|
Quarta-feira, 28/7/2010 Meus álbuns: '00 - '09 ― Pt. 4 Rafael Fernandes A seguir a quarta parte de meus álbuns musicais favoritos entre 2000 e 2009. Já estão no ar a primeira, a segunda e a terceira partes. Novamente escrevo sobre lançamentos brasileiros. 31) Maria Rita ― Maria Rita (2003) Produzido por Tom Capone Fiquei curioso a respeito de Maria Rita quando ela fazia as elogiadas apresentações no finado Crowne Plaza, no início de sua carreira. Fui conferir e, como muitos, fiquei embasbacado. Ela mostrava algo mais, que ia além dos rótulos de "filha" ou "irmã". Um talento nato. Em seguida, gravou seu primeiro disco, que é muito bom. Não é genial, mas foi a continuação natural dos shows. É honesto e apresenta boas músicas. Seu segundo é mais fraco, meio perdido. Em seu terceiro disco ela optou pelo samba, que, se peca por ainda não mostrar qual é sua personalidade musical, fortaleceu sua confiança e a consolidou no mainstream. Agora, o desafio é achar seu próprio DNA sonoro. Minhas preferidas do álbum: "A festa", "Menininha do portão", "Cara valente", "Encontros e despedidas", "Cupido".
Produzido por Tom Capone, Mauro Manzoli e Lenine Falange Canibal tem uma música que já entrou para minha lista de preferidas: "O silêncio das estrelas". Uma linda canção, com um arranjo de cordas ao mesmo tempo belo e insinuante. A letra, de Dudu Falcão, diz muito: "Solidão, o silêncio das estrelas / A ilusão / Eu pensei ter o mundo em minhas mãos como um Deus / E amanheço mortal". Claro que o disco não é só isso. Tem boas músicas como "Rosebud (O verbo e a verba)", que, além de boas sacadas na letra, tem um riff bem roqueiro. "Lavadeira do rio" começa "cool" e se abre para um refrão marcante. Já "Nem sol, nem lua, nem eu" é uma bela balada, com vários climas sonoros. Minhas preferidas do álbum: "O silêncio das estrelas", "Nem sol, nem lua, nem eu", "Lavadeira do rio", "Rosebud (O verbo e a verba)", "Sonhei", "O homem dos olhos de raio-x".
Produzido por André Mehmari e Ná Ozzetti Piano e voz é cheio de elegância, sutilezas e emoção. Os músicos se complementaram muito bem: a exuberância de Mehmari e a precisão de Ná. O disco abre com uma das melhores músicas da década, "Pérolas aos poucos", de Zé Miguel Wisnik. Forte e ao mesmo tempo doce e delicada. "Because" tem uma introdução já clássica de Mehmari, com uma citação de Sonata ao luar, de Beethoven, alterada para se fundir à canção dos Beatles. A boa interpretação de "A ostra e o vento" nos lembra de como essa é uma das melhores músicas de Chico Buarque, apesar de pouco lembrada. A última faixa traz a união improvável de Lupicínio Rodrigues ("Felicidade") com Egberto Gismonti ("Sete anéis" e "Infância"). E dá muito certo. Um encerramento precioso de um disco tão belo quanto poderoso. Minhas preferidas do álbum: "Pérolas aos poucos", "Because", "Felicidade ― Sete anéis ― Infância", "A ostra e o vento", "Luz negra", "Gabriela".
Produzido por Carlos Eduardo Miranda Entre um de seus melhores discos, A vida é doce, de 1999, e outro disco forte, Canções dentro da noite escura, de 2005, Lobão acabou ficando mais marcado por sua persona, suas opiniões bombásticas e por ficar "amigo" da MTV. Esse acústico foi uma boa oportunidade de voltarmos nossa atenção ao ótimo compositor que ele é. Além de ter mostrado sua evolução musical. De boas músicas pop como "Do jeito que for", "Bambina" e "Me chama" até as mais recentes, mais maduras e tão marcantes quanto, como "Vou te levar", "A vida é doce" e "A gente vai se amar". O acústico de Lobão é ótimo do começo ao fim. Minhas preferidas do álbum: "Bambina", "Vou te levar", "Por tudo que for", "A vida é doce", "A gente vai se amar", "A queda", "Pra onde você vai", "Quente".
Produção e Direção Musical Toninho Ferragutti Ferragutti é um dos acordeonistas mais requisitados do país, por unir profissionalismo, virtuosismo e bom gosto. Em Nem sol nem lua ele mostrou mais uma de suas facetas: a de compositor de extrema qualidade. E, ainda, tendo seu instrumento como protagonista. Logo ele, tão maltratado por bandas de forró toscas... As músicas do disco conseguem mesclar bem algumas influências do erudito e do popular ― como o baião brasileiro e o tango argentino. Elas também entrelaçam belas melodias, cheias de vida. "Sanfoneon", bem Piazzolla, é excelente. E continuo achando "Sanfonema" uma das grandes músicas brasileiras. É envolvente, com sua bela dramaticidade. Minhas preferidas do álbum: "Sanfonema", "Sanfoneon", "Na sombra da asa branca", "Nem sol, nem lua", "Dominguinhos no parque".
Produzido por Maria Célia Borges Quando surgiu, Yamandu deixava todos de queixo caído. Parecia que o violão era continuação de seu corpo. Seu tocar une fluência e visceralidade. Um violonista tocando música brasileira, mas com uma pegada roqueira. Ele venceu o extinto prêmio Visa e o resultado foi um primeiro e autointitulado disco. Não é ruim, mas muito polido e com arranjos cheios, o que não fazia jus ao que era no palco. Isso foi resolvido com o lançamento seguinte, esse Ao Vivo, que gravou no também extinto Crowne Plaza, ao lado de Edu Ribeiro (bateria) e Tiago Espírito Santo (baixo). Ali, apareceu toda aquela potência sonora que precisava explodir. A abertura, com "Valsa no. 1", de Baden Powell, é sensacional. Outros destaques são "Taquito militar", "Disparada" e "Nuages". Minhas preferidas do álbum: "Valsa no. 1", "Taquito militar", "Disparada", "Nuages", "O bem e o mal", "Vou deitar e rolar", "Brasiliana no. 1".
Produção musical: Guinga O violonista Marcus Tardelli se expressa no instrumento com um som potente, limpo e técnico, mas sempre a serviço da música. Se destacou inicialmente como integrante do Maogani. Depois, acabou seguindo o caminho solo. Unha e carne é um disco muito bom e também evidencia a força instrumental da obra de Guinga. As duas primeiras músicas do disco mostram as armas de Tardelli: a abertura com "Baião de Lacan" é veloz, técnica e potente. "Igreja da penha (carta de pedra)" é sutil e emotiva. Elas mostram a versatilidade e os recursos do músico. Minhas preferidas do álbum: "Baião de Lacan", "Igreja da penha (carta de pedra)", "Unha e carne", "Cheio de dedos", "Dichavado", "Constance", "Baiões", "Choro-réquiem".
Direção artística: Nailor Proveta A banda Mantiqueira é uma seleção de músicos que joga bonito e ainda ganha o campeonato. É uma big band bem brasileira que transita com tranquilidade em estilos diversos, indo de uma veia mais jazzística até climas brasileiros diversos. Com direção artística de Nailor Proveta, um dos maiores músicos brasileiros, Terra Amantiquira tem grandes músicas e belos arranjos, além, claro, de um desfile de performances precisas dos músicos. "Vovô Manuel", de Proveta, lembra as cores de uma gafieira. "Eu e a brisa", clássico de Johnny Alf, que faleceu no começo deste ano, tem algo do cool jazz. "Santos Jundiaí" é um samba jazz em estado puro. Minhas preferidas do álbum: "Eu e a brisa", "Vovô Manuel", "Santos Jundiaí", "samba da minha terra/Saudade da Bahia", "Feminina".
Direção musical: Ney Matogrosso e Pedro Luis e a Parede Vagabundo é um disco divertido. Traz a boa levada do samba, mas sem se prender à tal "tradição", junto da leveza do pop. O álbum abre com uma versão arrebatadora de "A ordem é samba" (Jackson do Pandeiro e Severino Ramos). Outra versão de destaque é a ótima "Assim assado" (João Ricardo), clássico do Secos e Molhados. Vagabundo mostra um pop abrasileirado que não apela para facilidades nem é metido à besta. Conta com boas canções que não agridem a inteligência do ouvinte. Tem músicas nas quais podemos achar boas sacadas nas letras e nos arranjos e nas quais humor e seriedade aparecem na hora certa. Minhas preferidas do álbum: "A ordem é samba", "Assim assado", "Interesse", "Inspiração", "Finalmente".
Produzido por Luciana Souza e Eduardo Souza É preciso muita qualidade para uma cantora conseguir enfrentar um disco inteiro só acompanhada de um violão. E não estamos falando de músicas pop para tocar em boteco. Mas de grandes canções brasileiras, com arranjos de instrumentistas de primeira grandeza. E foi isso que Luciana Souza fez em Brazilian Duos. Ela aparece ao lado de Marco Pereira, Romero Lubambo e seu pai, Walter Santos. Uma das minhas preferidas é "Pra que discutir com madame", clássico de Janet de Almeida e Haroldo Barbosa, numa interpretação fabulosa dela e de Romero Lubambo. Destaque para o uníssono final, que enrolaria a língua de muita cantora por aí. Minhas preferidas do álbum: "Baião medley", "Pra que discutir com madame", "Pradizer adeus", "Doce de côco", "As praias desertas", "Docemente", "Saudade da Bahia".
Rafael Fernandes |
|
|