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Segunda-feira, 18/8/2008 China, um lugar muito, muito distante Taís Kerche Num lugar muito, mas muito, mas muito distante daqui, chamado China, mora a maior população deste planeta. E neste país distante, tanto geograficamente, quanto culturalmente, delegações esportivas do mundo todo se encontram para disputarem as Olimpíadas 2008. Desde que me conheço por gente, ver as olimpíadas, para mim, sempre foi algo muito divertido. Isso não está necessariamente ligado ao fato de gostar de praticar esportes, muito pelo contrário, sempre odiei educação física e minha grande diversão era assistir aos jogos na escola e fora dela e dar a minha opinião sobre tudo e todos. Aliás, dar opiniões talvez seja o meu grande esporte. De quatro em quatro anos, quando as minhas férias do trabalho coincidem com as Olimpíadas, como está acontecendo este ano, lá fico eu em frente à TV tentando entender as modalidades esportivas. Do judô ao vôlei de quadra, presto atenção nas minúcias do esporte, suas regras, seus competidores e respectivas nacionalidades, as manifestações das torcidas e outras particulares. Procuro verificar de tudo um pouco e assim enriquecer meu repertório cultural. Decoro nomes de atletas que vão se destacando, verifico quadro de medalhas, procuro por notícias e fico de olho na cultura do país sede. Tudo com muita intensidade. Mas, é só passar uns seis meses, que já esqueci quase tudo. Depois de quatro anos então, nem lembro mais o país que sediou a olimpíada passada. Atenas já se misturou com Barcelona, que já se misturou com Sidney e assim vai. O que fica mesmo na memória são as características de cada país e suas culturas. A vontade de conhecer cada cantinho destes diferentes mundos, saborear suas comidas, dançar suas músicas, vivenciar seu dia-a-dia. As olimpíadas na Grécia, por exemplo, nos fez conhecer mais da história da própria olimpíada. Quase uma metalinguagem cultural. Os lugares onde foram realizadas as primeiras competições, a construção dos estádios de forma tão peculiar e característica. Podemos dizer que foi uma Olimpíada de grande personalidade, de grande teor histórico. Hoje, 2008, a China está levantando questionamentos que também ficarão na história. O seu crescimento econômico à custa de uma mão-de-obra muito barata, a sua repressão quanto à expressão livre de pensamentos, a produção de mercadorias piratas, o conflito com o Tibete e muitas outras questões. Através de jornalistas enviados, ficamos informados que a Pequim dos jogos está bem distante da verdadeira China. Que há um controle enorme por parte do governo chinês do que pode ou não pode ser veiculado para os outros países. A preocupação com sua imagem é grande e o controle sobre ela parece ser insuficiente, pois não há como controlar quase nada num mundo onde a informação é quase que instantânea, assim como os macarrões feitos por lá e por aqui. Pelo menos a imagem que tenho da China não é das melhores, a começar pela poluição de Pequim que chega a ser aflitiva para quem olha daqui, fico imaginando para quem está lá. Acordar e não ver um filetinho de céu azul, por dias e dias a fio, deve ser bem angustiante. Além disso, saber que muitos dos produtos hoje consumidos pelo mundo e por nós, são produzidos por mãos escravas, não é muito agradável aos meus olhos, ao meu bolso e minha consciência. Documentários veiculados na GNT, recentemente, mostraram as condições de trabalho de operários chineses, na maioria mulheres. E são deploráveis, lamentáveis. O crescimento da China hoje não é muito diferente do crescimento de países que enriqueceram às custas de suas colônias que tinham como mão de obra o negro escravo, no passado. Uma legislação trabalhista cairia muito bem nos estômagos chineses. Por mais que grande parte da população, que é realmente grande, tenha tido uma ascensão social significativa em tão pouco tempo, há uma outra grande parte, com números que beiram os bilhões, sem ninguém a recorrer. Além desses fatores políticos e sociais, durante as Olimpíadas ficamos por dentro das diferenças culturais. Repórteres de nossas TVs fazem questão de nos mostrar as peculiaridades chinesas. Uma delas que me deixou um tanto impressionada foi saber que lá, grilos e gafanhotos são considerados insetos de estimação. Assim como temos hamsters em jaulas, eles têm gafanhotos em gaiolas. Enquanto aqui comemos espetinho de camarão, por lá eles comem espetinho de escorpião. Enquanto lá eles dançam de forma sincronizada, perfeitamente coreografada, onde as atuações coletivas têm grande valor, aqui é cada um por si e as atuações individuais estão cada vez mais em alta. Um reflexo do pensamento cultural não é mera coincidência. O governo chinês visa sempre o bem coletivo, só será bom se for excelente para a nação. E nessa questão entre coletividade e individualidade, eu fico com minha atividade individual preferida, opinar sobre tudo e todos, esperando que o Brasil traga alguma medalhinha chinesa, para assim termos um souvenir olímpico, de preferência de ouro. E para nós não terá importância se a medalha virá de uma modalidade esportiva coletiva ou individual. Além disso, também fico de olho no quadro de medalhas para ver quem ficará na frente, o país sede dos jogos ou o império norte-americano, sem pensar numa metáfora sobre a liderança econômica mundial atual. Sigo também esperando por algum fato marcante, que diferencie esta Olimpíada das outras, como aconteceu em Atenas, quando um maluco, não lembro nem o nome e nem a nacionalidade dele, atrapalhou nosso corredor na maratona e o fez perder a liderança. Isso não quer dizer que desejo o mal a algum atleta, mas fatos como esses são inesquecíveis. Assim como a primeira medalha de ouro do nosso vôlei masculino, como as imagens de atletas que superam seus limites e como outros acontecimentos que fazem de cada Olimpíada, única. Mesmo que depois elas se misturem em nossas memórias. Taís Kerche |
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