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Quinta-feira, 27/9/2001 País do Carnaval II Sergio Faria Hoje vou comer uma pizza mezzo calabresa, mezzo aliche, mezzo marguerita (ah, só tem duas metades? Então dispenso o aliche, o que se pode fazer?) na Speranza, a velha e querida casa dos Tarallo, no Bixiga. Serei recebido pelo abraço afetuoso do meu amigo Gutierrez, que nunca na vida ouviu falar em blog. Conversaremos sobre a última maratona que ele correu. Pedirei um chope e um pedaço de tórtano, o generoso pão de lingüiça que só se faz naquele abençoado forno a lenha. E aguardarei pacientemente que fique vaga a minha mesa, na primeira sala, perto do forno, porque ali as noites sempre acabaram bem. E serei feliz, porque a felicidade é feita de coisas simples. E muitas vezes absolutamente previsíveis. Rufos! Respeitável público! Hoje descobri um circo! Chama-se Internazionale Circo di Napoli. Lindo, todo iluminado, lona nova, aquele jeitão crássico de circo que possui atmosfera de circo. Deve ter serragem no chão, claro. E cheiro de circo, principalmente. Talvez tenha o incrível e extraordinário Globo da Morte! E, certamente, terá uma linda trapezista e uma tesudíssima partner de mágico! Merece aplausos! Encontra-se armado numa avenida que eu não sei o nome, mas sei ensinar: você vai pela Av. dos Bandeirantes [SP] sempre reto, reto, reto, reto, reto, como se fosse para o ABC. Daí passa dentro de um túnel e continua reto, reto, reto, reto, reto, até ver o circo à sua direita. Um baita circão dos grandes! Êêê, beleza. Ih cacete, e agora? O cônsul honorário do Brasil em Jidá, na Arábia Saudita, é irmão de ninguém menos que o fulano Osama Sin-salabin-bin Laden. Foi nomeado no tempo do Zé Sarney presidente, porque é casado com uma maranhense. É a vocação inequívoca dos Sarney: no passado, no presente e no futuro podemos contar com eles pra fazer cagada. Circunstâncias de trabalho, digamos, não-solucionáveis me obrigam a deixar o carro estacionado o dia todo num lugar próximo ao escritório, e tem que ser na rua. Circunstâncias. O bairro é de bacana. Depois de algumas perguntas descubro uma praça, onde a prefeita Marta ainda não meteu a Zona Azul que ela aumentou em 50%. Mas a praça tem dono. Alguém me apresenta. O cara cobra 15 real por semana de quem estaciona. Trabalha com o irmão e mais dois sócios. Negociamos, ele acaba deixando por 10 real, mas não é para eu contar a ninguém. Senão desmoraliza. Negócio fechado, mas cadê a vaga, que eu não vejo? Imediatamente ele empurra e separa dois carros estacionados, e ela surge. Ali os carros têm que ficar assim: desengatados e livres do freio de mão. Você passa e pensa que não tem lugar. Mas, para o freguês, ele aparece em segundos nessa operação. Sabe há quanto tempo o cara é o dono da praça? 11 anos, descubro depois, informado por outras pessoas. Terminada a conversa, ele me pede o cartão de visita que não tenho. E me estende o dele, que tem o nome dos 3 sócios, o telefone celular de cada um e o nome do negócio: ESTACIONAMENTO AUTÔNOMO. Eu sei que você está pensando o mesmo que eu estou pensando. Mas tem circunstâncias que a gente não escolhe, caro cara. Minha penúltima namorada foi uma egípcia, terapeuta corporal. Bunda grande, estilo árabe. Reprimida, estilo árabe. Carinhosa, estilo árabe. Fodosa, estilo árabe. Mão fechada, estilo árabe. Mas abria a mão para mim, em generosas massagens nas quais era especialista: tuiná, tuiuiú, reflexologia, do-in, ayurvédica, relaxamento, punheta, drenagem linfática, shiatsu, ventosa, reiki, vivencial, crânio-sacral, o escambau. Todas. [Não, seu viado, prostática não. O quequi há, cara, tá me tirando? Sou espada, vai encarar?]. Um dia me convidou para participar de uma sessão num grupo terapêutico. Como ia ser na base de 4 mulheres pra cada homem, topei. O terapeuta era viado. Todo mundo deitado no chão, o cara ligou o Kitaro, apagou as luzes e mandou relaxar. Incenso rolando. Eu ressabiado, relaxando mas não muito. O cara disse, rolem e relaxem, rolem e relaxem. Todo mundo rolava no carpete, eu também. Mandou a gente bater as pernas numas almofadas. Mais forte, Sergio, mais forte, dizia. Eu no chão, barriga pra baixo, batendo as pernas. Comecei a me sentir ridículo nadando no seco. E você sabe, jacaré no seco anda. Terminou a bateção de perna, veio o convite para respirar fundo e soltar suspirando alto. A egípcia entrou no clima e exagerou. Baixou o Tuta. Tutankamón berrando no escuro. E todo mundo imitou. O berreiro foi assustador. Perdigotos voavam. Os cachorros da vizinhança latiam. O viado aumentou a música. Catarse geral. Entrei debaixo de um almofadão para escapar da saraivada de perdigotos. Não sei como, o terapeuta enxergava no escuro e me intimou, Sergio, não pare, não pare. Achei que ele ia ejacular pra cima de mim e fugi, me arrastando até a porta. Localizei meu tênis pelo cheiro, na escuridão. Passei a mão na sacola de roupa que estava ao lado e me mandei. Na rua, peguei um táxi ainda de camiseta e calção. No dia seguinte, a egípcia ligou e inventei que estava com câncer. Falei que ia me tratar na Rodésia. Nunca mais a vi. De múmia, já basta uma sogra que eu tive. Mas essa é uma outra história. Você nem queira saber. Jamais vou dizer o nome, mas estou trampando numa agência onde o dono dá incertas na sala, pra vigiar o que as pessoas acessam na web. Até em email aberto ele põe a cara! Tipo, "puxa, isso é um email? Como é longo!". Não parece agência. A disciplina é de quartel. E tem Sua Excelência o Filho do Dono, o chamado "capítulo à parte". A ética me impede de revelar detalhes. Pelo amor de Deus. Se você souber de uma agência de propaganda precisando de redator experiente, com prêmios internacionais, me avise. É sério, não estou brincando. Obrigado. Para ir além ˘AtaRrO vEŽDe Sergio Faria |
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