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Quinta-feira, 4/6/2009 Seguindo com arte Taís Kerche Antes de surgir o Twitter, indo mais pra trás, mas muito mais pra trás, antes mesmo da criação da roda, os seres humanos seguem alguém ou são seguidos. Só somos o que somos porque alguém começou a ser. Admiramos, nos inspiramos, imitamos e, em alguns casos raros, transcendemos. Nos espelhar em alguém ou nos alimentar dos feitos de alguém é algo natural e intrínseco. Não poderia ser diferente com a minha pessoa. Desde que me conheço por gente, tenho seguido pessoas e me inspirado em muitas. Beirando os trinta anos, acredito ter um repertório bacaninha para eleger os dez mais. Tarefa difícil, árdua e pesada. Pois há gente boa demais por aí. Só no Twitter, sigo 129 seres. Alguns por admiração, outros por curiosidade e outros por pura busca de informações, para me manter "antenada". Há muitos outros que gostaria de seguir, mas acredito que não estão dispostos a esta tecnologia, como, por exemplo, o Saramago. Dentre os escritores, José Saramago me faz querer ler toda a sua obra. Ele me desafia com sua narrativa densa, de períodos longos, cheios de vírgulas e diálogos entre personagens diferenciados apenas pela letra maiúscula no início de cada fala. Me pergunto: se Saramago estivesse no Twitter, como ele lidaria com os 140 caracteres? Mas ele não está tão distante assim da tecnologia. O escritor possui um blog, o Caderno de Saramago, que eu sigo por RSS, com grade afinco. No ano passado, quando soube que o escritor português estaria em terras brasileiras para lançar A viagem do elefante, seu último romance, fiz de tudo para conseguir estar presente no Sesc Pinheiros e seguir por alguns minutos seus passos e suas ideias no palco do Teatro Paulo Autran. E no teatro também tenho as minhas preferências. Sigo alguns dramaturgos. As montagens de Antunes Filho, com suas alegorias, me fazem sair de casa e adentrar o teatro de peito aberto para decifrar cada imagem composta por ele. É sempre bom ver um Nelson Rodrigues no palco de Antunes, como aconteceu com Senhora dos Afogados no ano passado. E no teatro também estou começando a seguir Marcelo Rubens Paiva, além de segui-lo no blog. Depois de ter visto No retrovisor duas vezes, pretendo não perder mais nenhuma de suas peças ricas em reflexões sobre relacionamentos. No caso de No retrovisor, era a amizade o tema central. Como pano de fundo, a década de 80. E estou preparadíssima para assistir A noite mais fria do ano que voltará em cartaz em breve. Por falar em Marcelo, sigo com todo afinco Marcelo Tas, no Twitter, no blog, no CQC. O sigo por pura admiração com seu jeito de pensar, se comunicar e fazer jornalismo. No Twitter, mais de 50.000 seguidores. Eu não poderia ser diferente. Marcelo Tristão Ataíde de Souza fala a nossa língua. Do Ernesto Varela, passando pelo Professor Tibúrcio e agora como homem de preto no polêmico Custe o Que Custar. Aliás, programa pelo qual nutro uma paixão que me faz ser muito parcial em minhas opiniões. Voltando às pessoas que sigo e no clima "CQCiano", no Twitter me divirto com a acidez de Rafinha Bastos, que expande sua arte de insultar além dos palcos, diariamente me fazendo rir. Seus comentários são dignos de vários RTs (retwitters). E a arte de insultar é para poucos. No cinema, o diretor dinamarquês Lars Von Trier faz isso muito bem, com grande maestria. Faço questão de me dirigir ao cinema mais próximo quando sei que um dos seus filmes está em cartaz. Acredito que ele seja um dos cineastas que mais toca nas feridas do ser humano, e eu gosto disso. As imperfeições precisam ser relatadas sempre que possível e de todos os ângulos. Em Manderlay, Von Trier aborda a questão racial e suas crueldades na época da escravatura. Ele mostra as fragilidades, crueldades e podridões humanas tanto do lado escravocrata quanto do lado escravo. Dizendo em letras garrafais que ninguém é tão injustiçado assim, há sempre uma parcela de culpa nos dois lados da história. Outro cineasta que consegue transpor para as telas histórias com um cunho social grande e que me instiga bastante é Fernando Meirelles. Ele reflete na tela exatamente o que eu gostaria de fazer caso fosse cineasta. Pretensão que tive um dia na vida, mas que não deu certo. Desde Domésticas até a adaptação de Ensaio sobre a cegueira, de Saramago, vi todos os seus filmes na telona, inclusive Cidade de Deus, mais de uma vez, confesso! E mais de uma vez adentrei teatros e casas de shows para ver e ouvir Ney Matogrosso. Desde que conquistei uma independência financeira, adquiro ingressos para seus shows com uma alegria estonteante, pois é um alimento para a alma, para o corpo, inclusive o coração e o cérebro. Seus shows, com temas bem definidos, focados em artistas da música brasileira ― como Cartola e o Chico Buarque ― ou focados em um tipo de música ― como no Canto em qualquer canto, em que ele é acompanhado apenas por instrumentos de corda, viola, violão e violoncelo ―, fazem a diferença e inspiram a nos aprofundar naquilo que gostamos até esgotar todo o conhecimento. E faço exatamente isso com o artista que está no topo da minha lista de artistas pelos quais tenho adoração: Chico Buarque. Eu e mais uma grande porcentagem da população feminina mundial e algum público masculino considerável. Tenho certeza de que o seguimos completamente às cegas. Entre um CD e um livro, ou vice-versa, lá estamos nós em shows, palestras, lançamentos. Todos os livros lidos, CDs escutados e suas músicas dissecadas até o entendimento total de suas letras. A riqueza nas letras nos faz entender o mundo ao nosso redor. Sentimentalmente, culturalmente, historicamente. E não é exagero, basta folhear livros dedicados à análise de suas obras. Se acha que já conhece tudo, ainda há muito, mas muito a conhecer. Me alimento de Chico Buarque quase todos os dias, para pensar melhor, escrever melhor e sentir melhor. E, para finalizar essa lista dos dez mais, o último a quem sigo é meu coração. Pode ser piegas, mas é verdade. Não o escute, não o siga para ver o que acontece! A vida não anda e, se anda, pega o caminho errado. Taís Kerche |
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