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Quarta-feira, 1/9/2010 Meus álbuns: '00 - '09 ― Pt. 5 Rafael Fernandes Chego à última parte da seleção de cinquenta álbuns musicais que me marcaram entre 2000 e 2009. Uma lista sem a pretensão de classificações de "melhores". São apenas discos que me acompanharam durante dez anos, despertando muito meu interesse. Tudo, claro, no restrito universo do que consegui ouvir e já sabendo de futuros arrependimentos do tipo "como pude esquecer esse?". Já publiquei a primeira, segunda, terceira e quarta partes. Scott Henderson é um dos grandes guitarristas dos últimos vinte e cinco anos. Surgiu junto com sua banda, o Tribal Tech, que encerrou suas atividades em 2000. Henderson continua firme e forte com sua carreira solo, mais focada no blues rock, sem perder sua veia característica com influências de jazz e fusion. Ele veio algumas vezes ao Brasil ― veja o que achei de uma delas aqui. Seu trabalho acaba sendo para um público mais restrito. Realmente, não é de fácil assimilação numa primeira audição. Mas muitos guitarristas o idolatram, com razão. Ele é dono de um fraseado criativo e insinuante, com influências diversas, como Stevie Ray Vaughan. Well to the bone é uma boa amostra de tudo isso, entre canções cantadas (não por ele) e instrumentais. Destaque para a faixa-título, ótima e com boa interpretação da cantora Thelma Houston. Minhas preferidas do álbum: "Lady P.", "Well to the bone", "Hillbilly in the band", "Ashes", "Lola Fay", "Dat's da way it go".
O Sieges Even é uma banda de prog rock surgida em 1985. Depois de uma pausa, em 1997, alguns de seus membros formaram o Looking Glass Self. Quando estavam gravando uma demo, Alex Holzwarth (bateria) resolveu chamar seu amigo André Mattos (solo, ex-Angra, ex-Shaman) para dar uma força. Os dois se conheciam de longa data, já que Alex tocou bateria no primeiro disco do Angra, Angels Cry. Era um trabalho interessante, um progressivo acústico. Depois de algumas mudanças, inclusive de nome (para Val'Paraiso) a banda acabou. Mas músicas criadas nessa época, como "Stigmata" e "The lonely view of condors", apareceram no retorno do Sieges Even nesse The art of navigating by the stars. É um disco indicado para os fãs do gênero, com músicas longas, instrumentais bem trabalhados, boas melodias, vocais de apoio e tudo mais o que pede um bom prog rock. Minhas preferidas do álbum: "Stigmata", "The lonely view of condors", "Unbreakeable", "Blue ide open", "To the one who have failed".
Como o próprio nome diz, o Cinematic Orchestra é uma banda com um som "cinematográfico", cheio de climas e texturas sonoras que nos convidam a imaginar diversas paisagens. O grupo tem feito bons discos desde sua formação no final dos anos noventa, como Man with a movie camera e Every day. Ma Fleur foi o primeiro que ouvi e, assim, o que me captou para seu universo. Tem uma música que gosto muito, "Breathe", apesar de preferir a versão do disco ao vivo Live at the Royal Albert Hall. Ma Fleur nos convida para uma viagem de sons que vale a pena acompanhar. Minhas preferidas do álbum: "To build a home", "Familiar ground", "Breathe", "Music Box", "Prelude", "As the stars fall".
Eyvind Kang é um dos músicos mais interessantes dos últimos tempos. Suas músicas em geral unem influências do erudito, pop e "estranhezas". Virginal Co-ordinates apresenta uma procura pelo lado mais "puro" dos sons, em como uma melodia pode soar de diferentes maneiras, sem muitas preocupações em criar uma música com diferentes partes. Um minimalismo aliado a melodias acessíveis. As músicas são simples: partem de pequenos motivos sonoros e vão crescendo com mudanças no arranjo. De certa forma, é mais a exploração de sentimentos do que "dizer algo" com a música por meio da variação de melodias e harmonia. É um disco que vale também para se prestar atenção em como diferentes formas de se alterar um arranjo mudam as intenções de uma música. Minhas preferidas do álbum: "Go in a good way to a better place", "I am the dead", "Doorway to the sun", "Virginal Co-ordinates, "Innocent eye, crystal see", "Marriage of days".
Com momentos que lembram algo de Cinematic Orchestra, outros de Björk e até alguma coisa do Radiohead, o My Brightest Diamod foi uma das gratas surpresas daquelas navegadas infinitas na internet. Músicas climáticas, intensas e belas, mas não indicadas para quem não é muito chegado em músicas mais, digamos, depressivas. Quem procura canções boas e intimistas, aliadas a bons arranjos pode aproveitar. A abertura, "Inside a boy", é uma boa amostra: a música começa misteriosa e vai crescendo até um riff de guitarra. Entre as minhas preferidas também estão "If I where a queen", simples, curta e elegante, e "Goodbye forever", bela e triste. Minhas preferidas do álbum: "Inside a boy", "If I where a queen", "Goodbye forever", "The ice & the storm", "Black & costaud", "The brightest diamond".
Nitin Sawhney vem realizando um pop de respeito. Conheci uma música sua sem saber, já que Jeff Beck já havia gravado uma excelente versão de "Nadia", no disco You Had It Coming que comentei aqui. Philtre apresenta um pop inteligente, maduro e bem acabado. Como o pop está, cada vez mais, flertando com o juvenil, é um alento ouvir um disco como esse. "Journey", minha favorita, é um bom exemplo: o arranjo de cordas do começo vai se juntando a uma programação de bateria elegante, bem longe dos exageros dos timbalands da vida. O vocal de Nitin Sawney vai no ponto certo e o refrão soa moderno, no melhor sentido da palavra. Minhas preferidas do álbum: "Everything", "Journey", "Spark", "Koyal (Songbird)", "Flipside", "Sanctuary", "Noches en vela (part 1)".
Desde o fim do Faith No More, Mike Patton continuou atuante. Além de ter fundado seu próprio selo, o Ipecac, se empenhou em diversos projetos. Se tornou um músico prolífico. Ele tem o mérito de fazer ou participar de projetos de estilos muito diferentes um dos outros. E que em pouco, ou nada, se parecem com a banda que o levou ao estrelato. Um exemplo é esse Kadaa/Patton, que até agora gerou apenas um CD e um DVD. Em Romances, os músicos parecem ter buscado fazer um disco de amor... bizarro! Músicas um pouco românticas, um pouco tristes e um pouco estranhas. O resultado é bastante interessante e inusitado, mas, admito, para gosto de poucos. Minhas preferidas do álbum: "Invocation", "Pitié pour mes larmes", "Aubade", "Labsent", "Seule", "Nuit silencieuse".
Outra boa surpresa vinda de navegações sem rumo pela internet. Tosin Abasi, guitarrista e líder desse ótimo grupo instrumental, mostra que a guitarra bem tocada e inventiva está muito viva. Se inspirando no rock progressivo e nos guitarristas do anos 80, mas indo além, Abasi consegue ser virtuoso e melódico. Traz abordagens já conhecidas, mas com algumas adições interessantes, como uma guitarra de oito cordas. Animals As Leaders mostra que boas canções instrumentais estão longe de ser sinônimos de autoindulgência quando feitas por quem entende do assunto. Minhas preferidas do álbum: "Tempting time", "Soraya", "Thoroughly at home", "On impulse", "Behaving badly", "Point to point", "Modern meat".
O Vital Tech Tones é um trio vigoroso formado por craques de primeira grandeza da música: Scott Henderson (guitarra), Steve Smith (bateria) e Victor Wooten (baixo). O nome veio da junção de palavras de suas banda principais, respectivamente: Tribal Tech, Vital Information e Bela Fleck and The Flecktones. Virtuosismo, autoindulgência, suingue, agressividade, bom gosto e pirações em altos graus. É impressionante como tocam, uma verdadeira aula de música. Destques para "Subzero" (com um Henderson infernal), "The litigants" (Wooten barbarizando) e "Catch me if U can" (Smith mostra o que é ser um baterista). Mas, devemos dizer, é um disco mais para músicos. Com os prós e contras que isso traz. Minhas preferidas do álbum: "VTT", "Subzero", "The litigants", "Catch me if U can".
Agora mais conhecido como um do trio de guitarristas do Guns N Roses, Ron Bumblefoot Thal vem há anos fazendo bons discos. Unindo boas canções a guitarras de vanguarda, Ron ainda consegue adicionar algumas doses de humor às suas músicas ― sem ficar "engraçadinho". Abnormal é uma continuação do disco Normal; ambos falam de como o músico lidou com problemas de depressão e a medicação do tratamento. Ele optou por sair da medicação, mesmo arcando com as consequências ― é disso que Abnormal fala (veja mais sobre isso nesta entrevista que fiz com ele). Um bom exemplo é a faixa-título, que abre o álbum com uma guitarra virtuosa numa música que, ironicamente, tem uma pegada punk. É, realmente, "Abnormal". Minhas preferidas do álbum: "Abnormal", "Dash", "Simple days", "Objectify", "Jenny B", "Conspiracy", "Piranha", "Guitar still suck", "Green".
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