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Segunda-feira, 28/12/2009
Avatar e um mundo novo
Daniel Bushatsky

Vivemos em uma época estranha. Enquanto os líderes mundiais estavam reunidos em Copenhague para discutir uma nova agenda mundial de combate ao aquecimento global, substituindo o Protocolo de Kioto, um proeminente professor da MIT (Massachusetts Institute of Technology) publicava artigo no The Wall Street Journal com o título: "The Climate Science isn't settled ― Confident predictions of catastrophe are unwarranted" (a tradução seria algo próximo de "A ciência do clima não está decidida ― Previsões de catástrofe garantida são injustificáveis").

O autor do artigo explica, entre outras coisas, que o CO2 não é o grande responsável pelo aumento da temperatura da terra, que, por sinal, desde o século XIX só aumentou 1,5 graus fahrenheit. Para completar, o aumento não pode nem ser provado, haja vista que as bases de registro no século XIX não são confiáveis.

Os fatos continuam estranhos quando lemos que a COP 15 foi um fracasso, já que os países ricos estavam mais interessados em proteger a si mesmos (grande novidade) e a presidente da conferência nem disfarçava sua indiferença ― Connie Hedegaard, ministra do Meio Ambiente da Dinamarca, teve que renunciar após duras críticas dos países participantes, que a acusaram de estar privilegiando países ricos nas negociações. E, para completar, o melhor comentário, vibrem, foi do presidente Lula, quando afirmou que os líderes atuais serão lembrados como os: "dirigentes que foram incompetentes para salvar o planeta enquanto era possível". Não é incapaz!

Em outra seara, os fatos também estão esquisitos. O Bradesco já tem barcos para dar crédito aos indígenas na Amazônia. Não sou contra. Pelo contrário, acho o crédito essencial para o crescimento do Brasil, mas, que é esquisito, é. Até porque mal começou e já tem gente reclamando ― com certeza, os pequenos agiotas.

Caminhando pelas esquisitices, quero falar sobre os estranhos seres de Pandora, planeta fictício de um dos mais belos filmes que já assisti: Avatar.

Primeiro, o modo como James Cameron, diretor do longa, aborda temas sérios e reflexivos, em clima de ficção científica, com amor e seus sacrifícios, é sinérgico.

A caixinha de surpresa está mais para os sentimentos que o filme desperta junto com suas mensagens subliminares do que pelos estranhos animais que habitam Pandora.

Frases rápidas e ditas como pano de fundo falam sobre a cobiça humana, a escassez de riquezas materiais, o capitalismo e o papel do acionista nas empresas modernas.

Discussões como essas aparecem quando o gerente da empresa que banca o empreendimento extraterrestre topa matar os habitantes deste planeta a fim de conseguir minérios que valem bilhões de dólares. Vale um parêntese para comentar que este minério calharia bem ao Brasil: com ele é possível resolver o problema de energia da terra.

Quando o gerente resolve levar a cabo o sanguinário plano do general mercenário, a cientista eco-chata lhe apela para mudar de ideia. A resposta vem em forma de pergunta: e o que eu faço com os acionistas que bancam, inclusive, seu salário?

Tudo muito real e passado de tal forma que o espectador se comove e torce pelos estranhos animais desta terra desconhecida. Bem que eles precisavam de uma COP 15 para resolver o problema.

Mas não é só isso que o filme trata. Enquanto um padre anglicano prega para fiéis roubarem de grandes varejistas, porque o preço será repassado para os mais ricos mesmo (quanta decência, não?), o filme tenta demonstrar que destruir um povo por causa de suas riquezas não é exatamente certo e justo. E que a cobiça tem seu preço e seus efeitos negativos. No filme de Cameron os bonzinhos vencem, mas a história da humanidade não tem o mesmo registro.

Quando os espanhóis conquistaram o Império Inca, não só roubaram o ouro, mas também destruíram a civilização que vários historiadores taxam como uma das mais desenvolvidas para o seu período.

Mas o que mais me chamou a atenção no filme e que achei ao mesmo tempo genial, super estranho e aflitivo foi a rede com que todos os habitantes de Pandora conseguem se conectar uns com os outros, por meio de "fios" que saem do seu cabelo.

É como se todos tivessem entradas USB. A memória do povo é guardada por uma espécie de Deus. A inspiração deve ter sido a internet, mas não deixa de trazer uma reflexão: com a internet armazenando cada vez mais textos, informações, notícias, livros, ou seja, a cultura da humanidade, será um perigo se um dia isso for destruído por alienígenas que queiram roubar nossa terra.

Serão essas bases de informações o que deixaremos de mais sagrado para as próximas gerações? A resposta eu realmente não sei, mas o caminho, por enquanto, é este. Não precisaremos de extraterrestres para destruírem estas informações. Como dito no começo, o mundo está cada vez mais estranho e é bem capaz que os nossos líderes, privilegiando os países ricos, com a ganância natural do homem, junto com os acionistas e as novas formas de crédito, cheguem a um consenso: precisamos recontar a história para poder lucrar mais. Vamos destruir as informações (prática comum na antiguidade de domínio de um povo sobre o outro) para nos reinventar.

Só me resta terminar este texto copiando a plateia do filme: aplausos para o novo mundo!

Daniel Bushatsky
São Paulo, 28/12/2009

 

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