|
Quarta-feira, 7/1/2009 A crise de 2008 Gian Danton 2008 foi o ano da crise, uma crise financeira tão profunda e tão grave que, na opinião de alguns, é equivalente ao crash de 1929. Essa crise parece ter sido não só na economia, mas no meio-ambiente e até mesmo na cultura. No Brasil, tivemos a tragédia em Santa Catarina, que matou dezenas de pessoas e deixou milhares sem casa. Muitos cientistas dizem que os acontecimentos de Santa Catarina estão diretamente relacionados ao aquecimento global, que foi tema da minha primeira colaboração com o Especial de final de ano. Em 2005, o destaque era a seca do rio Amazonas, agora é a enchente em Santa Catarina. Nesses quatro anos, a situação do aquecimento global só piorou e pouca coisa foi feita de concreto para reverter a situação. A Amazônia foi mais devastada do que nunca e Bush ainda continua com sua política de ignorar tratados, como o Protocolo de Kyoto. ![]() Na área de quadrinhos, tivemos a morte de três grandes mestres brasileiros: morreram Gedeone Malagola, Cláudio Seto e Eugênio Colonnese. Malagola criou um dos mais famosos super-heróis brasileiros, o Raio Negro. Entre histórias de super-heróis, de terror e até infantis, ele escreveu ou desenhou mais de duas mil histórias. Colonnese era italiano, mas radicou-se no Brasil na década de 1960, onde especializou-se em histórias de terror e guerra, embora tenha emprestado seu traço aos mais variados gêneros. Sua personagem Mirza é considerada a primeira mulher-vampiro dos quadrinhos, sendo anterior, inclusive à norte-americana Vampirella. ![]() Mas nem tudo está perdido. Barack Obama foi eleito presidente dos EUA (e espera-se que ele seja em tudo oposto a Bush) e 2008 até que teve alguns destaques positivos em termos culturais. O primeiro que nos vem à mente é o ótimo filme Batman ― O Cavaleiro das Trevas, de Christopher Nolan. Não é a melhor adaptação de uma história em quadrinhos. Esse posto é disputado pelo Superman de 1978, de Richard Donner e pelo Homem-Aranha 2, de Sam Raimi. Mas O Cavaleiro das Trevas levou os filmes de super-heróis a um novo patamar, inclusive psicológico, tornando-se, desde já, um clássico. ![]() Outra boa iniciativa de 2008 foi a coleção Cinemateca Veja, uma coleção tão boa quanto a revista é ruim. De fato, apesar do arroz de festa Titanic, a coleção traz filmes que merecem ser assistidos, que marcaram profundamente a indústria cinematográfica. Para mim foi uma surpresa redescobrir A morte pede carona, escrito por Eric Red, com direção de Robert Harmon. Para quem nunca assistiu ao filme, é a história de um garoto que dá carona para um psicopata e, quando vai ser morto, o empurra na estrada. Ele continua normalmente a viagem, até ver um carro passar por ele com uma família. O desespero toma conta do rapaz ao descobrir que o psicopata está lá dentro, no banco traseiro, brincando com as crianças. Ao tentar avisar o motorista, ele quase bate num ônibus. A sequência em que o rapaz encontra o carro da família é uma aula de cinema. Um plano mais aberto o mostra olhando para o vidro e depois a câmera dá um plano detalhe no tênis do garoto, com o sangue pingando nele. A partir daí, o garoto passa a ser perseguido pelo psicopata num jogo de gato e rato que nunca acaba. Assisti a esse filme quando era jovem e, por essa razão, ele ficou na minha mente como um thriller adolescente. Ao assistir novamente, percebi que A morte pede carona é um curioso estudo psicológico de uma relação doentia. Até hoje, muitos anos depois, impressiona. A coleção ainda traz vários outros filmes obrigatórios, como Um convidado bem trapalhão, humorístico campeão das sessões de sábado na Globo, e que um figurante indiano (Peter Sellers) destrói uma festa de grã-finos. O filme junta hippies, protestos, um elefante pintado, espuma, um banheiro sendo destruído... Caramba, hoje em dia um filme desses nunca passaria do projeto. ![]() No cinema, 2008 trouxe ainda duas boas surpresas. A primeira foi a volta de M. Night Shyamalan, com Fim dos Tempos, que parece ter reaprendido a fazer bons filmes de suspense depois do fiasco de A dama da água. Outro foi Wall-E, a mais recente animação da Pixar-Disney, um belíssimo filme. Curiosamente, tanto Wall-E quanto Fim dos Tempos falam do mesmo assunto: da crise ambiental provocada pela poluição e destruição da natureza. Quem sabe os livros de história, no futuro, digam que a grande crise de 2008 não foi econômica, mas ambiental... Gian Danton |
|
|