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Quarta-feira, 17/3/2010 Meus álbuns: '00 - '09 ― Pt. 2 Rafael Fernandes Continuando a lista dos meus álbuns preferidos de 2000 a 2009. Leia também a primeira parte. Produzido por Josh Homme e Eric Valentine Rated R é um grande disco e colocou o QOTSA na roda. Também gostei muito de Era Vulgaris. Porém, meu preferido ainda é Songs for the deaf, a partir da ironia do título. O disco se inicia com a potente (e também de ótimo nome) "You think I ain't worth a dollar, but I feel like a millionare", um rock curto e grosso. Segue com a mais famosa, um dos grande rocks da década: "No one knows". Suingada, com ótimas melodias e um instrumental variado, bem pensado. "First it giveth" é a cara da banda: um riff seco se repete, acompanhado de um vocal suave, até um refrão de apelo. "A song for the deaf" tem uma bateria tribal, ótimo refrão e bom dueto de guitarras. Minhas preferidas do álbum: "You think I ain't worth a dollar, but I feel like a millionare", "No one knows", "First it giveth", "The sky is fallin'", "A song for the deaf"
Produzido por Nigel Godrich Do Radiohead dos anos 2000, Kid A pode até ser mais arrojado e simbólico. Mas prefiro In Rainbows. É a síntese do som do Radiohead; nele os arranjos são indissociados das músicas e os efeitos de baixa tecnologia soam contemporâneos. E sempre tendo como foco a canção, não deixando espaço para experimentações vazias. O disco é ótimo musicalmente. Varia de um rock sujo, com um grande riff, de "Bodysnatchers", à melancolia singela de "Videotape". Passa ainda por "Jigsaw falling into place", com arranjo crescente, pela bela e enigmática "All I Need" e pelos violões acompanhados de orquestração de "Faust arp", entre outras. É um trabalho bem equilibrado e com uma bela seleção de canções marcantes. Minhas preferidas do álbum: "Bodysnatchers", "Videotape", "Jigsaw Falling into place", "All I Need"
Produzido por Alan Moulder, Trent Reznor e Atticus Ross Em The Slip, Trent Reznor, o dono do NIN, resolveu apresentar canções mais direcionadas ao rock, sem deixar de inserir elementos eletrônicos e seus timbres característicos. O resultado é um som cru, direto e empolgante. Como o Radiohead, Reznor adotou uma estratégia de lançamento on-line. Mas de forma ainda mais extrema: deu o disco de graça ― recebendo em troca os e-mails dos usuários e, assim, os dados de sua localização. Conseguiu numa tacada só dar um presente aos fãs, ter acesso a dados sobre eles, divulgação gratuita e espontânea e ainda impulsionar a promoção da turnê que veio em seguida. Mais num texto meu. Minhas preferidas do álbum: "1,000,000", "Letting You", "Discipline", "Lights In The Sky", "Echoplex"
Produzido por Jem Godfrey Experiments In Mass Appeal tem arranjos e instrumentação grandiosos. O Frost é composto por músicos experientes, então eles sabem fazer uma música ficar com a estrutura mais adequada a ela. Seja um épico de oito minutos (faixa-título) ou uma de três ("Toys"). Não é forçar a barra para uma música ficar longa e agradar os admiradores do progressivo. Nem sair podando supostos excessos para se encaixar na música comercial. É saber o que uma música específica pede, o que ela precisa. Gosto muito de "Toys", de intenção pop em sua construção e melodias. Começa discreta e vai crescendo até o refrão. "Wonderland" é a clássica faixa de encerramento com uma canção escondida depois de alguns segundos de silêncio. "Pocket Sun" tem uma veia roqueira muito boa, com bom instrumental; "Saline" é uma bela balada e "Falling down" tem um grande solo de teclados. É um disco altamente recomendável para amantes do rock progressivo. Minhas preferidas do álbum: "Experiments in mass appeal", "Welcome to nowhere", "Pocket Sun", "Toys", "Saline", "Falling down", "Wonderland"
Produzido por Björk, Thomas Knak, Martin Console, Marius de Vrie Björk é uma artista brilhante e única. Sempre se expressa de diferentes maneiras. Ora usando só vozes (Medúlla), ora apostando numa parede de sopros (Volta) ou misturando texturas eletrônicas com arranjos de cordas, como nesse Vespertine. Uma coisa que não muda é sua atuação vocal. Sempre cheia de dinâmicas, de sutilezas à agressividade. Em Vespertine, como é praxe em seus discos, Björk apresenta canções pop: estruturas simples e boas melodias. Mas o diferencial, além da interpretação, está nos arranjos, muito bem elaborados e cheios de surpresas. "It's not up to you" começa sutil e vai crescendo até a explosão de um refrão arrebatador. "Harm of will" tem uma passagem cantada em islandês que é um primor. Minhas preferidas do álbum: "It's not up to you" , "Harm of will", "Unison", "Hidden place", "Pagan poetry", "An echo, a stain", "Sun in my mouth"
Produzido por Deftones e Terry Date O Deftones foi erroneamente associado ao new metal. Suas músicas têm vocais ora gritados, ora melódicos, mas raramente "rap" e um som mais sujo do que o estilo citado. Além disso, diferente de boa parte das bandas desse "movimento" (que, na verdade, nunca existiu), a banda soube evoluir, como prova Saturday Night Wrist (de 2006), do qual gosto muito. Porém, para esta lista é inevitável voltar um pouco e escolher White Pony, impecável, que não só deu exposição à banda como é a marca de seu estilo. Bons riffs e dissonâncias em músicas simples, que unem peso a boas melodias. Apesar das letras hoje soarem um pouco pueris, White Pony é uma bela audição para quem gosta do gênero. Minhas preferidas do álbum: "Back to school (Mini Maggit)", "Digital Bath", "Knife party", "Pink maggit", "Change (house of the flies)", "Elite", "Feiticeira"
Produzido por Steve Vai Em Real Illusions, Steve Vai fez um dos grandes discos de sua carreira. Só não foi além porque insistiu na sua grande deficiência: a voz. Desde Fire Garden tem cantado algumas de suas músicas. Apesar de alguns resultados satisfatórios e de apresentar certa evolução, claramente não é a dele. Além disso, boa parte dessas músicas é fraca em termos de composição. Mas Real Illusions se sustenta onde ele se sai muito bem: nas faixas instrumentais. Nesse caso, o músico está em ótima forma. Excluindo as músicas com voz, o disco tem uma sequência inicial arrebatadora: "Building the church", "Glorious" e "K'm-pee-du-wee". Ainda há espaço para influência de música búlgara ("Freak show excess"), um clima meio bizarro em "Midway Creatures", e "Lotus feet", um Vai "clássico" em que o sublime e o brega duelam numa mesma música. Minhas preferidas do álbum: "Building the church", "Glorious", "K'm-pee-du-wee", "Midway Creatures", "Lotus feet", "Yai Yai"
Produzido por Andy Wright A partir do fim dos anos 90, Jeff Beck se arriscou inserindo elementos eletrônicos em seus discos. Grande artista que é, impôs seu som sobre a tecnologia. Ou seja, usou só o que interessa do estilo, como batidas, timbres, samplers e loops, mas sem excessos e sem sacrificar sua identidade sonora. Além disso, subverte o que se espera de um guitar hero: não entrega a guitarra num fraseado longo e de destaque, como é usual. O instrumento aparece em detalhes, sonoridades distintas e em momentos precisos, costurando as canções. Todos os álbuns dessa "fase" têm grandes achados, mas You Had It Coming é meu favorito. Não perde o pique e tem quatro músicas fora de série. Abre o disco com uma delas, "Earthquake", de Jennifer Batten, a excelente guitarrista de sua banda de apoio. É uma música tensa e pesada, com um Beck endiabrado. "Nadia" é fabulosa, uma canção de um dos mais interessantes músicos dos anos 2000, Nitin Sawhney. De tempero oriental e batida eletrônica intensa, tem uma linha melódica rara. Nela, o guitarrista tem um dos mais expressivos e inspirados momentos de sua carreira. "Blackbird", do próprio Beck, é uma pequena declaração de sutileza. No fim, "Suspension", maravilhosa, tem clima de saudade e desperta diversas sensações. Minhas preferidas do álbum: "Earthquake", "Nadia", "Blackbird", "Suspension", "Roy's Toys", "Dirty Mind", "Rollin' and Tumblin'", "Loose Cannon"
Produzido por Billy Howerdel A Perfect Circle é um projeto de Billy Howerdel, que trabalhou como técnico de guitarra de bandas como Nine Inch Nails, Smashing Pumpkins e Tool. Morou com o vocalista dessa última, Maynard James Keenan, que ouvindo as demos do projeto se ofereceu para cantar. Hoje os dois são a base da banda; outro membro frequente é nada menos que o fantástico baterista Josh Freese (Nine Inch Nails, Guns N' Roses etc). O som tem passagens melancólicas e emotivas, mas sem apelação. Não perde a pegada e tem um certo cinismo. As letras, assim como o som, são carregadas ― nada de facilidades. Mer De Noms começa com um anticlímax para um disco de rock. "The hollow" tem andamento médio e alguns momentos calmos. "Judith" teve clipe e é uma canção fabulosa, com uma letra que pode arrepiar os cabelos dos cristãos. Minhas preferidas do álbum: "The hollow", "Judith", "Orestes", "3 libras", "Breña", "Renholdër"
Produzido por Tool O Tool tem uma sonoridade compacta, seca e precisa. Tem influências do metal, mas nem por isso soa como os clichês do gênero ― toma só algumas coisas, como a pegada e os tipos de riff. Os vocais, embora agressivos, são mais sóbrios. As melodias, ora potentes, ora dramáticas, têm boas variações. As letras são sombrias, repletas de ironia e humor negro. Também é uma banda que poderia facilmente entrar com dois discos na lista: Lateralus (2001) ou 10,000 Days (2006). Fico com esse último, por hora. "Vicarious", a ótima faixa de abertura, começa com uma interessante conversa de riffs entre baixo guitarra; em seguida, eles se unem no riff principal da música. A melodia combina drama e consistência na medida certa e cai bem com a letra, que tem boa dose de cinismo. Minhas preferidas do álbum: "Vicarious", "Jambi", "The Pot", "Rosetta Stoned", "10,000 Days (Wings Pt 2)"
Rafael Fernandes |
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