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Segunda-feira, 27/2/2012
2011 e meus álbuns
Rafael Fernandes


The Dear Hunter ― The Color Spectrum

The Dear Hunter faz um pop rock bem azeitado com influências de rock progressivo, mas sem passar do ponto. No ano passado, o grupo lançou uma série de nove EPs com quatro faixas cada, em que cada título tem o nome de uma cor. O nome do projeto é, claro, The Color Spectrum. As músicas tentam seguir o que as cores comunicam. O Yellow, por exemplo, é solar, de canções mais simples, com influência do pop mais alegre dos anos sessenta. O Orange segue a linha do Yellow, mas é musicalmente mais quente, pendendo mais para um rock setentista. Black procura caminhos mais obscuros, duros, com programação eletrônica e distorções cruas. Já Indigo opta por climas e texturas sonoras ― esses dois últimos estão entre os mais interessantes por procurarem caminhos musicais mais arrojados.




Mastodon ― The Hunter

Um dos discos mais aclamados pela crítica especializada, The Hunter é realmente muito bom. Apesar de não fazer nada absolutamente novo, o Mastodon se firma como uma banda de metal que pensa. Consegue mostrar algo de diferente, sem as sufocantes repetições do estilo. Os vocais tem a agressividade característica, mas sem os exageros, por exemplo, do metal extremo.The Hunter, aliás, apresenta vocais mais suavizados ― na medida do possivel ― e esse é um dos trunfos do disco. "Blasteroid" é uma boa amostra: musica empolgante com ótimo riff, mesclando vozes sujas com momentos mais próximos da melodia. "Stargasm" traz um começo viajante, com belos acordes. A música segue com uma pegada pesada para chegar no refrão arrebatador.




Animals As Leaders ― Weightless

Weightless é destinado a quem gosta de metal instrumental com guitarras virtuosas. Tosin Abasi, guitarrista e líder da banda, é um dos grandes destaques do instrumento nos últimos anos. Ele usa uma guitarra de oito cordas e, apesar de se valer de várias técnicas conhecidas no instrumento (arpejos, tappings, etc), seus arranjos e sonoridades trazem novidades. "An infinite regression", a abertura do disco, já começa diferente, enigmática. O começo de "Isolated incidents" tem um curioso jogo de guitarras que "duelam" nos canais esquerdo e direito. "Somnarium", com seu peso e ritmo quebrado, é uma boa amostra do disco. "Do not go gently" é outro destaque, com seus riffs ferozes. E "New eden" vai do peso e crueza iniciais até um belo final, de acorde limpos.




Björk ― Biophilia

Não vi como é o app para iPad de Biophilia, que promete uma nova forma de interagir com um álbum. Mas, na música, é mais um conjunto das idiossincrasias de Björk: experimentações sonoras, instrumentos nada usuais, melodias tortas. Ela desafia as formas mais tradicionais de se construir um arranjo. Não é um disco fácil. Há a união de vozes usadas em intervalos que causam, num primeiro momento, mais choque do que empatia. Björk é uma artista de verdade, que vai fundo em sua música, procurando ao mesmo tempo canções sensíveis e combinações de sons pouco ouvidas. Um exemplo é a abertura, "Moon", que à primeira audição pode soar levemente confusa. Mas à medida que vamos ouvindo repetidas vezes, a canção vai, de certa forma, se construindo em nossa mente, como um quebra cabeça. Quando completo, expõe um belo registro. Biophilia é um convite à audição atenta e repetitiva. Se bem absorvido é um álbum marcante.




Danilo Moraes ― Danilo Moraes e os Criados Mudos

Danilo Moraes lançou um disco muito bom e ― raridade hoje em dia ― bastante divertido, mas sem ser bobalhão. Nesse novo disco ele se firma como um compositor de personalidade. Um dos destaques do álbum é o formato trio da banda: guitarra (o próprio Danilo), baixo (Zé Nigro) e bateria (o sempre ótimo Guilherme Kastrup). Sim, tem uma camada adicional aqui e ali, mas são os três que seguram o disco todo. O registro traz parcerias de Danilo com artistas da nova geração, como Céu, Rodrigo Campos e Anelis Assumpção e também consagrados como Zeca Baleiro e Chico César. Nas letras, além do humor, aparecem boas observações sobre o cotidiano urbano. Tente resistir ao refrão de "Criado mudo", à sinuosidade de "Mulambento" ou à beleza de "Suprema flor".




Pain Of Salvation ― Road Salt Two

Road Salt Two continua a sonoridade do primeiro disco, lançado em 2010. É um Pain Of Salvation mais cru e direto, com muita influência do rock dos anos setenta. Pode ser um direcionamento controverso para os fãs, mas saudável: não dá para ficar sempre nos clichês do metal progressivo. Em várias passagens, o vocal de Daniel Gildenlöw está mais estridente do que nunca, o que pode desagradar a muitos. Um bom exemplo é "The deeper cut" em que, embora a voz apareça levemente exagerada, está bem colocada no contexto da música e, principalmente, da letra. Porém, na maior parte do tempo ele consegue equilibrar nas interpretações, como em "Softly she cries", uma das melhores dos dois discos.




Toninho Ferragutti e Bebê Kramer ― Como Manda o Figurino

Um disco só com dois acordeons poderia, honestamente, ser uma furada. Até por ser um instrumento muito maltratado pelos popularescos do momento. Mas a presença de Toninho Ferragutti anima. Seu disco Nem Sol Nem Lua, como escrevi aqui, é ótimo, de extremo bom gosto. E ele mantém o tom neste lançamento, em parceria com Bebê Kramer. A elegância é a regra. A dupla consegue ser precisa na colocação das melodias sem perder o virtuosismo. Mas nada é dado de graça, é um disco para ser ouvido com atenção. "Na sombra da Asa Branca" (Toninho Ferragutti) é uma daquelas músicas que prende a atenção de primeira. "Choro da madrugada" (Toninho Ferragutti) é linda; com menos de dois minutos, pede repetição. Bebê Kramer também se mostra compositor de respeito, como em "Choro Esperança" e "Outra valsa" (essa, em parceria com Guto Wirtti).




Lenine ― Chão

Os discos de Lenine sempre se sobressaem no quesito produção, com sonoridades diferenciadas. Esse Chão vai além e usa "barulhos" do dia a dia, como uma chaleira ou um passarinho, para compor os arranjos. O resultado é bom para quem gosta desses detalhes. Mas será que o público em geral vai absorver? De qualquer forma, não fica só nas minúcias dos sons. Há também ótimas músicas. Os riffs de "Se não for amor eu cegue" e "Envergo mas não quebro" tem o flerte com o rock, sempre presente nos discos de Lenine. "Uma canção e só" é uma das mais belas músicas que ele já escreveu. Tem um estilo mais próximo de uma canção "clássica" da música brasileira, com bela variação de acordes ao violão e ótimas melodias.




Pipo Pegoraro ― Táxi-Ímã

Esse disco é uma ótima surpresa. Não porque seu primeiro lançamento Intro, de 2008, seja fraco, ao contrário. Tem boas canções e já apresenta um compositor atento e caprichoso na parte sônica. Mas Táxi-imã apresenta um vigor não tão presente anteriormente. As influências afro-caribenhas dão ao molho musical um sabor mais apimentado. A irresistível faixa título é uma boa evidência. "Ouro bondali", com seu duelo de riffs entre volão e metais, mantém a intensidade. A boa "Samambaia" tem a participação de Luisa Maita e é mais uma prova de que ela é uma das vozes mais interessantes de sua geração.




Dream Theater ― A Dramatic Turn Of Events

Depois de todo o drama excessivo em torno da saída de Mike Portnoy, o Dream Theater, agora com o ótimo Mike Mangini na bateria, lançou A Dramatic Turn Of Events, um bom disco. É mais equilibrado, consistente e melhor pensado do que seus últimos três lançamentos. O problema é que, assim como em seus antecessores mais recentes, a banda mostra o desgaste natural de seu estilo. Tudo é bem feito, mas parece já ter sido utilizado inúmeras vezes. O Dream Theater corre o risco de virar um novo Iron Maiden e se tornar uma caricatura. A Dramatic Turn Of Events mostra que tanto os remanescentes quanto o próprio Mike Portnoy estavam corretos em seus argumentos para continuar ou não a banda. No primeiro caso porque, sim, a banda sobrevive bem sem um de seus fundadores. Mas, como Portnoy sinalizou ― ainda que indiretamente ― já mostram muita repetição em sua fórmula.




Radiohead ― King Of Limbs

Em King Of Limbs, o Radiohead mostra mais uma vez arranjos pouco usuais, fugindo das obviedades do pop. Apesar disso, não é um grande disco: as músicas parecem mais experimentos sonoros do que canções bem acabadas. Mas tem bons momentos. "Bloom" é uma boa abertura, com sua batida hipnótica e o vocal propositadamente desleixado, característico de Thom Yorke. "Morning Mr Mapple" tem um jogo de três guitarras bastante interessante. Em "Little by little" o destaque é a alternância, em toda a música, entre a batida eletrônica e a bateria acústica. Minha preferida é "Codex", uma balada estranha, na linha do grupo. Melancólica e bela na medida certa.

Rafael Fernandes
Araçoiaba da Serra, 27/2/2012

 

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