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Terça-feira, 4/5/2010
Por que comemorar o dia das mães?
Débora Carvalho


LIANA TIMM© (http://timm.art.br/)

A amizade, às vezes, serve para alguma coisa além de boas risadas e momentos felizes fazendo nada juntos. Os resultados dos esforços de amigos para consolar quem está triste podem surpreender. Um bom exemplo está na data comemorativa do Dia das Mães. Tudo começou quando a mãe de Anna Jarvis morreu. O luto virou depressão e as colegas de Annie resolveram alegrá-la promovendo uma festa em memória da mãe da grande amiga, que havia sido um exemplo de mulher ao prestar serviços comunitários durante a Guerra Civil Americana. A garota gostou tanto que divulgou a ideia, fazendo estender a homenagem para todas as mães, não só as que já haviam morrido. Isso aconteceu em 1904.

A ideia pegou, virou mania nos Estados Unidos. Apenas dez anos depois, em 9 de maio de 1914, o então presidente Woodrow Wilson oficializou o Dia das Mães.

Interessante que a ação solidária de algumas amigas tenha ajudado a fomentar o que a escritora Júlia Ward Howe já havia sugerido em 1872. Alguém precisava começar para mostrar como celebrar o dia das mães seria legal.

Como sempre acontece, outros países incluíram a data no calendário.

Na Inglaterra, a comemoração começou de um jeito diferente. No início do século XVII, os operários ingleses recebiam folga para passar o quarto domingo da Quaresma com suas mães. Nesse "domingo das mães", elas faziam um bolo para "agradar" os filhos que trabalhavam longe de casa, e eles levavam presentes para mostrar que o trabalho valia a pena, mesmo tão longe.

No Brasil, a data foi promovida em Porto Alegre, pela ACM (Associação Cristã de Moços), em 12 de maio de 1918. Catorze anos depois, em 1932, a data passou a fazer parte do calendário nacional por intermédio do então presidente Getúlio Vargas.

Pesquisando um pouco mais, há indícios de que algum tipo de comemoração em torno da maternidade existiu na Grécia Antiga e em Roma. Os gregos apresentavam oferendas, presentes e homenagens à deusa Reia ― mãe de todos os seres; os romanos faziam o mesmo que os gregos, mas a festa durava três dias, dedicada à deusa Cibele ― mãe dos deuses.

E, assim como o mundo imita os Estados Unidos, a Igreja, "monoteísta", adaptou a data em homenagem à "Virgem Maria", mãe de Jesus.

Mas isso ainda não era o "Dia das Mães", já que a homenagem era a um deus ou personagem único.

A ideia de presentear a homenageada abriu brechas para o caráter comercial do "Dia das Mães". Mas isso foi inevitável. Começou ainda nos tempos de Anna Jarvis ― embora eu acredite que já acontecia no tempo das homenagens às deusas que também recebiam presentes fabricados e vendidos por alguém, certo?

Não há nada de errado com a comercialização de presentes ― é algo necessário. O problema está nas pessoas, e não nas coisas. O roteiro mudou. Muitos filhos e mães esquecem a essência da data, que é a aproximação, passar um tempo juntos ou manter viva a memória de quem nos trouxe ao mundo.

Algumas mães, mesquinhas, esperam um super presente. E só. Não são capazes de passar um tempo agradável sem criticar, sem reclamar, só sendo mãe. Esperam apenas que o filho devolva o investimento financeiro que fora feito para sua educação. Não um abraço quente, de amor verdadeiro. São mães frias, calculistas, que veem nos filhos simples negócios. E ficam chateadas, reclamam "é só isso que eu mereço?" quando não recebem um presente com o valor financeiro esperado. E ainda saem reclamando para as amigas que o filho é "muquirana".

Por outro lado, alguns filhos acham que, por dar um presente caro, se isentam da tarefa de serem filhos de verdade. Não dedicam tempo, carinho e atenção. No Dia das Mães, agem como se fossem funcionários dos Correios. Dão uma "passadinha" super corrida só para entregar o pacote e dar um beijinho "gelado". Às vezes, o segundo do ano ― depois do Ano Novo. A mãe, sem graça, diz que não precisava se preocupar, que o verdadeiro presente é ver que o filho está bem e ganhar um abraço. Em seu coração, tudo o que ela queria era passar mais tempo com sua cria, saber realmente como estão as coisas, sentir que é amada por quem mais ama, jogar conversa fora... e até poder ter o direito de dar algum conselho. Mas o filho não quer nem saber da solidão da senhora sua mãe.

Vendo isso, por volta de 1923, Anna Jarvis até tentou fazer uma campanha para devolver o calor humano à data. A repercussão foi grande, mas em termos de resultados, nada conseguiu mudar. Aliás, o Dia das Mães aqueceu o comércio, pois os filhos sempre compram presentes para agradá-las. Seja uma lembrancinha dada com amor, conforme as condições financeiras, seja um presentão que é mais um pedido de desculpas pela indiferença ou ausência de filho durante o ano.

O fato é que as notícias sobre o Dia das Mães são: "Dia das mães: recorde de otimismo entre os empresários." É estimado crescimento de 5,3% em relação ao Dia das Mães de 2009. E os presentes mais procurados são roupas, sapatos e acessórios (31%), seguidos de flores (18%). Em terceiro lugar, celular (15%) ― será que é para falar com a mamãe? Em quarto, eletrodomésticos (14%), seguido de perfumaria e cosméticos (8%) ― pra mamãe ficar cheirosa e com a pele macia. Em sexto estão os eletrônicos (6%) e depois vêm as joias e relógios (2%) ― pra quem tem grana. E por fim, com 1% cada, chocolates e doces, utilidades domésticas, decoração e móveis, CDs, DVDs e livros, viagens e outros mais criativos.

E você? Já escolheu o seu presente?


Deus me deu a vida através de você, não sou um presentão?

Feliz Dia das Mães às mães vivas e mortas. Às biológicas e às mães do coração. Feliz Dia das Mães a quem trouxe ao mundo pessoas de valor, que fazem o mundo valer a pena. E àquelas que são tão mães, tão mães, que conseguem ser amadas até a velhice. Feliz Dia das Mães àquelas que se orgulham de suas crias, mas também às mães de "Caim" ― que não se culpem se a culpa não são delas. Enfim, que no Dia das Mães 2010, todas sejam amadas e amem bastante. Que todas se orgulhem de seus filhos. E que os filhos também se sintam amados e amem suas maravilhosas mães. E que, de fato, todas sejam maravilhosas!

Débora Carvalho
São Paulo, 4/5/2010

 

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