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Sexta-feira, 27/2/2009 Eu + Você = ? Ana Elisa Ribeiro Desde que nascemos, escutamos muitas coisas a respeito das relações com o "sexo oposto" (vejam só que expressão curiosa!). Mais influentes do que as histórias que escutamos são as que vemos e vivemos. Nas relações entre tios, pais, vizinhos e amigos temos alguma noção e até fazemos julgamentos sobre o que seja um namoro, uma paquera, uma abordagem afetiva ou um casamento. As relações de amor e poder que vivemos em casa talvez ajudem a definir (e a desdefinir) o que faremos e seremos quando constituirmos nossos lares, que talvez nem cheguem a ser isso. Nossa propensão ao desleixo, nossa tendência ao desarrazoado, nossa vontade de sexo, nosso infinito respeito ao outro, nosso jeito de pedir, nosso modo de ser a dois estão ligados aos modelos que tivemos. Essas histórias presentes e futuras não vêm do nada. Elas são embrionárias em histórias passadas que terminaram por nos unir ou desunir, por nos tornar menos ou mais passíveis de amor, de abordagens, de vínculos. Não estávamos, no entanto, determinados a ser bons ou maus amantes. Estávamos influenciados, de alguma maneira. Ainda bem que é possível aprender, gostar e melhorar. Sabemos, no entanto, que é necessária uma força muito intensa para que isso ocorra. Conheço gente que mudou muito com o tempo. Largas décadas foram necessárias para que aquela agressividade imensa fosse dissipada e se tornasse uma paciência quase inacreditável. Sei de gente que passou a se cuidar mais e melhor, barba, cabelo e bigode, para agradar a parceira. Ela, por sua vez, deixou de lado umas picuinhas e ficou mais doce. Sei de gente que arranjou emprego, voltou a estudar, passou no concurso, mudou de endereço, deu uma guinada na vida, só para acompanhar uma pessoa que valia a pena. Esta pessoa, por sua vez, também se influenciou pela outra, claro. Não é um julgamento consciente, muitas vezes, que leva alguém a fazer tudo isso, mas uma vontade que brota de uma relação que tem sido boa. Não quero dizer que as pessoas devam mudar de personalidade só porque estão namorando. Nada disso. Quero dizer que relações saudáveis e boas fazem a gente mudar (para melhor). Relações que dão certo (ao menos por algum tempo) e nos provocam alterações saudáveis são muito importantes, podendo até mudar nossas vidas para sempre, ainda que a relação se acabe um dia. Vou falar de mim por falta de alguma experiência extracorpórea, mas acho que outras pessoas vão poder se enxergar nestes exemplos (que até podem ser ficção). Namorei pessoas que não me fizeram a menor diferença. Só pude enxergar neles o que eu não queria. Ainda assim, vejam, isso pode ter sido bom. De outro lado, penso que a experiência deles comigo talvez os tenha mudado de algum modo. O que sei é que, depois de mim, tomaram atitudes que os tornaram mais responsáveis, respeitosos, respeitáveis, se casaram e tiveram seus filhos. Certamente, a interação entre as pessoas surte efeitos muito peculiares. O efeito de juntar A e B é único. Não se tem a mesma relação duas vezes. Nem duas vezes a mesma relação. O que provoco em alguém pode ser bom ou ruim. O que uma pessoa provoca em mim é singular e nossa relação pode resultar em um efeito muito bacana, como também pode ser algo tremendamente ruim para ambos. Por mais que dê na gente aquela vontade grande de pôr a culpa no outro quando o namoro está péssimo, é preciso deixar isso de lado. O namoro não funciona entre os dois, mas cada um sabe de si. Se não entraram no namoro juntos, então que saiam e encontrem parceiros que reajam melhor ao modo de ser do outro. Não é assim tão simples. Se fosse fácil terminar relacionamentos, muito mais gente já estaria disponível pela cidade. Dá medo, dá solidão, dá angústia, dá pena. Dá dúvida, dá medo de se arrepender, dá certa pena de jogar uma história fora, dá raiva. É tão mais simples e econômico quando dá certo! A energia gasta em uma relação é tão cara e vital. Mas nem sempre é possível desfazer desgostos e mágoas. E então é preciso romper. E a decisão pode demorar a ser tomada. Assim como a ação pode demorar ainda mais. Dizem as más línguas que os homens não gostam de dar cabo dos relacionamentos. Contam por aí que eles preferem provocar o rompimento. Levam a situação ao limite, até que a parceira resolve detonar tudo. Traem, se deixam perceber desatentos e infiéis, destratam, deixam de conversar, desligam. A moça, enciumada e nervosa, passa a vigiar, perseguir, espionar, até quase ir à loucura. Explode e termina. Antes que os homens me condenem à forca, vou dizer: é claro que isto é um estereótipo. Sei de homens bem mais sinceros e corretos do que esses aí. Contam também que são as moças que gostam de discutir a relação, que querem sempre deixar tudo em pratos limpos, que gostam de saber das coisas que atazanam seus parceiros, que se cuidam bem só para se sentirem sempre desejadas. Quando as moças começam a achar que há algo de errado, elas conversam com as amigas, com a mãe, com amigos gays e então tentam resolver a situação. Tentam uma negociação primeiro, testam, vivem mais um pouco a relação, até que se decidem pelo rompimento, do qual elas mesmas cuidam. Se bobear, ainda juram que podem ser amigas do ex-parceiro. Mais estereótipos, claro. Namorei pessoas que me fizeram uma diferença danada. Mudaram minha vida, me tornaram melhor, me levaram a fazer escolhas acertadas, me ensinaram (sem uma palavra!) a ser mais responsável, mais ágil, mais correta, mais sociável e até mais carinhosa. Não me deram aulas de etiqueta. A simples convivência com um ou outro me trazia enormes benefícios. Antes de qualquer outra coisa, era bom admirar. A admiração é um elemento importantíssimo nas relações e nem sempre aparece na lista dos itens responsáveis pela união de um casal. Aparece amor em primeiro plano, aparece amizade, aparecem parceria, cumplicidade, desejo sexual, beleza, alegria, inteligência, sinceridade, cuidado, entre outros substantivos, mas nem sempre a admiração está lá. Namorei gente muito admirável. O amor nem sempre era capaz de segurar uma relação, mas a admiração que eu sentia era. Ou será que aquela profunda admiração era amor? O desejo sexual já não sacudia o namoro, o carinho já era raro, a beleza já se desgastara, mas a admiração estava lá. É pena que tudo se transforma e dificilmente algo dura para sempre. Ou melhor: ainda bem que isso acontece. O que é preciso é ter olhos para notar quando as coisas mudaram e preferir sempre o melhor que as relações podem dar. Nota do Editor Leia também "Como esquecer um grande amor". Ana Elisa Ribeiro |
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