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Segunda-feira, 5/11/2001
Sinais de Vulgaridade
Alexandre Soares Silva

A onipresença de picapes e “utilitários”. No início, eu achava engraçadinho. É muita feiúra de espírito. Um Passat amassado (dos antigos) seria menos mal.

Qualquer carro que custe mais que R$40 mil. Carro excessivamente limpo. Braço pra fora da janela. Decalques engraçadinhos. Qualquer tipo de decalque.

Gente que diz “balada”. Gente que diz “na night”, ou “eu sou da night”, etc. Gente que atende o telefone e diz: “Belezinha?”. Gente que vai pra Cancun na lua de mel.

Criança com celular. Qualquer um com celular.

Gente que apresenta a mulher como “minha esposa”.

Serviços de atendimento de absolutamente qualquer empresa do mundo todo (“Pois não, senhor? Mas, senhor, isto é para que possamos estar enviando o Notification Card Two Thousand Two em seu domicílio ou lugar de sua preferência, senhor”).

As músicas “New York, New York” e “My Way”. Cantores: Andrea Bocelli (“aquele ceguinho que canta”), Sarah Brightman, Charlotte Church. Música popular italiana para gerentes de RH (Eros Ramazotti, Laura Pausini, etc ad nauseam).

A maneira com que as pessoas adoooram Elis Regina, e sempre assumem que você adora também (alguém coloca um CD da Elis Regina, uma mulher com copo de uísque na mão sorri pra você e diz: “A Elis é o máximo, não é?”)

Lilian Witte Fibe. Sim, porque ver a vulgaridade de gente como Hebe Camargo ou Angélica é fácil demais. Versão masculina: João Dória Jr. Qualquer um que use aquelas camisas azuis ou corderosa com gola branca.

Telefilme “baseado numa história real”. Filme de época com mentalidade moderninha. Filme em que o vilão é vagamente aristocrático, mas o herói é “gente como a gente” (ouvindo rock no walkman durante concerto chato, por exemplo).

Gente que escreve carta para jornal, pra “parabenizar” ou “felicitar” pela “sensível reportagem” que “enfoca o problema dos” etc etc.

Crítica que diz que tal filme ou livro “transforma o sonho americano em pesadelo”, e qualquer uma das variantes dessa frase.

Professores de cursinho, porque são “engraçadinhos”.

O santo padroeiro das pessoas vulgares: Ayrton Senna.

O esporte mais vulgar: Fórmula Um. É o esporte nacional dos gerentes barrigudos que se cumprimentam de longe gritando: Graaaande Armandinho! Graaaaande Roberval! Sinceramente, até campeonato de aeróbica é melhor.

Cultura de bar. Figuras folclóricas “da noite”. Jornalistas esportivos. Poesia de jornalista da Globo (ai, que bonito).

“Homens de Marketing”. Aliás, a própria palavra “Marketing”. Diga: vendas.

Gente que diz “players” quando quer dizer concorrentes, e “líder” quando quer dizer chefe.

A seção O QUE ESTOU LENDO na Veja (mas é engraçado). A Veja toda, é claro.

Aqueles homens broncos de 60 anos que vão na padaria de sandália e acordam cedo pra ver programa agrícola na TV e lavar o carro, e que tem livros como “Rommel, a Rapôsa do Deserto”(sic) e “Heróis Esquecidos da FAB”. Ah, sim: eles admiram Mussolini porque “os trens sempre chegavam no horário”.

Madame de rosto esticado que diz: “Gente do nosso nível...”. Qual, Madame?

Air guitar.

Igrejas em que senhoras entusiasmadas balançam os braços ao som de violão.

Momento de vulgaridade paroxística: você foi convidado para jantar por um casal recémcasado, quando de repente percebe que os talheres são do Castelo de Caras! (Isso porque você já tinha fingido que não tinha visto o poster de Nova Iorque na sala.)

Livros de etiqueta. Gente que arrota e pede desculpas (soltar pum e pedir desculpas depois pelo menos é engraçado). Gente que manda cartão de agradecimento por qualquer coisa.

Alexandre Soares Silva
São Paulo, 5/11/2001

 

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