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Segunda-feira, 13/6/2011
Festival de Mantiqueira, Oprah Winfrey e Ronaldo
Daniel Bushatsky

A cidade continua linda. As pessoas acolhedoras e simpáticas ― não daquele jeito falso, mas sincero, do interior ―, os restaurantes os mesmos (o Alegro, por exemplo, serve todos os anos o seu escondidinho, com a famosa sobremesa de suflê de goiabada com queijo mascarpone ― delicioso) e a pousada, que já fico há quatro anos, não mudou nem o estilo das toalhas.

São Francisco Xavier, distrito de São José dos Campos, continuava igual: carismático, acolhedor e charmoso. O problema mesmo foi o IV Festival da Mantiqueira ― Diálogos com a Literatura.

É a primeira vez que escrevo sobre ele aqui no Digestivo Cultural. Confesso que era um local que gostava de acreditar que era só meu, meu segredo com o mundo. Não queria divulgar, por ciúmes, este lugar encantado, próximo de São Paulo.

Desde o primeiro Festival acompanhei a cidade e o evento. Diferentemente da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), não há filas para acompanhar as palestras, muito menos se tem que pagar por elas. O clima? Mais amistoso.

Amistoso porque na FLIP, me parece, há uma eterna onda de tensão no ar, entre a necessidade de uma organização perfeita e os dribles perfeitos nos egos dos vários autores convidados.

Infelizmente, tive que deixar o ciúme de lado (e que ciúme!) para expressar o meu profundo descontentamento com o Festival deste ano.

O problema já começa no site (e nos outros anos era igual, mas eu não ligava), que possui linguagem atrasada e de difícil acesso a programação (que eu nunca achei). Pior, se você entrar no site hoje, verá fotos e programação do ano passado, ou seja, desatualizado!

Chegando ao charmoso distrito, me deparo com a propaganda de editora, que promete a publicação de seu 1º livro, sem maiores burocracias. Não estudei a fundo o negócio, mas senti que tal editora patrocinava o evento e podia induzir escritores pouco afetos à criação literária, a se sentirem novos "Paulo Coelhos". Se isto é válido ou não, é assunto para outro artigo. O fato é que as poucas obras que vi desta editora não me parecerem de muita qualidade (mas posso e espero estar enganado).

Finalmente, sobre as palestras, ouso dizer que os palestrantes, em sua maioria, não estavam comprometidos com o tema divulgado. O mediador, sempre o mesmo, bem que tentou intervir, mas, ao que parece, os palestrantes estavam com seus egos inflados e mais dispostos a contarem "causos" do que focar em suas apresentações, o que é um desrespeito com o público, que se deslocou de suas cidades, em especial para assistir às palestras.

Falando em público, foi à primeira vez, também, que as palestras não estavam lotadas. É verdade que se, a priori, isto dá uma idéia de algo mais caseiro e era justamente isto que me fascinava neste Festival, por outro lado, não precisamos exagerar. A maioria das pessoas que falo, ligadas a cultura, não sabem da existência do Festival da Mantiqueira.

Fico me perguntando: o que aconteceu?

Coincidentemente, no período do Festival da Mantiqueira, dois fatos importantes aconteceram.

O primeiro foi a aposentadoria da apresentadora Oprah Winfrey. Pessoalmente nunca assisti aos programas dela, mas não deixa de ser curioso ela ter ficado no ar por 25 anos, sendo considerada a 3ª mulher mais influente do mundo e atingido no programa de despedida a incrível audiência de 15 milhões de espectadores.

Não sei o que Oprah era exatamente (visionária, empreendedora, ligada a filantropia), li e ouvi de tudo. Acho que ela era, acima de tudo, otimista!

Quando você é otimista, tudo fica mais fácil. Não para otimistas ingênuos, mas para os otimistas que querem modificar algo no mundo, concretamente. Ora, a apresentadora mostrou ser diferente, lembrando que a concorrência nos EUA, de apresentadores de talk show, não se resume ao Jô Soares! Inovação era sua arte!

O outro fato foi a despedida do Fenômeno. Gordinho, lento, mas muito, muito mesmo, carismático e, principalmente, esforçado! Sempre que foi derrubado, deu a volta por cima. Quem não torce por ele? Só invejosos!

As características acima são as que faltaram ao Festival da Mantiqueira:

Otimismo, de que poderá ter seu espaço no circuito literário nacional!

Carisma, é só aproveitar o charme do São Francisco Xavier e fazer com que seus espectadores se sintam em casa!

Esforço, bom, esforço é raça! Se este ano caiu a qualidade (por favor não dos Autores, na organização e no comprometimento), nada como ano que vem trazer grandes nomes da literatura, treinar e diversificar os mediadores e incitar as cidades do Vale do Paraíba a comparecerem neste grande evento!

De minha parte, vou vencer meu ciúme e divulgar este maravilhoso Festival.

Torcendo, sempre, para ele continuar pequeno em proporções, mas grande em qualidade.

Enfim, um lugar especial para quem gosta de uma boa comida e uma ótima discussão!

Daniel Bushatsky
São Paulo, 13/6/2011

 

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