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Segunda-feira, 16/2/2009 Genialidades múltiplas Marcela Tullii Passeando pelo site da BBC, me deparei com uma notícia informando que quadros de uma menina de dois anos seriam expostos em uma respeitável galeria na Austrália. Os pais da "artista mirim" acreditam que a garota é um prodígio. Será?!? Um prodígio nada mais é do que um gênio que expressa suas habilidades já na infância. O que leva à outra questão: o que seria um gênio? Tradicionalmente, entende-se por gênio aquele que tem uma capacidade intelectual muito acima da média. Pessoalmente, acho categorizações extremamente complicadas. Explico-me. Aceita-se amplamente hoje a existência de diferentes tipos de inteligências, não somente aquela antiga noção de inteligência lógico-matemática mensurada pelo Quociente de Inteligência (Q.I). Existem pelo menos sete principais tipos ― inteligência artística, emocional ou intrapessoal, linguística, interpessoal, corpóreo-cinestésica, lógico-matemática e visual-espacial. Então, a meu ver, qualquer pessoal com uma habilidade exacerbada em qualquer um desses campos poderia ser chamado gênio. Toda pessoa é especialmente boa em algum desses campos de capacidades. Então não poderia ser essa especial aptidão seu talento? Acho que é possível dizer que sim, que todos temos um talento, sendo esse o tipo de inteligência mais desenvolvida em cada um de nós. Gênio então seria, nessa visão, uma pessoa que tem seu talento, em comparação com outras pessoas com o mesmo tipo de inclinação, notadamente mais pronunciado. Nesse tipo de genialidade eu acredito. Existem, pois, tipos diferentes de gênios, já que existem inteligências múltiplas. Essas pessoas sempre existiram e estão por toda parte: em nosso círculo de amizades, em nosso trabalho, faculdade, em nossa família. O que acontece é que os gênios lógico-matemáticos e artísticos são mais raros e mais reconhecidos como tais pela sociedade. Eu já conheci grandes talentos nessas áreas, mas não sei se já cheguei a conhecer esses tipos de gênios. Porém, creio já ter conhecido gênios linguísticos, intrapessoais e interpessoais. Pessoas com astronômico talento para línguas, para o autoconhecimento e controle e para lidar e motivar outras pessoas. Quem assistiu às CPIs das quais Marcos Valério participou, em especial a CPI do Mensalão, ou apreciou os discursos e risadas de Paulo Maluf nos últimos debates para a prefeitura de São Paulo pode concordar comigo que talvez eles sejam gênios intrapessoais. Quantos de nós conseguiríamos nos manter tão calmos, serenos, quase impenetráveis diante de tanta pressão, gritos, olhares mortais e acusações graves como eles? Aposto que pouquíssimos. Esse é um tipo de genialidade menos reconhecida e tradicional, porém acredito ser um tipo. Como tudo, o conceito e entendimento de "gênio" mudou ao longo do tempo. Essas pessoas foram reconhecidas diferentemente em cada período histórico, de acordo com os valores e preceitos de cada sociedade. Muitos artistas foram reconhecidos apenas anos após sua morte, pois o que expressavam não correspondia às suas gerações, mas, sim, às futuras, pelas quais seriam ovacionados. O mesmo ocorreu com médicos, cientistas, literatos. Podem ser considerados "gênios incompreendidos", mas na verdade só estavam muito a frente de seu tempo; mais tarde seriam compreendidos. O espaço para essas pessoas também passou por transformações. Na antiguidade, o "ócio criativo" era um valor para os privilegiados e a escravidão; dando aos mais ricos tempo livre para pensar, possibilitava aos escolados maior período de reflexão sobre o mundo. Hoje, o "ócio criativo" é quase entendido como preguiça. "Filosofar" sobre a vida, entendendo-se esse termo como concentrar-se na área acadêmica de pesquisa, é mal-visto pela sociedade. Os considerados bem-sucedidos de hoje são os executivos workaholics, que fazem dinheiro, não descobertas ou criação de novas correntes do pensamento. Ter um filho que estuda administração é mais glamoroso do que um filho aspirante a filósofo. Isso fez surgir uma situação característica do século XX que continua presente neste século XXI: o enfoque no "self-made man", aquele homem comum, que se esforça e agarra oportunidades e faz valer o seu talento, ao passo que o gênio, muitas vezes por ter grande facilidade, não se esforça tanto; ou, por voltar-se para uma área menos valorizada pela sociedade, é, via de regra, ignorado. Isso leva a pensar que os gênios de outrora eram "mais iluminados" dos que o de hoje. Afirmar isso é não entender as novas circunstâncias e morais que regem a contemporaneidade e não levar em conta os tipos de gênios que escapam a definição clássica. Os gênios continuam sendo cultuados e de extrema utilidade. São essas pessoas no final da "curva do sino" que, com grande domínio de uma inteligência, estabelecem diretrizes de correntes de pensamento, novas tendências, movimentos artísticos e realizam as grandes descobertas na e para a sociedade. São elas que criaram as idéias de uma época e que serão lembradas como as grandes mentes notáveis, estabelecendo-se como os ícones de que tanto necessitamos nós humanos. Marcela Tullii |
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