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Segunda-feira, 12/12/2011
Palhaço
Daniel Bushatsky

Palhaço "Sou um palhaço" ou "você é um palhaço". As duas expressões existem? Qual é a certa?

No Brasil as duas expressões são corretas, somente dependem do ponto de vista. Se palhaço é alguém que faz rir, tem momentos que sou um palhaço e tem momentos que vejo vários deles andando na rua.

Quando leio que o puxadinho do aeroporto de Cumbica caiu, que o Lupi fica no governo ou mesmo que na Coréia do Norte ainda existem campos de concentrações para prisioneiros políticos (talvez mais de 200 mil), punidos com a morte caso "roubem" comida, me sinto um verdadeiro palhaço (ou será que estou vendo um monte de palhaços?). Onde está a empresa séria, a ética e a ONU, respectivamente? Ah, talvez estes sejam os palhaços!

Ao mesmo tempo, leio no jornal notícias mais animadoras, como a GM americana que irá recomprar seu primeiro carro elétrico, o Volt, dos consumidores que se sentirem com medo de pane elétrica, pelas recentes e noticiadas falhas na bateria. Outro exemplo de compromisso é o da Honda que anunciou o recall de 300 mil veículos no mundo inteiro. Atitudes, êta, que dão orgulho de ver!

Os fatos/notícias narrados acima, foram tirados do jornal no decorrer da última semana e me pareciam tristes, paradoxais, palhaçais. É verdade que estava sensível após assistir ao filme "O Palhaço", do Selton Mello, no domingo passado. Eles me pegaram de forma estranha.

Não é a primeira, nem a última vez que lerei notícias muito parecidas com estas: a maioria me fazendo rir (para não chorar) e algumas para mostrar que o mundo tem salvação, há empresas com ética no mercado e pessoas honestas e cheias de boas intenções.

Quanto aos palhaços em si, pessoalmente sempre me assustei com estes seres. Nunca gostei da roupa. O macacão e os grandes sapatos sempre me pareceram fora de moda, fica a dica, poderiam ser reestilizados. Já a maquiagem, de filme de horror. Quando criança, o único efeito que faziam em mim era de aterrorizar!

Mas o pior mesmo, desculpem, são as piadas: sempre me pareceram forçadas. Como o humor exige algo inesperado, sendo uma ironia fina do cotidiano, é natural que poucos consigam e, mais natural ainda, que na maioria das vezes as piadas pareçam super forçadas.

Sempre gostei de piadas de momento (não preparadas), aquelas feitas a partir de conversas banais (ou não), que trazem em si uma sátira da nossa rotina, da nossa pequenez, talvez, ouso, da nossa mediocridade.

É este último ponto que me atraiu no filme de Selton Mello. A procura da felicidade, metaforizada no palhaço medíocre que se questiona o que está fazendo, na verdade traz a procurada do conhecimento próprio.

Quantos se questionam o que estão fazendo ou mesmo o que estão acrescentando neste mundo? Pessoas que fazem isto acabam sendo, paradoxalmente, mais felizes e mais tristes ao mesmo tempo.

Mais felizes, pois estão sempre preocupadas em realizar "coisas" que a deixam satisfeitas, questionando a importância de seus atos e buscando algo a mais.

Mais tristes porque acabam observando as inúmeras possibilidades de atividades possíveis e percebendo que o ditado "é impossível abraçar o mundo" é verdadeiro. A voracidade traz muitas opções, que acabam em desilusões e a sensação de impotência.

Porém, uma certeza pode se extrair: quem procura o conhecimento próprio acaba saindo de dogmas e, portanto, sendo menos medíocre. Esta talvez a maior transformação do personagem vivido por Selton Mello, em seu filme, ao se distanciar de seu circo, tentar algo novo, procurar um possível amor para descobrir que sua verdadeira vocação é fazer os outros rirem.

Alguns poderiam levantar que a mediocridade é um conceito relativo. Felicidade também o é. O importante é tentar descobrir o significado destas palavras subjetivas para você.

A verdade é que se não quisermos fazer piadas forçadas e se quisermos entender as ironias de nossas vidas, precisamos tirar o macacão e nossos grandes sapatos para fazermos humor fino da nossa própria mediocridade, o que será nossa melhor autocrítica.

Caso o contrário, continuaremos no picadeiro e tomados por aquela sensação de impotência, da rotina sufocante, da mediocridade..., da piada forçada, como ver o puxadinho de Congonhas, a esperança da Infraero para combater o apagão aéreo, cair!

Cadê o meu macacão?

Daniel Bushatsky
São Paulo, 12/12/2011

 

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