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Segunda-feira, 3/1/2011 Melhores de 2010 Gian Danton 2010 foi marcado pelo final de duas sagas, mais tentativas de censura (agora com Monteiro Lobato) e por uma resposta irônica ao politicamente correto. Lost e Toy Story finalmente tiveram a parte final de suas histórias contadas. Mas enquanto Toy Story encantou tanto os velhos fãs quanto os novos, renovando o interesse pelos dois filmes anteriores, Lost foi uma decepção total. O interessante de Toy Story 3 é justamente o fato de que o garoto, dono dos bonecos, cresceu, assim como as crianças que assistiram ao primeiro filme. Isso gera uma interessante reflexão que arrancou lágrimas de muitas pessoas no cinema. A Pixar mostrou mais uma vez que bom cinema de animação se faz com ação misturada com humor, personagens carismáticos e um ótimo roteiro. Toy Story 1 causou uma revolução no mercado de animação, mas a maioria dos filmes que vieram depois, como Shrek, pegaram da fórmula apenas a ação e o humor. Assim, assistir a Toy Story 3 é reconfortante. Já Lost decepcionou em sua última temporada. A série acabou e deixou dezenas de pontas soltas, verdadeiros furos no roteiro. Não foi explicado, por exemplo, porque "os outros" pareciam ter super-poderes na primeira temporada e depois, nas temporadas seguintes, se tornaram pessoas normais. Na última temporada, abundaram personagens sem motivação real, com função puramente narrativa, como é o caso de Wildmore e sua esposa. Ambos parecem bonecos colocados na trama apenas como uma desculpa para os roteiristas esticarem a série por mais um tempo. De todos os episódios, só o que se salvou foi o que conta a origem de Richard. Muito pouco para uma série que prometia muito e entregou quase nada. Em 2010, a polêmica sobre os quadrinhos dominou a mídia. O jornalista Dioclécio Luz, no Observatório da Imprensa, chegou a sugerir que as histórias da Turma da Mônica estimulavam o bullying. Muitas vozes se levantaram contra essa análise equivocada, mas a melhor delas foi o irônico site Porra, Mauricio!. Os autores, Pablo Peixoto e Fernando Marés, mostraram com humor que, com um olhar maldoso, é possível ver qualquer coisa em um quadro de quadrinhos descontextualizado. "Queremos provar que com um pouco de má intenção qualquer um pode ver malícia em qualquer coisa, por mais inocente que seja. O segredo é tirar do contexto. Um fragmento da história sem situar o leitor, um frame do desenho animado sem mostrar seu porquê. Aí fica fácil achar pelo em ovo ou chifre em cabeça de cavalo", explicou Pablo Peixoto. Em uma sequência, por exemplo, a mãe da Mônica perguntava se ele tinha levado a farinha e o texto sugeria que a turma tinha entrado para o tráfico de drogas. Se, por um lado, Mauricio de Sousa era alvo de toda essa polêmica, por outro ele recebia uma bela homenagem. O álbum MSP 50, no qual 50 quadrinistas parabenizaram Mauricio pelos seus 50 carreira foi um dos melhores lançamentos de 2009. O álbum MSP+50 seguiu a mesma linha e se tornou um dos lançamentos mais importantes de 2010. Sem a obrigação de ser uma homenagem, esse segundo álbum conseguiu ser ainda melhor que o primeiro. Artistas do Rio Grande do Sul ao Amapá desenvolveram histórias com os personagens de Mauricio de Sousa sem fugir de seus próprios estilos. O sucesso desse segundo álbum foi tão grande que ele já virou uma franquia. Para 2011, será lançado o MSP Novos 50 e a divulgação dos selecionados tem colocado em euforia o fandom. 2010 foi também o ano dos filmes espíritas. Dois deles estiveram entre as maiores bilheterias: Chico Xavier, de Daniel Filho, baseado na biografia escrita pelo jornalista Marcel Souto Maior, e Nosso Lar, filme de Wagner de Assis. Depois do sucesso do fraco Bezerra de Menezes, os cineastas parecem ter despertado para esse filão e o fizeram com competência técnica e bons roteiros. Usando um estilo simples, mas eficiente, com um roteiro cheio de flashbacks, Daniel Filho conseguiu agradar mesmo os não-espíritas. Já Nosso Lar tem sido visto como uma ótima película de ficção científica por aqueles que não acreditam na crença kardecista. Em suma: são dois bons filmes e não simplesmente peças de propaganda religiosa. Uma outra novidade interessante é um filme de 2009, mas que saiu por aqui em DVD em 2010. Trata-se de Ágora, um belíssimo filme de Alejandro Amenábar, sobre a filósofa Hipátia, uma das mentes mais brilhantes de sua época e que acabou morrendo nas mãos dos cristãos depois de ter sido torturada e humilhada por eles. A película permite uma reflexão sobre vários assuntos e torna-se, desde já, grande candidato a ser exibido em aulas de história e filosofia, à semelhança de O nome da Rosa. Além das questões filosóficas levantadas no filme (curioso ver os filósofos discutindo o sistema de Ptolomeu, em que os planetas tinham uma órbita em torno da terra e uma outra órbita em torno de si mesmos), há as questões teológicas e históricas. Os cristãos daquela época eram o equivalente hoje aos fanáticos islâmicos. A destruição da Biblioteca de Alexandria pelos cristãos foi um crime contra humanidade equivalente ou até maior que a destruição do World Trade Center. Em termos culturais, maior, pois muito do conhecimento acumulado à época se perdeu. Na cena, Amenábar simplesmente inverte a câmera para mostrar que o mundo virou de cabeça para baixo. O mais triste é perceber que as lições de Ágora ainda não foram aprendidas. Esperamos que o ser humano evolua mais nesse sentido em 2011 e a humanidade se torne mais tolerante. Gian Danton |
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