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Segunda-feira, 31/12/2001
É Natal!
André Pires

Nesta época de Natal começamos a nos sentir mais leves, felizes e emotivos. Comigo pelo menos sempre foi assim: as lojas enfeitadas, os filmes de Natal nas sessões da tarde do SBT, as telonas do cinema, as tradicionais luzinhas que desafiam autoridades e invadem a cidade do Rio mesmo em tempos de apagão...

Assim como a TV anunciando a triste e temida “Volta as Aulas” me atemorizavam com as promoções de cadernos, canetas e borrachas das Lojas Americanas. Mesmo em criança me provocavam uma depressão de gente grande. Os anúncios de Natal, no entanto, até hoje, são como uma benção para o espirito.

São como o aviso da chegada de uma época de Paz, Amor e Ternura entre os homens de boa vontade, anunciada no horário nobre da Rede Globo, diariamente, após a novela das oito. Estes anúncios são como a estrela guia no céu de Jerusalém anunciando a chegada do Deus menino. Chego a sentir um leve friozinho do Pólo Norte atravessando a espinha, mesmo nesse calor senegalês do verão carioca.

Porém confesso que minha atual condição de trabalhador inglório deste Brasil, não me permite curtir muito esse espirito Natalino, tanto por falta de tempo como por falta de motivação.

Não dá mais para assistir as sessões da tarde e programas especiais de Natal em todas as emissoras, cumprindo meu ritual de preparo e aclimatação psicológica para a grande noite. Sempre foi quase que uma divertida obrigação, uma rotina prazerosa e metódica na qual eu praticamente me forçava a entrar no clima Natalino. Os filmes eram (e ainda são) sempre os mesmos, e aqueles do SBT, como "A Rena do Nariz Vermelho" feito com bonequinhos de massa tabajara, além de mais antigos do que peru de Natal, são uma droga. Mas fazia parte de meu ritual infantil de alegria e, com um misto de responsabilidade desnecessária e senso de dever cívico fora de propósito, eu me refestelava diante da TV por horas a fio. Convites para jogar bola eram declinados categoricamente. Havia uma missão de paz a ser cumprida por este solitário soldado das forças da ONU natalina.

Infelizmente o tempo passa, e não dá mais para espionar o misterioso baú da vovó tentando com olhos de raios-X adivinhar que presente fora reservado para mim por baixo de todo aquele embrulho em formato retangular. Nem mesmo arquitetar negociatas entre com o irmão e primos: -"Me diz o que sua mãe vai me dar que eu te digo o que a minha vai te dar". Mesmo com a queda da mais deliciosa ilusão natalina - Papai Noel e seus presentes infindos - aquilo era como que a manutenção de uma alegria e inocência que se perde diariamente e a olhos vistos.

Agora este texto na verdade tem o intuito de agradecer e homenagear meu querido primo Marcelo Cabral. Ano após ano, debaixo de sol ou neve, empregado ou não, nunca se absteve de montar um dos mais poderosos símbolos do início do Natal: a gloriosa e super produzida Árvore de Natal da casa de minha avó!

Quando soube que mais uma vez ele havia se encarregado de tal obra, uma pontinha de HO! HO! HO! brilhou dentro de mim. Por um breve momento, em meio a planilhas, tabelas e notas fiscais, eu senti aquele friozinho do Pólo Norte (e olha que o ar-condicionado estava quebrado nesse dia).

Parabéns, e obrigado por me fazer sentir aquela velha sensação que até então não havia se manifestado neste Natal. Melhor que isso só se a gente ainda acreditasse em Papai Noel!

André Pires
Rio de Janeiro, 31/12/2001

 

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