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Segunda-feira, 15/12/2014
O fim do PT
Julio Daio Borges

Tanto quanto no anti-PT, devemos pensar no "pós-PT". Se o anti-PT vai durar enquanto o PT for governo, o pós-PT será o período que virá imediatamente depois. Entre o anti-PT, que já existe, e o pós-PT, que pode começar a qualquer momento, existe o "fim" do PT. Não acredito que o partido acabe, e nem que tenha seu registro cassado, não é isso - mas acredito que o PT vem "acabando" desde 2005, com a eclosão do mensalão. O PT teve seu auge em 2002, com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência da República, mas ficou aleijado a partir de 2012, com a condenação (e prisão) de sua antiga cúpula. Além de Dilma Rousseff, emplacou mais um "poste" em São Paulo (ainda em 2012), mas, já em 2014, não emplacou nenhum outro e venceu a Presidência como um aluno que passa "raspando". A apuração do petrolão pode significar a cassação do que restou do PT, forçando a "aposentadoria" de Lula e Dilma. Por isso, abordo o "final" do partido agora.

* Eleições 2014 - Foi a maior surra eleitoral que o PT já tomou desde 2002. Foi o auge do anti-PT, em termos eleitorais. Dilma foi reeleita, OK, mas, em São Paulo, o PT perdeu em quase tudo, e em quase todas as cidades (incluindo o Grande ABC, ninho do partido). Foi, no mínimo, estranha a vitória do PT em Minas Gerais (onde Fernando Pimentel já foi aliado de Aécio Neves), em Pernambuco (onde Eduardo Campos já foi aliado de Lula) e no Rio de Janeiro (onde Dilma fez campanha ora com um, ora com outro, candidato a governador). Mas, tudo bem, não vamos alimentar teorias da conspiração. O PT também perdeu assentos no Parlamento. E a oposição, em contrapartida, elegeu mais parlamentares. Se em 2006, o escândalo do mensalão foi quase inócuo em termos de votação, 2014 será lembrando como o ano em que, eleitoralmente, o PT começou a diminuir de tamanho.

* Entre mortos e feridos no Congresso Nacional - Além de a eleição de 2014 não ter sido nenhuma Brastemp para o PT - pelo contrário -, já pesam denúncias contra o suposto envolvimento de senadores como Humberto Costa, Lindberg Farias e Gleisi Hoffmann, no mar de escândalos (segundo a operação Lava Jato). São três senadores. Fora a saída de Eduardo Suplicy, que perdeu sua vaga em São Paulo (para José Serra), e fora Marta Suplicy, que saiu do Ministério da Cultura atirando, e que, segundo informações, já flerta com o PMDB de José Sarney e Renan Calheiros. Para completar, Marta quer concorrer contra Fernando Haddad pela prefeitura de São Paulo em 2016. Descontando as questões eleitorais, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, já tem a lista de parlamentares, supostamente, implicados no petrolão e adjacências. O doleiro Alberto Yousseff já antecipou que, do PP, sobram apenas "dois". Do PT, que era o partido, supostamente, mais beneficiado pelo esquema, quantos sobrarão? Já sabemos que são *dezenas* de parlamentares na lista de Janot...

* Poder Executivo - Além de ter perdido, na última eleição para governador, em São Paulo, no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul e no Distrito Federal, entre outros estados, o PT está muito mal na Presidência da República (onde ganhou *perdendo*) e está mal, também, na esfera municipal, sendo Haddad, em São Paulo, o maior exemplo de como 2016 pode ser tão ruim, eleitoralmente falando, quanto 2014 (ou pior). Haddad estreou mal, em 2013, com o aumento abusivo do IPTU, que Paulo Skaf barrou através da Fiesp. Continuou mal com o "liberou geral" na Cracolândia, que segue em franca expansão (agora ele culpa a polícia - de Geraldo Alckmin, claro - pela "favelização"). Mostrou-se politicamente fraco nas manifestações de Junho de 2013 (buscando, inclusive, guarida no Palácio dos Bandeirantes, em pleno território "inimigo"). E coroou suas trapalhadas com as faixas de ônibus - que aumentaram a velocidade dos mesmos apenas em 1 (um!) Km/h - e com as tais ciclofaixas, cujo uso - mínimo - nunca compensou todo o desgaste com a população (que se revolta e, inclusive, "despinta" algumas). Fernando Haddad, como prefeito de São Paulo, é um bom ministro da Educação segundo os padrões do PT - ou seja: um desastre. E se sua administração é considerada "vitrine" para o Partido dos Trabalhadores, imagine as outras...

* Dilma - O PT mostrou que pode perder tudo - os princípios, a ética, a vergonha na cara - mas não pode perder o Palácio do Planalto. Acontece que Dilma não é indestrutível, e está bastante fragilizada. Tudo bem que ela se conforma em ser marionete nas mãos de Lula, e boneco de ventríloquo nas mãos de João Santana, mas essa postura de papagaio, de ficar palrando para fugir de suas responsabilidades, aparentemente se safando dos escândalos, vai acabar. Como ventilaram colunas políticas, seu segundo ministério promete ser ainda pior que o primeiro, com a honrosa exceção de Joaquim Levy, que cercado de incompetência por todos os lados, pode terminar de mãos atadas. Para completar, Dilma revela que suas habilidades políticas só pioraram - numa iniciativa canhestra de assassinar a lei de responsabilidade fiscal, lavrando o "toma lá, dá cá" em cartório. Como política, no sentido mais estrito do termo, Dilma é uma boa "gerentona" ou "mãe do PAC' - ou seja: um desastre. Assim como Haddad, Dilma é a personificação do fracasso da estratégia de Lula em eleger "postes". Uma vez fora do Planalto, Dilma está com sua carreira encerrada. Apesar de que ainda pode pairar como ex-presidente-fantasma...

* Lula - Se Dilma é Lula, o PT é mais Lula ainda. No sentido de que sobrou apenas Lula, para segurar a onda do partido. Tanto que quem foi ajudar a eleger Dilma, se esgoelando em comícios, e acabando de manchar a própria biografia, foi Lula. Tanto que, na indefinição do segundo mandato, quem está dando as cartas, desde os ministérios, é Lula. Tanto que, quando o partido enfrenta uma crise, quem sai em sua defesa, e tenta resgatar alguma coisa, é Lula. Mas Lula não é eterno, e estão cada vez mais limitados os seus (super)poderes. Primeiro, pela idade. Lula caminha para se tornar um septuagenário, como José Serra. Olhe para as fotos recentes dos dois: você acredita que eles teriam condições - físicas - de disputar uma Presidência da República, daqui a quase 4 (quatro) anos? Segundo, pelo desgaste. Se vale aquela expressão "saiu menor do que entrou", e se ela se aplica a alguém nas eleições de 2014, esse alguém - mais do que Dilma, e até João Santana - é Lula. Terceiro, pelas ligações perigosas. Lula se safou do mensalão, sacrificando "companheiros" de toda uma vida, mas, do petrolão, está mais difícil. Lula poderia entregar até a cabeça de Dilma, para o sacrifício, mas a oposição de 2014 não se contentaria. E não falo do PSDB apenas, falo do anti-PT. Não acredito, porém, que Lula seja preso. Mas pode se tornar inelegível...

* Quem sobra? - Dilma está implicada. Lula será implicado. A "nova geração" é representada pelo antecipadamente derrotado Haddad e pelo, igualmente, derrotado, e implicado, Alexandre Padilha (supostamente pela operação Lava Jato). Sem Dilma, sem Lula, e sem "futuro", o que sobra para o PT? José Dirceu, mesmo solto, não oferece perigo. É outro septuagenário a caminho. E você viu o estado em que ele saiu da Papuda? José Genoíno vai pelo mesmo caminho (tem a mesma idade de Dirceu, não foi solto e se diz doente). Delúbio Soares deve fugir dos holofotes, como Duda Mendonça que, espertamente, fugiu de sua associação com o partido. João Vaccari Neto será implicado, qualquer dia. Rui Falcão, que sucedeu José Genoíno, é da ala que prega a "hegemonia", mas não tem habilidade, política, para conduzir o "projeto", e é mais um septuagenário na lista. Aloizio Mercadante? É um sobrevivente da velha guarda, mas um desastre anunciado, da mesma estirpe de Mantega, fora que o partido não lhe confia a liderança (queimou-se com o baixo clero). Marta está perdida. Suplicy ficou perdido. A lista de ex-petistas é outra que só faz crescer. Já deve ser maior do que a lista de petistas convictos. E produzem cada vez mais fogo amigo...

* Militância - Não vale a militância movida a pão com mortadela. Nem a MAV. O problema dos mercenários é que hoje eles trabalham para você, amanhã trabalham para quem pagar mais. Mesmo com mensalão e petrolão, não consta que o "caixa" do PT seja sem fundo. Estão perdendo cargos executivos. Estão perdendo assentos no Parlamento. Dilma pode não sobreviver a um segundo mandato (inteiro). Lula está impedido, por tudo o que já foi dito... A tendência, para a estrutura do PT, é ir diminuindo de tamanho. E militância "não paga", para o PT, está cada vez mais rara. É diariamente escorraçada nas redes sociais. Se antes nascia um petista a cada dia, hoje nasce um anti-petista a cada dia. Alguém poderia falar na militância na imprensa, mas essa vai ficando desacreditada, também. Os desdobramentos da operação Lava Jato são indefensáveis. Suspeito que nem Márcio Thomaz Bastos iria aceitar o "caso". E a mídia estatal segue o ritmo da diminuição do caixa do PT. Fora que não é gente com vocação legítima para o jornalismo - não conquistaram respeito no meio, não têm carreira para seguir. A militância, desde a mais espontânea, ao rés do chão, até os vendilhões, da chamada "base alugada", abandonou o PT ou o está abandonando...

* Futuro - O PT é, originalmente, um partido de massas. Tem de, obrigatoriamente, ganhar eleições. Mas como (se vai perdendo "quadros" - e se não consegue repor)? O PT não tem a vocação política de um PMDB, por exemplo. Não é sequer fisiológico, porque prefere "hegemonia" a democracia. Não que José Sarney e Renan Calheiros não sejam adeptos de um certo tipo de hegemonia, também, mas o PT não aprendeu com o PMDB, assim como Lula vai acabar pior do que Sarney. E Dilma. pior do que Collor. E antes que me acusem de ser militante no PSDB, não acredito que o PSDB esteja muito melhor, não - em termos de futuro, e em termos de quadros (ainda que passe longe de escândalos como mensalão e petrolão). Como FHC - o "equivalente" de Lula - não dura para sempre, a grande diferença, em relação ao PT, é que o PSDB tem Aécio Neves. O mais próximo de Aécio Neves - a que a esquerda poderia almejar - seria Eduardo Campos. Alckmin não é Aécio, obviamente. E o PSDB talvez aposte numa renovação "puxada" por Aécio. Considero arriscado... Enfim: o PT pode estar de mal a pior, mas temos de pensar no médio/longo prazo, no pós-PT...

Julio Daio Borges
São Paulo, 15/12/2014

 

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