|
Quarta-feira, 22/9/2010 Os piores músicos da década Rafael Fernandes Chamar de músicos os dignísismos abaixo é uma ofensa aos músicos de verdade. Mas não posso me furtar de homenagear alguns daqueles que deturparam o valor da música ― intencionalmente ou não ― durante a última década. Mallu Magalhães Festa de família. O tio chama todo mundo para ver sua filha tocando a música que acabara de aprender. Com quatro acordes bem treinadinhos ela se esforça. É até simpático, mas o pessoal aplaude por educação. As tias avós adoram, claro. Os mais bêbados dizem que ela é maravilhosa. É mais ou menos esse o papel de Mallu Magalhães na música brasileira. Como começou cedo, pode até virar alguma coisa interessante. Mas não agora. Por enquanto, é café com leite. Black Eyed Peas Se eles alegarem que são uma piada as coisas começarão a fazer sentido. Mas pela aparência e pompa, não é o caso. Será que eles, realmente, se levam a sério? Como bem escreveu o The Guardian sobre "My Humps", em seu artigo "As pessoas que arruinaram a década": "É uma piada? É sério? Ah, é apenas uma m...". A "música" do grupo é baseada nos mais surrados acordes (hein?) e melodias, com estrutura e métrica repetitivas para que o esforço de compreensão seja mínimo. Coisas que tornam "Parabéns a você" e "Cai cai balão" pérolas do arrojo musical. A gororoba é temperada com insinuações sexuais, como manda o manual do pop e do hip hop dos anos 2000. E muita pose, claro. Numa festa, pode até fazer algum sentido. Fora dela? Ressaca. Latino Esse campeão conseguiu ser parte da Escória Musical Brasileira (EMB) por duas décadas seguidas! Sempre apostando na pose bobalhão-pseudogalã-amigãodagalera, com tiradas tão criativas quanto as da Praça é Nossa. E buscando instigar o ridículo das pessoas. Taí: diferente do Black Eyed Peas, Latino abraçou o bizarro e faz dele sua marca registrada. Além disso, provou conhecer muito bem o nível de seu público alvo. É inegável que é competente em sua proposta. Não que isso seja um elogio. Cantoras de samba Elas foram surgindo aos montes pelos bares e pequenas casas de show no Brasil. Meninas lindas, de saias rodadas e mãos para cima cantando "lalalaiá". Mas fraquinhas na música, tadinhas. Faltava preparo, suingue, relevância e, por que não, samba. Eram aplaudidas efusivamente, afinal, no mínimo estavam resgatando o "samba de raiz" ― que anda sendo exaltado como arte simplesmente por continuar existindo. Talvez eu, realmente, não seja bom sujeito. Mas se me acusarem de ruim da cabeça, posso alegar que é efeito das vozes irritantes dessas pseudo-cantoras de neo-samba. (Qualquer ritmo aqui) universitário Forró universitário, pagode universitário, sertanejo universitário, entre outros. A fórmula é simples: pegue um ritmo já desgastado e adicione a palavra "universitário" para dar um ar de jovialidade. Use clichês da música pop, refrões pegajosos e uma pitada do ritmo citado para tentar enganar. Exemplo: coloque uma sanfona se quiser parecer forró e um chapéu de cowboy se quiser parecer sertanejo. Nas letras, fale de amor e baladas ― não importa qual o estilo. Embora existam artistas que realmente gostam do que fazem, a maioria é, como sempre, de "espertos" querendo se pendurar no bonde do sucesso passageiro. Aguardem que em 2011 lanço o próximo ritmo a estourar nas paradas: o fado universitário. Roberto Justus Justus é um daqueles caras que, por ter sucesso profissional, dinheiro, poder e influência, acham que pode tudo. Daí ter lançado um disco. Sabem o pior? Ele levou a sério e achou ótimo. Você está demitido da música, Justus. Mas não fique triste. Você ainda é milionário, casado com a Ticiane e o melhor: tem um topete impecável. E fica a dica: por que não criar um duo vocal com o Eike Batista? White Stripes Pense que você é um guitarrista bem, mas bem ruinzinho (pode imaginar Jack White sem perdas). Como se destacar musicalmente? Fácil! Dispense o baixista e chame uma baterista muito pior do que você. Voilá! Junte com um visual meio cool, meio loser e boatos sobre sua relação com a moça e a receita de sucesso está pronta. A partir disso, qualquer besteira cola. Como dizer que a sujeira do som é "estética" e que tocar um instrumento de plástico é "genialidade". O duo deveria chamar o Roberto Justus para uma jam. Se você ainda não consegue entender o quanto o White Stripes é enganação, pense em Gerald Thomas. Qualquer artista de axé Aqui, temos vários representantes da EMB. Na pré-história do gênero, "Fricote" foi um clássico; Araketu, um sucesso; Netinho (se lembram dele?) foi ídolo; Daniela Mercury e Margareth Menezes, duas das primeiras musas do gênero. O É o Tchan nos deu bons exemplos de sutileza e bom gosto ao falar de sexo, bem antes de Britney Spears nos apresentar seu repertório de danças exóticas. Aí vieram as ivetes e cláudias, versões 2000 e turbinadas de danielas e margareths. Hoje, graças à evolução do mercado, temos o privilégio de ter todos esses sub-gêneros fazendo sucesso ao mesmo tempo! Com músicas muito bem pensadas, verdadeiras revoluções estéticas. E versos que fariam Fernando Pessoa ruborizar de inveja. Vamos a alguns: ― "Pirou! Minha cabeça e o coração / Feito bola de sabão / Me desmancho por você" (como não se emocionar?) ― "Poeira! Poeira! Poeira! Levantou poeira!" (sacaram?) ― "Chi-cle-te! Oba, oba! Chi-cle-te! Oba, oba! Chiclete, chiclete quero chiclete" (declame algumas vezes com voz alta e empostada para notar a força literária) Cansei de ser sexy Uma bobagem maquiada com hype e aprovada por gringos sem noção. Destaque-se aqui que a autoestima de muitos "críticos" nacionais ainda é baixa. Um dos argumentos com os quais tentavam qualificar a banda e torná-la um "sucesso" era de que estavam fazendo "muitos shows no exterior". Lixo internacionalizado é mais chique. Num certo sentido, valeu como troco: os gringos mandam tanta porcaria para cá, que fiquem com o CSS. Afinal, a melhor (e única) contribuição musical do grupo foi o Também Sou Hype. Rafael Fernandes |
|
|