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Quinta-feira, 5/2/2009
Governo retrógrado, caranguejo ou ximbica?
Valdemir Martins

Todos se lembram do fantástico crescimento dos chamados Tigres Asiáticos há alguns anos, o que garante a países como Índia, Coréia do Sul, Indonésia e Vietnã, fôlego ainda nesta massacrante crise global. Esses países sobreviveram e sobressaem, após destrutivos conflitos sociais e guerras arrasadoras, graças a inteligentes investimentos feitos em seus países por governantes com visão de futuro, forte nacionalismo e extraordinário feeling com relação à educação de seus povos e às pesquisas tecnológicas. São nações hoje com singular domínio do que devem fazer perante esta colossal crise econômica que arrasta poderosos estados em suas marés. Os tigres tornaram-se gatos, mas não foram para o frigorífico. Como felinos, são espertos o suficiente para manterem suas diretrizes equacionadas de crescimento econômico-social.

Na contramão dos felinos asiáticos, os vira-latas latino-americanos, comandados pela trupe Morales/Lula/Chavez, com o indefectível lastro insular da família Castro, estão mais preocupados com suas imortalidades e perpetuação de suas espécies. Aqui nos lados tupiniquins e tupinambás, as marolinhas do Lula estão se transformando em autênticos tsunamis, graças a uma visão extremamente oblíqua das hostes econômicas das profundezas pantanosas do PT com relação à crise mundial. Como tudo neste país se torna verdadeiro após o Carnaval, aguardem, então, as avalanches.

E o que faz este Governo? E o que faz, além de ameaçar, punir empresas que precisam demitir ou negociar empregos para sobreviver? E o que faz, além de tentar preservar empregos na construção civil e no setor automotivo ― maiores empregadores nacionais ― com o inescrupuloso e indissimulável foco na eleição presidencial de 2010, tentando garantir os votos desses trabalhadores? Simples resposta, que está na mídia: burocratizou a importação de produtos estratégicos para a nossa economia e baixou um bloqueio retrógrado no Orçamento da União. Privilegiando somente os setores estrategicamente políticos e as obras do PAC ― a suja bandeira da campanha presidencial do PT ― em detrimento da Educação, da Cultura, do Turismo, do Esporte, do Meio Ambiente e da Tecnologia.

Quando assumiu seu primeiro mandato, Lula não teve a coragem de efetivar suas promessas de campanha, principalmente no que diz respeito à política econômica. Manteve ― e também nisso ele foi esperto ― a cartilha criada desde o governo Itamar, pela equipe formada e liderada por Fernando Henrique, responsável inclusive pela criação do Plano Real que, afinal e apesar de tudo, deu certo. A equipe de Lula soube gerenciar a economia, então, sob a égide da cartilha e se deu bem, colhendo continuamente só os louros e assumindo indecorosamente como trabalho seu. Porém, a falta de visão, previsão e competência na gestão das coisas públicas levou-os agora, numa situação inusitada, não prevista na cartilha, a meter os braços pela calças.

Comecemos com a recente nota, sim, nota, baixada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior com novas medidas burocráticas para a entrada de produtos no país, as chamadas importações. Só que esse governo o fez no susto do desequilíbrio negativo da balança comercial, pois nem isso conseguiu prever. Após a avalanche de críticas empresariais e de respeitáveis economistas, o Ministério justificou com a seguinte expressão oficial: "trata-se de um procedimento usual no comércio internacional para fins de monitoramento estatístico". Não deu vinte e quatro horas e o mesmo Governo voltou atrás, suspendendo a nova regra de importações. Pelo menos para isso teve bom senso, pois, se não o fizesse, começaria a faltar matérias-primas para produtos brasileiros destinados à exportação, a inflação seria facilitada e a balança comercial quebraria de vez. Um belíssimo exemplo de "tiro no pé" para se usar em conversas e até em aulas e palestras. Aproveite que o Governo lhe deu essa chance.

Por outro lado, como se não fosse já o suficiente, o Ministério do Planejamento acaba de cortar "preventivamente" R$ 37,2 bilhões do Orçamento da União para 2009. Os gastos com investimentos foram os mais atingidos. Passaram de R$ 48,2 bilhões para R$ 33,5 bilhões, mas o governo faz questão de dizer que a menina dos olhos do PAC está preservada. As pastas mais prejudicadas foram as do Turismo e do Esporte, com cortes respectivos de 95,6% e 94,5%. A pasta do Turismo é um simples cabide de empregos e o Governo não tem a hombridade de assumir que neste país o Turismo pode ser um grande arrecadador de divisas. Tanto não tem visão que até bem pouco tempo a blue eyes Marta "Relaxa e Goza" chefiava esse Ministério, por absoluta conveniência política e não por se tratar de um setor economicamente estratégico. O Esporte, apoio e interesses empresariais à parte, para o Governo, é pura diversão.

Num momento onde o mundo e até o novo governo norte-americano estão preocupados com a preservação ecológica, Lula cortou 79% do orçamento do Ministério do Meio Ambiente, que já vive com pouco dinheiro e muito barulho. Seu Ministro arrulha como uma pomba. E só, pois os desmatamentos ilegais na Amazônia apenas diminuíram também em função da crise, e não pela ação do pombo. E o pior, este Governo reduziu a verba para Ciência e Tecnologia, setor onde o mundo hoje tem aumentado o investimento, exatamente como uma das armas para sair da crise, com inovação.

As projeções de queda da arrecadação tributária e de um crescimento econômico menor para 2009, não visíveis para esta turma governamental na época em que anunciaram a "marolinha", fez agora seus integrantes borrarem as calças com medo do que vem por aí ­ e com o frio no estômago de perder as eleições. A ponto de seu titular não ter a visão de estadista para investir no futuro da nação brasileira. Seu investimento único e exclusivo, a exemplo dos irmãos Castro, de Hugo Chavez e de Evo Morales, como já disse, é da perpetuação. Assim, continuaremos a ser os vira-latas, enquanto os gatos asiáticos, sem dúvidas e sem tropeços, voltarão a ser tigres.

Valdemir Martins
São Paulo, 5/2/2009

 

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