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Segunda-feira, 7/11/2011
Planejamento
Daniel Bushatsky

O país mais odiado do mundo está construindo um centro médico especializado em crianças e no tratamento de câncer, em uma cidade pantanosa.

Afora o centro médico, que terá hospital equipado com uma das tecnologias mais avançadas do mundo, haverá também uma nova faculdade de medicina.

Como a faculdade neste país, em regra, é privada e muito cara, o governo subsidiará o primeiro ano. Não, não será cobrado em módicas parcelas com juros altíssimos, por duas razões. Primeira e óbvia, neste país os juros são baixos, para incentivar, entre outras coisas o desenvolvimento de novas empresas. Segunda e não tão clara: o governo quer atrair os melhores alunos para esta nova faculdade!

Perto do tal centro, já estão sendo construídos vários condomínios residenciais. O tamanho e o design das casas variam de acordo com o gosto do cliente e seu poder aquisitivo. O importante é que ele se sinta confortável e possa trabalhar ou estudar com afinco e não perca muito tempo no tráfego.

Como manda o american way of life moderno, você não pode somente trabalhar. Por isto, a nova ordem é também se divertir. Uma opção, na cidade pantanosa em foco, seria ir aos parques mundialmente famosos (como a voz eletrônica do aeroporto deixa claro no primeiro minuto que você desembarca do avião). Mas o conceito de diversão não é somente este.

A diversão está mais ligada a saborear a vida. Ver o lado positivo dela. Como já dizia o clichê: fazer do limão, a limonada! Você pode se divertir de inúmeras formas, o importante é que você esqueça um pouco o stress do dia a dia, saia um pouco da rotina, enfim, faça algo que tire sua atenção dos inúmeros problemas que os centros urbanos nos apresentam, tais como tráfego, violência, poluição e, mesmo que indiretamente, excesso de trabalho.

Se você conseguir trabalhar e se divertir, você conseguirá viver!

Este é o último pilar da nova onda deste país: work, play and live. Ou seja, trabalhar, se divertir e viver.

É impressionante que mesmo com todo ódio que desperta, com a crise que o famigerou há alguns anos, este conceito esteja nascendo!

Não sei ao certo a extensão e alcance deste conceito, mas quero incorporá-lo ao meu estilo de vida.

Vale fazer um parêntese, Edward Glaeser, da Universidade de Harvard, em seu livro "Os Centros Urbanos: a Maior Invenção da Humanidade", conta que nos países onde mais de metade da população é urbana, 47% das pessoas se dizem felizes. Imagina nos países onde a moda é work, play and live.

Para que o Brasil alcance isto ou consigamos alcançar isto sozinhos, acho que falta uma palavra chave: planejamento!

Esta cidade pantanosa já tem em seus governantes uma política de crescimento e atração de novos negócios, que varia de turismo (parques mundialmente famosos, com um ratinho carismático como expoente), novas empresas (serviços e produtos) para até serviços médicos pioneiros.

Não vemos isto no Brasil. A revitalização do centro de São Paulo não acontece. As obras de infra-estrutura para a Copa são sempre atrasadas e cheias de escândalos. Até mudança na Lei de Licitação e derrogação de cláusulas de transparência são "necessárias" para o país, morosamente, caminhar.

Não é só revolta pública que precisamos. Precisamos de planejamento!

As empresas pedem isto aos seus candidatos. Onde você quer estar daqui 1, 5 e 10 anos?

Pergunto: onde o Brasil quer estar daqui 1 mês?

O país mais odiado, ou será o mais invejado do mundo, certamente quer continuar no topo! Inclusive, com o ritmo atual de crescimento do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) o Brasil, demoraria 35 anos para atingir a renda per capta deles.

Não podemos fechar os olhos para cidades que planejam, mesmo que aparentes paradoxos surjam. No pobre Estado do Pernambuco, a cidade de Paulista se destaca como a pioneira em crescimento de emprego, com seus cursos de especialização. Por outro lado, a mesma pesquisa mostra que a cidade é a 5ª pior do país quando falamos de educação básica. Este é retrato do Brasil: um contraste, pois mesmo quando há planejamento ele não é interligado nem mesmo no mesmo assunto: educação para capacitação da população. Em Paulista, há cursos de especialização pela demanda de grandes empresas ou grandes empresas por causa dos cursos de especialização?

Os dados do parágrafo acima foram tirados da reportagem da revista Veja, intitulada "O Grande Salto do Brasil Urbano", publicada na edição de 9 de novembro de 2011, que recomendo a leitura, mas já adiantei, como visto, uma aparente contradição.

Para continuarmos crescendo, buscando a felicidade e o novo american way of life, devemos tomar cuidado com as variações (negativas) mais comuns da expressão work, play and live: "viver, com um trabalho divertido" ou " vivo trabalhando, nunca me divirto".

Planejamento: esta é a chave para o trabalho, ops, para viver!

Daniel Bushatsky
São Paulo, 7/11/2011

 

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