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Terça-feira, 14/10/2008
Sobre política e políticos
Rafael Rodrigues

1 O que falar sobre as eleições? Que de dois em dois anos a história se repete? Qual história? Nossa história, ora: nós procurando alguém confiável e honesto para votar, feito quem procura agulha em palheiro, só para usar um ditado popular (rimou!). E aí ouvimos alguém dizer que não existe político honesto, que ser político virou sinônimo de vida fácil, uma maneira de ganhar um bom dinheiro sem fazer muito esforço etc. O pior é que é verdade. Não é isso que vemos no horário eleitoral: uma porção de gente que está doidinha para ser eleita e começar a mamar nas tetas do governo?

2 Mas, sim, é verdade: eu já quis ser político. Isso foi há um bom tempo, faz bem uns oito anos. E não tenho vergonha de admitir isso. Afinal, eu tinha as mais nobres intenções. Como eu disse: "Dos 17 aos 19 anos pensei no que faria de minha vida dali por diante. Ser historiador? Jornalista? Político? Sim, pensei na política. Foi no que pensei primeiro, aliás. Todo jovem é ingênuo, e eu já fui, um dia. Ainda sou, um pouco. Mas enfim. Quis ser político. Resolver os problemas da minha cidade, do meu estado, do meu país. Se não me engano, foi Rimbaud quem disse que não se é sério aos dezessete anos. Querer, aos 17 anos, ser político, é uma piada. Aliás, querer ser político é sempre uma piada, em qualquer idade".

3 As propostas dos candidatos são sempre as mesmas. Lutar pela educação, pela segurança e pela saúde. Mas sempre tem um ou outro engraçadinho que foge do padrão, do discurso cansado, batido. Vi no YouTube um que dizia mais ou menos o seguinte: "estou desempregado, doente, com a casa caindo aos pedaços e quero o seu voto para resolver os meus problemas". Acreditem ou não (eu mesmo me pego duvidando), o cara foi eleito, para vereador. E depois ainda concorreu ao cargo de deputado federal. Se eu fosse candidato, seria original também. Meu discurso seria mais ou menos o seguinte: "Meu amigo, minha amiga. Meus companheiros! Peço o seu voto não para lutar pela saúde, pela segurança ou pela educação. Não entendo nada de política, não farei projeto nenhum. Apoiarei alguns, tentarei barrar outros. Minha verdadeira intenção é servir de bode expiatório na câmara de vereadores. Sim, amigos, eu seria o dedo-duro, um espião. Eu ficaria de olho em todos os meus colegas e os denunciaria sempre que percebesse alguma irregularidade. Vote em Rafael, por uma política mais medrosa". Teria que deixar o discurso mais bonitinho, mas seria basicamente isso aí.



4 Engana-se quem pensa que corrupção é um mal apenas dos políticos. Bem capaz de aquele seu vizinho que tem um mercadinho ou lan-house ser corrupto. Até abril deste ano trabalhei em uma empresa de cartões de crédito. Minha função era a de analista de crédito. O cliente queria adquirir o cartão ― ou o arrastávamos para a cadeira e preenchíamos sua proposta meio que a contragosto (dele, claro) ― e, para adquiri-lo, era necessário fazer uma entrevista com ele. Ficávamos sabendo de tudo: endereço, estado civil, escolaridade, profissão etc. Alguns eram microempresários. Destes, não eram poucos os que afirmavam, numa boa, mas falando bem baixinho, que fazem o possível para não declarar imposto de renda. Ou declarar o mínimo possível. Isso é uma falta de respeito com as leis, com o País e com aqueles que poderiam ser beneficiados com o dinheiro que seria arrecadado deles (isso se os políticos corruptos não desviassem uma parte considerável da grana que entra nos cofres públicos). Mas como tem sempre alguém que consegue abrir um duto ou fazer um mensalão (ou mensalinho) com o dinheiro do povo, melhor mesmo que a arrecadação não seja maior ainda do que já é.

5 Sorte dos políticos eu não ter vontade alguma de me candidatar. Porque, se fosse eleito, tentaria aprovar um projeto que obrigaria os candidatos a passarem por uma espécie de triagem. Um treinamento à la BOPE. Não haveria necessidade de treinamento físico ― se bem que seria até interessante. O treinamento, basicamente, filtraria políticos que não têm boa oratória, não sabem o que significa a palavra "retórica", abusam dos erros de português e não leram pelo menos 10 livros sobre política em toda a vida. Nessa primeira etapa, mais da metade dos parlamentares seriam obrigados a pedir pra sair. Os restantes passariam para a segunda etapa, que consistiria em todos eles assistirem, amarrados em uma cadeira, a todas as sessões das câmaras do senado e dos deputados e a todas as sessões de CPI's feitas nos últimos 10 anos. Os que conseguissem sobreviver a isso passariam para a terceira etapa. Como essa hipótese, a de algum deles sair vivo depois desta sessão de tortura, é somente um devaneio, uma espécie de ficção científica, não me darei o trabalho de pensar em uma "terceira etapa".

6 Em A promessa da política Hannah Arendt diz assim: "E não podemos mudar o mundo mudando as pessoas que vivem nele ― à parte a total impossibilidade prática de tal empresa ― tanto quanto não podemos mudar uma organização ou um clube tentando, de alguma forma, influenciar seus membros. Se queremos mudar uma instituição, uma organização, uma entidade pública qualquer existente no mundo, tudo que podemos fazer é rever sua constituição, suas leis, seus estatutos e esperar que o resto cuide de si mesmo". Eu sei, eu sei, ela está coberta de razão. Mas não deixemos de fazer nossa lição de casa, por favor. Tentemos ser pessoas melhores todos os dias; quem sabe os que nos rodeiam não sigam nosso exemplo. Porque, se formos esperar por reformas políticas, desse atoleiro não sairemos nunca.

Rafael Rodrigues
Feira de Santana, 14/10/2008

 

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