hobby - Escondido por folhas de palmeiras, este hambúrguer, quando descoberto, é tesouro guardado e relembrado. A casa na Rua Cardoso de Almeida ostenta um "desde 1969". Conjugado com o hambúrguer de carne macia, suculenta e levemente salgada, o ambiente é acolhedor - tanto o balcão quanto as mesinhas da varanda. A lanchonete fica aberta até o começo da madrugada e no final da noite pode ter uma filinha de espera. Não é à toa... Lasanha do Café Haiti - Mais uma das surpresas do centro da cidade, que só mesmo um amigo desbravador de PFs pode revelar. O caminho é a Rua Barão de Itapetininga, seguindo depois para a Galeria Califórnia. Se é verdade que este bar teve a primeira máquina de café expresso da cidade, não sei, mas a lasanha do Haiti é garantida. Dois pedaços graúdos com carne moída e molho de tomate. Assim como o bom humor do crew. Chegue cedo se não quiser ficar no balcão. Lembre-se que quinta-feira é o dia de massa nos botecos. Dog prensado do Terminal Urbano na Estação Vila Mariana - Um pão, duas salsichas e galões de maionese, ketchup e mostarda apertados a cada segundo. Nesta verdadeira praça de alimentação popular podem ser encontrados quitutes rápidos por preços ínfimos, para aplacar aquela fome mais rasteira. E que muitas vezes surge atiçada diante de tantas propostas irrecusáveis. Aqui o sentimento breve de satisfação é entrar no ônibus e enfrentar uma longa viagem até o recôncavo da Zona Sul, munido de um dog prensado de noventa e nove centavos. Como o cheiro geralmente é seu maior atrativo, coma ainda quente. E não espere receber um centavo de troco. Pipoca doce da Avenida Paulista esquina com a Rua Maria Figueiredo - Você está confortavelmente sentado no ônibus, voltando pra casa, e aparece uma mão invisível no seu nariz, fazendo cosquinha, você se levanta e segue esta mão que se desdobra em arabesco diáfano, atravessa carros e motos sem ser atropelado, você está fora de de si, flutuando na freqüência daquele cheiro doce e magenta. Agora, você se vê na frente do pipoqueiro e só resta comprar um saquinho, nem que seja o pequeno. Coma devagarzinho, investigando a superfície lustrosa do grão inchado, mas sem perder de vista os buracos da calçada. Pegue o sentido Paraíso e aproveite a caminhada para ir até o Paulista. Programa típico: shopping no final do expediente, curtindo o fato de não estar mais no congestionamento. C'est si bon, cette petite sensation... Elisa Andrade Buzzo |
|
|