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Quarta-feira, 26/5/2010 Meus álbuns: '00 - '09 ― Pt. 3 Rafael Fernandes A seguir, a terceira parte dos meus álbuns musicais favoritos entre 2000 e 2009. Já estão no ar a primeira e a segunda partes. Agora, falo um pouco de lançamentos brasileiros. 21) Moacir Santos ― Ouro Negro (2001) Produzido por Zé Nogueira e Mário Adnet Moacir Santos é um dos grandes nomes da música brasileira de todos os tempos. Hoje, continua não tão conhecido, mas era menos ainda antes deste belo trabalho realizado por Zé Nogueira e Mário Adnet. A dupla selecionou algumas obras do mestre e em 2001, respeitando os arranjos originais, chamou a nata de instrumentistas nacionais para gravar novas versões. As músicas de Moacir Santos são sofisticadas e atuais, ou melhor, atemporais. Coisas que só os grandes artistas conseguem atingir. "Maracatu, nação do amor", conhecida também como "April child", é fatalmente uma das grandes músicas brasileiras. Esse disco, que é duplo, ainda traz convidados luxuosos, como Gilberto Gil, Ed Motta, Djavan, Milton Nascimento, João Bosco, Joyce e João Donato. Imperdível. Minhas preferidas do álbum: "Coisa No. 2", "Lamento Astral", "Coisa No. 4", "Coisa No. 10", "Oduduá", "Maracatu, nação do amor", "Bodas de prata dourada", "Coisa No. 5", "Coisa No. 6", "Amphibious", "Bluishmen", "Coisa No. 9", "Orfeu".
Produzido por Chico Pinheiro e Swami Jr Chico Pinheiro está provando ser um dos grandes da música brasileira. Vem fazendo seu nome aos poucos, privilegiando a alta qualidade e o trabalho duro. No começo dos anos 2000 fez uma série de concorridos e comentados shows preparatórios para esse Meia Noite, Meio Dia. O falatório foi aumentando porque em sua banda ele apresentava ninguém menos que Maria Rita ― que também cantou no disco. É claro que foi bom para a exposição de Chico, mas o disco só foi elogiado como foi porque é ótimo. Um dos clássicos da música brasileira. Nele, Pinheiro se mostra exímio instrumentista. Mais do que isso: um grande compositor. Daquela estirpe que mistura melodias difíceis e harmonias complexas de uma forma que parece simples. Duvida? Ouça as ótimas "Ao vento", "Popó", "Desde o primeiro dia", "Buritizais" e "Essa canção". Além de apresentar as cantoras Maria Rita e Luciana Alves, ainda tem convidados no nível de Ed Motta, Lenine e Chico César. Minhas preferidas do álbum: "Ao vento", "Meia noite, Meio dia", "Buritizais", "Na beira do rio", "Desde o primeiro dia", "Onde estiver", "Choro calado".
Produzido por Dr Sin A grande banda de rock do Brasil se juntou ao ótimo vocalista Mike Vescera (Yngwie Malmsteen, Obsession, Loudness, MVP). O que saiu desse encontro foi um disco potente e coeso, um dos melhores da banda. Dr. Sin II começa com a melhor do álbum: "Time after time". Lembra o rock progressivo, por ter diferentes passagens. "Eternity" é uma boa balada rock, um candidato a hit que comercialmente não fez jus à sua qualidade. É seguida por "Fly away", que parece ser um "metalzão", mas se abre para belas melodias e um refrão arrasador. "Devil inside" é uma daquelas músicas "perdidas": passam meio batidas pelos fãs e parecem meio esquecidas pelas próprias bandas, mas não deixam de ser ótimas. Nesse caso é uma música desprendida, com belos arranjos vocais no refrão. Já "Pain" é uma balada com fortes ecos de Beatles. Minhas preferidas do álbum: "Time after time", "Danger", "Eternity", "Fly away", "Time after time", "Same old story", "Pain", "Devil inside"
Produzido por Dennis Ward Outra das melhores bandas do país é o Angra, que faz com competência um heavy metal que dialoga fortemente com o metal melódico e o progressivo. Depois de uma traumática ruptura que gerou a saída de três membros da banda, o grupo se rearrumou e lançou Rebirth, o bom disco da volta, em 2001. O disco seguinte dessa nova fase, Temple of Shadows, foi uma pequena obra-prima do gênero. É um disco conceitual, que flerta com diversos elementos além do estilo (como música flamenca e batidas brasileiras), com arranjos muito bem feitos com elementos diversos (coros, violões e percussão) e até a participação de Milton Nascimento na faixa "Late Redemption". Minhas preferidas do álbum: "Spread your fire", "Angels and demons", "Wishing well", "The temple of hate'", "The shadow hunter"
Produzido por Kassin O Bloco Do Eu Sozinho foi a virada do Los Hermanos. Do pop tolo a um pop inteligente ― apesar de alguns fãs terem exagerado na "profundidade". Em Ventura, o grupo melhora a receita, num cardápio de estilos variado. Do samba torto "Samba a dois" ao pop deslavado e gostoso de "O vencedor". Da discrição de "Tá bom" ao flerte com o bizarro em "Cara estranho". Das tensões que insistem em quase não se resolver em "Sétimo andar" ao tcha-tcha-tcha de "A outra". Das brincadeiras de "Além do que se vê" à singeleza de "De onde vem a calma". E as letras se sobressaem: muito acima da média do que era e é feito no pop nacional. O clima do disco, que representa bem a banda, às vezes é associado à depressão. Mas não é isso. É sobre não precisar estar alegre ou em festa o tempo todo ― essa "mania" brasileira. É de poder "estar em paz" sem essa necessidade quase "opressora" de ser feliz. E também de se resguardar, não de ficar nesse aparente oba-oba sem fim. Afinal, como eles já anunciaram no disco anterior, todo o carnaval tem seu fim. Minhas preferidas do álbum: "Samba a dois", "O vencedor", "Além do que se vê", "Do sétimo andar", "Cara estranho", "Um par", "De onde vem a calma", "Tá bom", "Conversa de botas batidas".
Produzido por Chico Saraiva Trégua foi o disco que mostrou o talento de Chico Saraiva ao Brasil. É um belo trabalho, elegante e criativo. Mas acho que em Saraivada o músico alcança uma sonoridade única, que pode chamar de sua. Nem tanto ao Guinga, influência clara e confessa, nem tanto à Barca ― projeto de pesquisas musicais do qual é integrante. Saraiva acha o termo exato entre as raízes brasileiras, a sofisticação harmônica e melódica e o formato canção. Ele canta no disco e não é seu forte. Mas se basta e mostra a possíveis intérpretes os caminhos de suas canções: para onde elas apontam, onde estão seus pontos-chave. Saraiva chamou parceiros para escreverem as letras e eles apresentam algumas pérolas, como "os que ousaram se perder para se achar/chegaram sem saber se vão voltar" (Makely Ka, em "Moçambique"). Minhas preferidas do álbum: "Na virada da costeira", "O tamanho da tristeza", "Startrek de Tacape", "Estrela do oriente", "Sombra", "Moçambique".
Produzido por Sergio Buss Em Liquid Piece Of Me, Sergio Buss não só fez um disco brilhante como usou bem o formato álbum: tudo se liga, tudo se encaixa: do conceito às músicas, até o encarte. É um trabalho raro nesses últimos tempos de ansiedade e mal acabamento: foi realizando ao poucos, com calma e apuro. Era óbvio que tinha que sair algo bom. Estamos na era do MP3 avulso, da troca de arquivos, da rapidez; também num momento em que muitos aventureiros vestidos de músicos tocam suas canções tolas e toscas e têm pressa de "acontecer". Serj fez o oposto disso. Hoje em dia, cada vez mais os produtos culturais estão banalizados. São tantos Flickrs, MySpaces, blogs e afins que o que vale à pena muitas vezes se esconde sem intenção. Talvez apenas por não ser o que grita mais alto. Felizmente, Liquid Piece Of Me é um item raro em todos seus quesitos. Quem tem, que aproveite. Minhas preferidas do álbum: "O outro lado", "Would you?", "Lines and curves", "Hostile", "Thinking heads".
Produzido por Swami Jr No Brasil, é comum associar dupla de cantores ao sertanejo. Felizmente, esse não é o caso de Danilo Moraes e Ricardo Teté. Em A Torcida Grita, passam longe de clichês e de exageros. Eles ficaram mais conhecidos por terem ganhado o prêmio do festival de música da TV Cultura e, mais ainda, por terem sido vaiados na premiação. Essa bobagem que resume as boas sensações da música a um enfrentamento tipo Fla x Flu. Eles foram inteligentes e tiraram onda com isso em "Viva a vaia". É uma canção maravilhosa. Uma balada, com lindo arranjo de cordas e cheia de sutilezas. Vale ouvir. Outra grande canção é "Teresa e a torcida". Uma letra bem-humorada que se encaixa numa melodia pegajosa. Ainda há espaço para boas canções de amor como "Sempiterno" e "Tintim". Minhas preferidas do álbum: "Teresa e a torcida", "Sempiterno", "Tintim", "Arredondamento", "Viva a vaia".
Direção musical: Teco Cardoso Léa Freire já se destacava como arranjadora e musicista, em espetáculos musicais como numa homenagem à cantora Maysa e num duo com o grande Bocato. Essas duas facetas se uniram à de compositora e o resultado é um dos mais belos discos brasileiros já feitos: Cartas Brasileiras. Nele, Léa Freire junta o erudito e o popular sem restrições, além de agrupar músicos brasileiros do mais alto nível, como Tiago Costa, Bocato, André Mehmari, Mozar Terra, Zezinho Pitoco, entre tantos outros. Os diversos sabores, ritmos e cores da música brasileira foram fundidos com destreza a melodias raras. Léa também não foi nada egoísta e deixou que muitos de seus amigos músicos arranjassem diversas de suas criações. Cartas Brasileiras é um disco forte e com momentos sublimes. Minhas preferidas do álbum: "Nove Luas", "Maré", "Rabisco", "Vila Ipojuca", "Maré", "Vento em madeira", "Caminho das pedras"
Produzido por Marcus Tardelli Em Casa de Villa, mais uma vez Guinga dá mostras de seu brilhantismo. É um disco elegante, bem elaborado, com belas melodias e harmonias ― uma boa mostra de seu estilo. Uma das coisas interessantes desse disco é que evidencia como suas músicas, embora se saiam bem no formato canção ― ou seja, acompanhadas de letra ― são melhores e mais geniais quando instrumentais, como em "Bigshot", "Jongo de Compadre", e na obra-prima "Villalobiana". Os arranjos também são ótimos. Esse disco valeu um texto. Minhas preferidas do álbum: "Bigshot", "Jongo de compadre", "Mar de maracanã", "Porto de Araújo", "Maviosa", "Villalobiana", "Tudo fora de lugar", "Casa de Villa".
Rafael Fernandes |
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