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Sexta-feira, 28/2/2014 Abelardo e Heloísa Gian Danton Pedro Abelardo foi um dos mais importantes filósofos da Idade Média. Diante da questão entre realistas (que, influenciados por Platão, acreditavam que as palavras universais, como "homem", tinham existência real) e nominalistas (que acreditavam que os universais eram apenas nomes, não tendo existência nem na natureza, nem na mente), ele apresentou um terceiro caminho, o conceitualismo, que sintetizava elementos dos dois e pregava que os universais são conteúdos da mente derivadas das coisas. Com suas ideias e novas formas de ensinar, ele criou a base do ensino universitário. Mas, para além de suas ideias, Abelardo ficou mais conhecido por ter protagonizado uma das mais famosas histórias de amor de todos os tempos, influenciando o que viria a ser o romantismo. Depois de passar por diversas cidades e ser perseguido por sua genialidade e espírito rebelde, Abelardo chegou em Paris em 1113 e começou a lecionar na escola de Notre Dame. Nessa época já era um professor famoso e suas aulas eram concorridas. Sua metodologia revolucionária quebrava com a metodologia platônica, maravilhando os alunos com o jogo de argumentação. Foi nesse período que ele conheceu uma jovem de 17 anos que chamava a atenção de todos por sua beleza e inteligência, Heloísa. Interessado em conquistar a moça, o filósofo se aproximou do tio (o cônego Fulberto), com a qual ela vivia e se ofereceu para ensinar à moça gratuitamente, em troca de moradia na casa. O cônego não só aceitou a oferta, como confiou a sobrinha inteiramente à orientação do filósofo, que poderia, inclusive, castigá-la severamente caso esta não se aplicasse nos estudos. Então começa a tragédia: Fulberto flagra o casal e expulsa Abelardo de casa. Mas nessa época Heloísa já estava grávida. Ainda tremendamente apaixonado por ela, Abelardo a tira às escondidas da casa do tio e a leva para sua terra natal, onde ela fica, na casa de uma irmã do filósofo, até dar à luz ao filho do casal, Astrolábio. Nesse meio tempo, Abelardo procura Fulberto e se oferece para se casar com a moça, desde que isso fosse mantido em segredo, a fim de que sua reputação não fosse prejudicada. Heloísa, no entanto, não concordava com o plano. Segundo ela, o casamento acabaria com a carreira do amado, pois, na época, acreditava-se que um verdadeiro filósofo deveria ser celibatário. Cícero, por exemplo, ao ser instado a casar com a irmã de Hírcio, respondeu que não podia consagrar-se igualmente a uma mulher e à filosofia. "Quem poderia, aplicando-se às meditações sagradas ou filosóficas, suportar o vagido das crianças, as cantarolas das amas que embalam e a multidão barulhenta da família?", indagava Heloísa. No final, o casal concordou com o casamento, desde que ele fosse totalmente secreto. Unidos pela benção nupcial, foram cada um para lado e se viam apenas às escondidas. O tio, envergonhado com a situação, passou a divulgar o casamento. Abelardo, para evitar o falatório, enviou Heloísa para um convento de monjas. Ultrajado, o tio arquitetou uma vingança que se tornaria célebre: mandou castrá-lo. Além da ferida, havia a vergonha: na época os eunucos eram considerados impuros e proibidos até mesmo de entrar nas igrejas. Ferido no corpo e na alma, humilhado, Abelardo internou-se no mosteiro de Saint-Denis, tornando-se um monge para o resto da vida. Heloísa, com apenas 20 anos, ingressou definitivamente no convento. Desde então, os dois nunca mais se viram, apenas trocaram cartas nas quais lamentavam a má sorte que os jogara naquela situação. Abelardo morreu em 1142, com 63 anos. Heloísa conseguiu que se construísse uma sepultura em sua homenagem. Quando ela morreu, em 1162, foi sepultada ao lado de seu amado. Conta-se que ao abrirem a sepultura de Abelardo para enterrar Heloísa, seu copro ainda estava conservado e se mantinha de braços abertos, como se esperasse a chegada de sua amada. Em 1817 os restos mortais dos dois amantes mais famosos da Idade Média foram levados para o cemitério do Padre Lachaise. A história dos dois deu origem a um filme, Em nome de Deus, de 1988, de Clive Donner, que pode visto aqui Gian Danton |
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