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Terça-feira, 5/2/2002 Impropriedades políticas Bruno Garschagen Um político decadente, alçado à presidência do partido, inicia um importante discurso: "Senhoras e senhores presentes a esta reunião do Partido do Ateísmo Cristão (PAC) (em coro, Amém!): convoco-os a refletir sobre as mazelas de nosso mundo paupérrimo. Mundo este em que pobres diabos (desculpe a heresia, senhor) nascem, crescem e morrem, muitas vezes sem ter o que comer, e, o que é pior, sem nunca ter experimentado um único, um mísero, gole de uísque. É preciso que haja uma união de forças capaz de nos garantir o que é nosso, e o que for dos outros também, desde que esses outros não cuidem de forma apropriada daquilo que lhes pertencem, como os maridos de mulheres bonitas e ricas. Não raro, as vemos em filmes e novelas completamente transtornadas, desiludidas. É incabível que uma coisa dessas continue a ocorrer. Pelo bem do partido. Outra situação que devemos olhar com carinho é o preconceito contra os ricos. Os pobres (perdoem a minguada figura de linguagem) sofrem de um estigma dos brabos pela plebe e pela classe mídia, ops, média, que teimam em tomar conta do País pelo simples argumento de serem maioria. Acho uma injustiça sem precedentes na história das sociedades essa má-vontade contra os endinheirados, contra a burguesia. Afinal, eles não têm culpa dos milhões conquistados ou herdados. Muitas vezes, a dinheirama toda causa perturbações inimagináveis pela turma do andar de baixo. Imagine você chegar num shopping, numa concessionária, numa adega, no Lamas (importante reduto intelectual do Rio), e não saber quantos milhões gastar. A dúvida entre levar tudo ou só a metade do que está à venda é tão cruel quanto, ao populacho, escolher entre o bife ou o ovo no almoço. Dói na alma. Senhores e minhas (enfatizando) senhoras, devemos também elaborar uma forma eficaz de ajudar a Jade a sair das garras do malvado Said. E nem é para entregá-la ao clonado Lucas, porque, com a bacia quebrada, será impossível agüentar aquela dança do ventre (Shalala, Ulalá). Vamos convencê-la a entrar em nosso querido partido e, aí, não haverá mais oposição (da nossa parte) à inocente queda do último véu (Shalala, Ulalá, ops!, Amém - em coro: Amém!) Como presidente do Partido do Atéismo Cristão, o único a unir perseguidores e perseguidos, apesar de sermos da situação (a que estiver melhor, claro), devemos nos voltar contra a tal Roseana do Maranhão. A choldra, meus caros correligionários, ainda não percebeu que há uma incoerência brutal na candidatura dessa política, que tem a grande vantagem de ser uma bela mulher. Independente de questiúnculas ideológicas e partidárias, prefiro ela ao Lula (um assessor cutuca o presidente do PAC pela impropredade da fala). Perdoem-me a exaltação (se desculpando e enxugando a testa com o lenço). Voltando ao tema, diria que é biologicamente impossível a candidata à presidência da República ser do PFL. Ou é mulher ou é do PFL. É pura física: condições antagônicas não ocupam o mesmo lugar no espaço, mesmo que seja o vago espaço político. O maior medo do partido é, ao receber a faixa de nosso querido imperador (em coro: Amém!) Dom Fernão, ela tire a máscara e surja um pomposo bigode. Para não sermos tachados de compor uma sigla machista, conclamo a todos a votarem em nossa candidata, escolhida por unanimidade pela cúpula do partido. Numa reunião pública realizada no Down Town, optamos pela Ramona. O máximo que pode acontecer é, ao receber a faixa, virar a Cláudia Raia. O que não seria um mau negócio. E tenho dito". Ao final do exaltado discurso, o presidente do Partido do Atéismo Cristão só ficou irritado com o fato de que suas palavras tenham feito dormir todas as 30 crianças do berçário da Santa Casa de Misericórdia. Os futuros diabinhos dormiam como anjos. Bruno Garschagen |
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