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Sexta-feira, 13/6/2008 Blogueiros versus Jornalistas, o falso embate Alexandre Inagaki Blog é liberdade. Ninguém a não ser você tem o direito de interferir nas suas pautas, no tamanho dos seus textos, na freqüência de atualizações e principalmente nas suas opiniões. Seu blog é a sua TV Globo, a sua Folha de S. Paulo, a sua Reuters pessoal. Minha profissão oficial é de jornalista. Escrevi textos para publicações da Editora Abril e jornais tradicionais como o Correio Braziliense, e atualmente faço free-lancers para veículos como a Rolling Stone Brasil e o Itaú Cultural. Na condição de profissional contratado, é mais do que natural que eu me submeta a determinadas regras, entregando meus textos dentro de prazos pré-definidos e respeitando a limitação de caracteres. Faço entrevistas, saio à rua para buscar informações, procuro apurar cada dado que é impresso na matéria. Quando escrevo posts em meu blog, não deixo de lado o cuidado com as informações que publico (inclusive deixando links de referência das pesquisas que faço em cada texto). Mas aproveito ao máximo a liberdade editorial da qual só posso desfrutar em toda a sua plenitude no Pensar Enlouquece, escrevendo sobre qualquer assunto que me dê na telha, sem precisar me policiar quanto ao uso de gírias e palavrões e pouco me lixando para leads, deadlines, pirâmides invertidas e outras expressões comuns no vocabulário de qualquer jornalista. Por isso digo, sob a luz das minhas experiências, que manter um blog é um puta tesão. Quando soube de todas as queremelas e embates entre jornalistas versus blogueiros na Campus Party, que reverberaram em posts escritos por nomes como Henrique Martin, Michel Lent, Lalai, Ana Brambilla, Francisco Madureira, Gabriel Tonobohn, Edney Souza, Will Publi, Daniel Duende, Renata Honorato, Jonny Ken e Mr. Manson, meu primeiro pensamento foi: qual a razão de ser de tantos tiroteios trocados pra lá e pra cá por pessoas que compartilham a mesmíssima atividade de disseminar informações e trabalhar com comunicação? Mario Amaya e Henrique Martin falando sobre a última polêmica estéril do momento. Eu sinceramente já não tenho o menor saco para entrar em polêmicas que não têm razão de ser. Creio piamente que a tendência, em um futuro a curto prazo, está na convergência de mídias. Do mesmo modo que veículos tradicionais como o New York Times e a revista Newsweek contrataram blogueiros como Markos Moulitsas e Brian Stelter, tenho a convicção de que o mesmo ocorrerá por aqui, da mesma maneira que jornalistas consagrados como Ricardo Noblat e Luis Nassif seguiram a via inversa e revitalizaram suas carreiras criando blogs de ótima qualidade. Há espaço para todos, e eu só posso imputar ao gosto que as multidões nutrem por polêmicas inócuas todos esses embates maniqueístas digladiando duas atividades como o jornalismo e a blogagem que, muito longe de serem antagônicas, complementam-se uma à outra (vide os ótimos blogs do IDG Now e do RadarCultura na Campus Party). Também fico embasbacado com a maneira com que certas discussões são requentadas e acabam indo parar na mesma lenga-lenga habitual. "Monetização de blogs", "a polêmica dos posts patrocinados", "velha mídia versus nova mídia", blablablá. Reitero o que disse na primeira linha deste texto: blog é liberdade. Nada me soa mais antinatural do que a cagação de regras para uma entidade tão anárquica e descentralizada como a blogosfera. Que, diga-se de passagem, é uma e são muitas, como bem exemplificam os blogs de moda, de policiais militares, de eco-ativistas, publicitários, "miguxos", prostitutas, professores, escritores, yada yada yada. Blogs são meios de publicação como outros quaisquer, que podem e devem ser utilizados das maneiras mais amplas e diversas possíveis. Se você não gosta de ver posts patrocinados, abomina links de AdSense ou Hotwords ou acha escrota a atitude de um blog que não dá links para os outros, nada mais simples: deixe de ler determinado blog ou de assinar tal feed. Só. Não queira dar uma de paladino da moral e dos bons costumes, apontando seu dedo para este ou aquele blogueiro só porque ele pensa e age de maneira diversa da sua. Creio na capacidade de auto-regulação da internet. Um blog terá mais ou menos leitores de acordo com a credibilidade que ele será ou não capaz de manter junto aos seus visitantes. Refuto a idéia de que sejam impostas regras de conduta para a blogosfera da mesma maneira que teria ânsias de vômito caso alguém me propusesse a criação de um comitê de "notáveis" para decretar como deve ser a publicidade em blogs ou a participação na formação de um sindicato de blogueiros. Qual seria o próximo passo? Exigir diploma também para quem mantém um blog? Façam-me rir. Nota do Editor Texto gentilmente cedido pelo autor. Originalmente publicado em seu blog, o Pensar Enlouquece, Pense Nisso. Alexandre Inagaki |
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