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Quinta-feira, 26/5/2011 Entrevista da Camille Paglia Vitor Diel Juca Böes: Essa mulher tem quantos anos, 97? Vitor Diel: Ah, vai. Ela tem razão. Juca Böes: Se por "razão" tu quer dizer "papo totalmente retrógrado", concordo plenamente. Vitor Diel: Hehehehe. Boa. Mas leia a íntegra da entrevista. Vais entender por que concordo com ela. Juca Böes: Fã de Daniela Mercury e que vai lançar um livro onde "cada capítulo tem uma bela ilustração colorida". PASSO. Vitor Diel: Ah, cara. Que preconceito bobo. Camille Paglia é uma das maiores pensadoras do feminino no século XX. Dê uma chance, vai. Juca Böes: Sim, eu li a entrevista. Juca Böes: Preconceito bobo é o dela com as artes atuais. Fala mal da fotografia nos filmes. LOUCA Juca Böes: E o papo sobre videogame, tem que ver isso aí. Vitor Diel: Em 2009, fui a um debate na Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre sobre adolescência. Uma das pautas era a influência do videogame na visão de mundo dos jovens: a virtualização da vida, a perda de referências sobre o outro, a popularização dos vídeos feitos em celular com embates físicos em escolas e sua relação com os jogos eletrônicos. É algo muito sério e inédito na história da humanidade que está formando nossos jovens. Isso é um pouco do que ela pretende discutir. Juca Böes: Concordo em partes com essa história toda que tu cita, mas me referia à outra parte na qual ela cita o videogame: Juca Böes: "Eu me preocupo com essa geração que cresceu com os videogames. Eles veem o mundo em termos de ciberespaço. Não com o material concreto, pintura, escultura. Eu estou escrevendo esse livro e me pergunto: onde estão os principais artistas?" Juca Böes: Há pouco tempo, a NEA colocou o videogame como uma forma de arte. Vitor Diel: Báh, concordo absolutamente com ela. A popularização do virtual se sobrepôs às artes clássicas que trabalhavam com o material, a pedra, o barro, coisas tangíveis com limitações claras. A pós-modernidade acabou com os limites e os videogames como uma referência cultural é um reflexo disso. Também acho videogames uma forma de arte, mas muito mais arte aplicada do que qualquer outra coisa. Usa técnicas de cinema, composição musical, fotografia ― elementos que, por si só, são arte, mas os APLICA como instrumentos de um produto. A Publicidade faz isso o tempo inteiro. Juca Böes: "Num bosque pode haver 30 tons diferentes de verde. Os jovens nunca viram isso. Isso é um problema enorme. As sutilezas, as sombras na pintura." Juca Böes: SÉRIO? O que ela vê? Filmes, fotos e o próprio videogame trabalham muito bem com tudo isso que ela cita. Vitor Diel: Ela tá falando do material em oposição ao virtual. São suportes diferentes que influenciam na obra. O meio altera a mensagem. Juca Böes: Sim, meu, mas tu consegue pegar todas essas nuances que ela coloca como material superior e colocar nas obras modernas. O que se produz hoje em dia não é feito no Paint. Juca Böes: É aquele típico papo de "na minha época, a música que se escutava é que era A boa.". Juca Böes: Daqui a pouco ela é contra as guitarras na música também. Vitor Diel: Eu te entendo. Mas acho que ela tá apontando um caminho: talvez nossa cultura contemporânea tenha colocado o virtual, com seus mundo de videogames, Photoshop, CGI e ausência de limitações, como referência DO QUE EXISTE, em substituição à materialidade. É na materialidade que a vida humana acontece, é ali que, historicamente, nossos valores são construídos: valores de belo e justo. Acho que ela aponta para uma alteração nessa construção de valores de belo. É uma discussão necessária. E, a propósito, ela não é careta, não! Nos anos 90, era uma das maiores defensoras da Madonna. Elas romperam relações há alguns anos, mas Camille Paglia e Madonna era uma dupla que representava muito para a cultura popular. Juca Böes: Hoje em dia ela crítica a Lady Gaga. Juca Böes: Só li essa entrevista, nem conheço ela. Juca Böes: De qualquer forma, uma tela pintada é tão intangível quanto uma tela de computador. Vitor Diel: Ela diz ― e eu concordo ― que a Lady Gaga é vazia até não poder mais. Mas não condeno: é reflexo dos nossos tempos de virtualização, smartphones, videos feitos em celular, arquivos que são cópia da cópia da cópia da cópia. Isso tudo altera o SIGNIFICADO das coisas que constituem a experiência e a formação humanas. É de se pensar, velho. Talvez ela tenha, de fato, insistido demais na questão dos videogames, nesta entrevista. Mas é uma questão importante. ninguém sabe mais o que é a COISA porque tudo é REPRESENTAÇÃO da coisa. Essa parada é séria, velho Juca Böes: Cara, acho que ela falou até pouco dos videogames. Só usei como exemplo de algo que tem um das coisas que ela crítica que falta, a paleta das cores, as sombras, o cuidado técnico. Vitor Diel: Liga pra ela. Juca Böes: Pega o Max Capacity, por exemplo. Certo que ela acha ele muito raso. Juca Böes: Discordo sobre as multicópias. Vitor Diel: Tu acordou a fim de discordar de mim. Eu entendo e aceito. Juca Böes: DISCORDO. Juca Böes: Eu discordei dela e tu discordou de mim. Vitor Diel: Hahahaha. Desculpe, não quis te deixar nervoso, confuso e arrependido. Vou comer. Fui. Para ir além "Ensaísta Camille Paglia diz que internet empobrece cultura" (Leia também "Dash, dash") Texto originalmente publicado no blog de Vitor Diel Vitor Diel |
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