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Terça-feira, 9/12/2008 O guia do consumidor de livros Rafael Rodrigues Vocês que me perdoem, mas preço de livro não é mais desculpa para quem gosta de ler. Quem reclama, penso eu, é porque não faz pesquisa de preços ou não conhece outras saídas a não ser a boa e velha livraria (física) de sempre. Nada contra elas, muito pelo contrário. É sempre bom freqüentar livrarias físicas. Muitas vezes só conhecemos determinados livros assim. Isso aconteceu comigo há alguns meses, quando fomos, minha noiva e eu, a Salvador conhecer a Livraria Saraiva de lá e encontrar um casal de amigos. Andando entre as prateleiras, Cássia viu algum livro que quis me mostrar. Quando olhei, bati os olhos em um outro livro, chamado Os magros. Nem acreditei quando vi. Os magros, romance do escritor baiano Euclides Neto, foi um dos primeiros livros que li por conta própria na faculdade, e um dos que mais me marcaram. Muito comparado a Vidas secas, de Graciliano Ramos (que, aliás, está completando 70 anos "de vida" este ano), Os magros é um romance que tem luz própria, apesar de ser notável a influência do autor alagoano. Da Saraiva, fomos para a Siciliano. Lá encontrei o livro A corrosão do caráter, do sociólogo americano Richard Sennett, que trata das interferências do trabalho na formação do caráter do ser humano (e de como tais interferências são/podem ser maléficas). É pouco provável que conseguisse encontrar tais livros navegando pelos sites de livrarias. Os títulos em destaque sempre são os lançamentos, e os títulos citados acima são um tanto "velhos", apesar de ambos terem sido reeditados em 2007. Os magros é de 1961, e a primeira edição brasileira de A corrosão do caráter é de 1999. Antes de voltar ao assunto deste texto, que é o preço dos livros e algumas dicas para fazer boas compras, é importante dizer que me refiro aqui a pessoas com uma situação financeira relativamente confortável ― são essas as pessoas que vivem reclamando do preço dos livros. Para famílias de baixo poder aquisitivo, realmente as reclamações são feitas com toda razão. Quem reclama sem motivo, na minha opinião, são pessoas que não pensam duas vezes antes de comprar um tênis ou uma calça jeans de quinhentos reais. Além disso, é bom deixar claro que meus argumentos se aplicam a livros de literatura (romances, contos, poesias etc.), geralmente mais baratos que livros da área de administração de empresas, por exemplo. Dito isso, eis o que um literato com sérias restrições orçamentárias (que é o meu caso e imagino que seja o caso de muita gente por aí) deve fazer: pesquisar bastante e, mais que isso, acompanhar as promoções ― mas monitorar mesmo ―, principalmente nas lojas eletrônicas. Boa parte de minha modesta biblioteca é composta por livros que comprei em saldões. Descobri essa maravilha, também chamada de "bota-fora de livros", na Bienal do Livro da Bahia, em 2005. Há um estande excelente, chamado Outlet, que vende livros, em sua maioria novos, por valores bem abaixo dos preços de capa. Verdade que às vezes há um riscadinho no livro, um amassadinho na lombada, mas nada escandaloso, vale a pena comprar. Foi depois da Bienal que descobri as promoções virtuais. Elas não são muito freqüentes, mas volta e meia tem alguma imperdível. Recentemente comprei quatro títulos da coleção Obra Jornalística, de Gabriel García Márquez, por R$ 9,90 cada. Três dos quatro livros custam mais de oitenta reais (cada um!). Outra dica importante para quem consegue esperar um pouco antes de comprar algum livro são as promoções de hipermercados e lojas de departamentos. Dá para encontrar muita coisa boa. É um tanto mais complicado de acompanhar os preços de tais estabelecimentos, porque é necessário visitá-los de tempos em tempos. Problema resolvido se você conhecer alguém que trabalhe na loja, por exemplo. Ou se a empresa tiver comunidade no Orkut. Importante também é se cadastrar nas lojas virtuais, mesmo que você não compre nada nelas, no ato do cadastro. É que elas sempre mandam e-mails avisando das promoções. Mas, mesmo tendo seu e-mail na lista deles, a monitoração e a visita a esses sites deve ser regular (mas, por favor, não se empolgue: só compre se você tiver certeza absoluta de que pode pagar). Verifique também quais livrarias e lojas possuem programas de pontos. Se você não sabe o que é isso, explico: a cada valor que você gasta na loja corresponde a uma quantidade X de pontos. Depois de algum tempo ― e de alguma grana dispendida, claro ― esses pontos são revertidos em descontos numa próxima compra sua. A Livraria Cultura, por exemplo, tem o programa Mais Cultura, que, além de dar descontos especiais aos afiliados, pratica essa idéia do acúmulo de pontos. Há alguns meses fui comprar somente um livro no site e, na hora de pagar, vi que ele me custaria apenas R$ 0,90 (o preço dele era de R$ 10,90). Ora, eu não iria gastar somente noventa centavos na Cultura. Faz até vergonha. Acabei comprando mais dois pockets books. O único porém dessas promoções é que quase não encontramos livros recém-lançados. Mas, para isso, há a opção das livrarias virtuais, que, em sua maioria, sempre dão, no mínimo, 20% de desconto e várias delas têm promoção de frete (nos últimos meses quase todas as grandes lojas estão fazendo entregas gratuitas para pedidos a partir de 49 reais). Enfim, opções há. Falta aos consumidores literatos um pouco do instinto de Indiana Jones, pelo que vejo. Mas nunca é tarde para correr atrás do livro barato perdido. P.S.: E não falei dos sebos, outra excelente opção para quem não tem muita grana para gastar com livros. Se na sua cidade não tem sebo ― ou se não tem um decente ―, na internet há o site Estante Virtual, que aglomera milhares de sebos de todo o país. Lá, é possível não apenas comprar livros usados por um preço camarada, mas também exemplares novos por preços bem mais em conta que os das livrarias, além de ser um excelente local para encontrar livros raros ou fora de catálogo. P.P.S.: Não falei também das pessoas que têm uma certa resistência em comprar via internet. Muitas dizem que não confiam, outras dizem que não sabem. Portanto, aí vão algumas dicas para saber se uma loja virtual é confiável: 1) Ver se ela tem lojas físicas e qual a reputação da empresa; 2) Procurar no Google ou até mesmo no Orkut opiniões de pessoas que tenham comprado nessas lojas; 3) Observar, no site, se há certificados de segurança, se a loja aceita cartões de crédito etc. Se depois de verificar isso você decidir comprar, não esqueça de ter certeza de que seu computador está seguro e, pelo amor de Deus, não faça compras com cartão de crédito em lan-houses, computador do trabalho ou máquina que você não confia. Aí, sim, é dar sopa para o azar. Rafael Rodrigues |
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