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Quarta-feira, 9/3/2011 Informação, Redes Sociais e a Revolução Noah Mera LIANA TIMM© (http://timm.art.br/) Duas crises populares recentes parecem endossar e fortalecer certa impressão geral de que a internet e suas ferramentas sociais são máquinas de fazer revolucionários. Tanto que a primeira atitude dos governos autoritários do Irã e do Egito foi bloquear o acesso às redes sociais (e, embora tenha recebido menos atenção, o serviço de SMS também foi bloqueado em ambos os países). Segundo a Teoria do Agendamento, formulada por Maxwell McCombs e Donald Shaw, a mídia determina quais serão os assuntos discutidos pela sociedade (a agenda pública, como se dá o nome na teoria) através do favorecimento que se daria a determinados assuntos em detrimento de outros. Claro que as interações entre agenda pública e agenda midiática são alvo de discussões que estão muito longe de acabar. Nesta perspectiva, é interessante acompanhar as influências e percepções que as ferramentas sociais da internet têm causado quanto a definição das agendas. A imagem que se tem é que os assuntos em pauta na internet (aqui entram discussões em blog, mas principalmente os Trending Topics do Twitter) têm certa independência da mídia, que muitas vezes busca neles sua agenda e em outras é obrigada a abordar assuntos que de outra maneira não teria interesse em incluir na pauta. Olhando desta maneira pode até parecer, como muitos sustentam, que a internet é um Shangri-la democrático, um território mítico onde já se estabeleceu o foro social. Estaria assim resolvida a questão da Agenda Pública? Vou tentar ilustrar minha opinião sobre a revolução social com um exemplo, uma hashtag, como convém nos nossos dias: #calaabocagalvão. Um movimento iniciado legitimamente na internet contra um narrador esportivo tido e havido como chato e que tomou conta do Twitter e deixou os gringos perguntando-se o que significava aquela palavra na lista dos termos mais discutidos do site (os tais Trending Topics). Malandros como somos, passamos a inventar as explicações mais absurdas e até um vídeo (se bem que muito bem produzido, é verdade) com a informação falsa tornando tudo uma enorme piada, ou "trollagem", como se diz no dialeto da internet. Mas o sucesso da hashtag ainda animou uma parte dos internautas e logo surgiu o #diasemglobo, uma campanha para desligar o televisor em determinada data e que foi um sucesso... na internet. Fora do mundo virtual Galvão Bueno continua falante como nunca e a Globo não viu sua audiência alterar-se em nada no fatídico 25/06/2010, o tal "dia sem Globo". O que acontece com os movimentos de internet é que a informação corre muito rápido, Twitter e Facebook tornaram a reprodução de informação quase instantânea, ao alcance de um clique. "Retuíta-se" quase sem pensar, mais como brincadeira que como atitude reflexiva. Na esfera política, Sarney, que também teve o seu #forasarney, recentemente foi eleito (mais uma vez) presidente do senado sem reação alguma da sociedade. O termo "ativista de sofá" torna-se absolutamente relevante neste caso. Não que a internet não seja importante. Mas esta importância é analisada por um viés equivocado. Interessante e até irônico que a mídia tradicional, atropelada pela velocidade e eficiência da divulgação de informações on-line, se paute por temas com uma repercussão exagerada por este efeito multiplicador de informação do "retuíte". Logo a mídia tradicional, que em sua defesa justamente costuma bater na tecla da falta de confiabilidade e qualidade das informações colhidas na internet. O verdadeiro poder da comunicação mediada por computador é motivo para Mubarak e Ahmadinejad terem bloqueado as mídias sociais; não é o medo da influência, de que as pessoas sejam convencidas, levadas à ação pelas manifestações on-line. O verdadeiro motivo é dificultar o fluxo de informação para a organização das pessoas em uma sociedade que já está orientada para o protesto, a revolução. Claro que o tal bloqueio é um tiro no pé, força os ativistas de sofá a uma atitude, arma todas as mídias com mais argumentos, enfim, alimenta um ciclo que aí, sim, gera atitudes práticas. Noah Mera |
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