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Segunda-feira, 17/11/2014
A novilíngua petista
Julio Daio Borges

Você já tentou discutir com um petista? Então você sabe do que estou falando. Como se vê todos os dias pelo noticiário, o PT não aceita a contestação. E os petistas não sabem conviver com o "contraditório". Em suas fileiras, apenas discípulos fanáticos. Ou se é um militante cego ou se é considerado um inimigo da seita. Sua guerra também é santa; e eles têm até o seu messias...

Fiz este "manual" para mostrar que petistas não discutem, apenas mimetizam a discussão. Logo, se você entrar numa "discussão" com eles, e tiver lido este texto, já sabe o que vai encontrar...

Novilíngua é um termo de "1984", o romance de George Orwell. Na distopia de Orwell, o governo central, ou Big Brother, inverte os termos, para justificar um regime totalitário. Assim, o Ministério da Verdade cuida da falsificação do noticiário, e da reescrita da História; e o Ministério da Paz vive de fazer a guerra indefinidamente. Qualquer semelhança - com o que estamos vivendo - *não é* mera coincidência...

* "Mentira virando verdade" - Vimos isso durante a campanha eleitoral. Era *mentira*, por exemplo, que a inflação estava "controlada" - mas a informação foi veiculada como *verdade*, e até repetida, pela presidente, durante os debates. Finda a eleição, qual foi uma das primeiras medidas tomadas? O aumento dos juros - para controlar a inflação.

* "Verdade virando mentira" - Do mesmo modo, era *verdade* aquela informação, na matéria de capa da Veja, de que Dilma e Lula "sabiam de tudo". Exemplares da revista foram apreendidos, a sede da editora Abril foi vandalizada e a presidente, inclusive, veio a público "desmentir" a reportagem... Acontece que a própria Folha repercutiu a informação contida em Veja. O Globo a colocou inicialmente em dúvida; mas depois voltou atrás. E o Estadão, recentemente, emplacou o seguinte editorial: "Lula e Dilma sempre souberam". Ou seja, era *verdade*.

* "Bandidos virando heróis" - Essa prática se consagrou durante o julgamento do mensalão, em 2012. Primeiro, tentaram caracterizar o Supremo como um "tribunal de exceção". Depois, insistiam que era um julgamento "político" (e, não, técnico). E, por fim, como os heróis da resistência à ditadura militar foram mesmo condenados, pelo STF, a saída foi convertê-los em mártires ou *heróis da pátria*. Eram *criminosos*. Nunca deixaram de sê-lo. Pelo menos, para quem acredita nas leis brasileiras e respeita as decisões da Justiça...

* "Heróis virando bandidos" - Assim como Joaquim Barbosa presidiu exemplarmente o Supremo, durante o julgamento do mensalão, a operação Lava Jato tem sido um marco - na desmontagem de um "esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas"... Pois, bem: o ministro da Justiça, do governo Dilma, anunciou que vai "investigar" os delegados que atuam na Lava Jato (!) - simplesmente porque, durante as eleições, eles manifestaram, em privado, suas preferências políticas (em favor do candidato da oposição). *Heróis*... tratados como *bandidos*.

* "Fora-da-lei virando dentro da lei" - Antes, falávamos de julgamentos e de investigações. Agora, trata-se de legislar em causa própria. Estamos falando da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Por essa lei, o governo federal, assim como os estados e municípios, está obrigado a cumprir uma meta de superávit fiscal. Como não vai conseguir cumprir, pela primeira vez desde que a lei foi criada (no ano 2000), o governo federal quer alterar a LDO - a seu favor, claro. Ou seja: o governo pede a aprovação, do Congresso Nacional, para transformar uma *infração* em *lei* - o que é *ilegal* (descumprir a LDO) passará a ser *legal* (graças ao que, eufemisticamente, chamam de "revisão" na meta...).

* "Dentro da lei virando fora-da-lei" - E todo mundo ficou sabendo daquele caso, da agente de trânsito, que, ao repreender um juiz por dirigir sem placa e sem documentação, durante uma "blitz" da Lei Seca, teve sua ordem de prisão decretada (pelo mesmo juiz infrator). E, ao processar o juiz por danos morais, a agente foi surpreendida com uma decisão contrária a si - sendo obrigada a pagar uma multa (ao mesmo juiz). Só depois de extensíssima repercussão, a OAB - a mesma que negou registro de advogado a Joaquim Barbosa, um verdadeiro herói da pátria - resolveu afastar o juiz...

* "Ditadura virando democracia" - Quem acha exagerado o uso de termos como "bolivarianismo" e "venezualização", aplicados ao presente momento do Brasil, deveria ler o documento "Resolução Política" - oficial do PT - e prestar atenção ao uso do termo "hegemonia"... Na Venezuela e em outras repúblicas bolivarianas da América Latina, a "hegemonia" tem sido alcançada através da *democracia*. Hegemonia nada mais é que controle do Executivo, do Parlamento, das polícias, da Justiça e dos meios de comunicação. Quando forem ver, a democracia se transformou... em *ditadura*.

* "Democracia virando ditadura" - E estamos assistindo a dezenas de manifestações pacíficas, em todo o Brasil, serem tachadas de "golpistas". Quando são manifestações "a favor" do governo - mesmo que defendam a "cubanização" do nosso País -, são consideradas "democráticas". Já quando são contrárias a um governo que flerta com o autoritarismo, ou contrárias a um partido com ambições totalitárias, as manifestações são consideradas *antidemocráticas*...

Temos novos exemplos da "novilíngua petista" todos os dias. Desde o ministro da Fazenda, demitido há meses, que faz previsões sobre a política econômica... em 2015 (!). Desde a candidata que prometeu "mais mudanças", e, reeleita, entrega... "mais do mesmo". E, ao se ver cada vez mais enredada em escândalos de corrupção, diz que ela própria mandou investigar (a si e aos seus?). Ou um governo que fala em "diálogo" - no discurso da vitória -, mas revela-se cada vez mais afeito ao "monólogo" (segundo sua ministra da Cultura demissionária)...

Enfim, uma gente que projeta seus defeitos nos "outros". Ataca quando deveria procurar se defender. Acusa outros governos, onde avanços institucionais foram históricos, de "retrocesso". E chama de "progressista" a vanguarda do atraso na América Latina...

Delírios desse tipo - a História mostrou - nunca acabaram bem. Fernando Collor, Claudio Humberto narra, isolou-se do mundo em seu gabinete. Defenestrado, pegou o avião - todos se lembram da cena - como se nada tivesse acontecido. Vargas - sem saída - acabou com a própria vida ("para entrar na História"). Jânio acusou as "forças ocultas". Jango acabou em golpe...

A novilíngua pode ser um recurso ficcional originalíssimo. Mas, historicamente, a realidade acaba se impondo...

Para ir além
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Julio Daio Borges
São Paulo, 17/11/2014

 

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