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Sexta-feira, 6/5/2016
Nunca fomos tão vulgares
Julio Daio Borges

Ontem fez um ano da foto da Catarina batendo panela. O Facebook me lembrou. Republiquei e comentei: "E pensar que batemos panelas há mais de um ano..."

Uma amiga comentou que, em um ano, "havia mudado muita coisa". Mas eu respondi que não. Embora em-processo-de-impeachment, Dilma continua lá. Cunha já mandou avisar que não renuncia. E Renan nem sonha com isso. Lula está solto. E as pessoas ainda podem votar no PT na próxima eleição

Considerando o fato de que estamos batendo panela (eu ia dizer "urrando") *há mais de um ano*, eu acho pouco!

Na verdade, fiquei com pena da Catarina e fiquei pensando: "Será que ela vai ter de bater panela (no sentido figurado) até quando?". Pelo resto da vida? Eu acho cruel; vocês não acham?

Eu entro no Facebook e está todo mundo gritando. Gritando no sentido figurado, mas gritando

Ontem era Teori pra lá, Teori pra cá. De repente me ocorreu que não quero saber o nome dessas pessoas. Que não quero saber que elas existem. Não me interessa. Nunca me interessou

Mas, de repente, temos de acompanhar. E urrar. E bater panelas. Senão, tudo desanda

Nunca fomos tão vulgares. Me sinto separando o lixo. Desentupindo a pia. Ou melhor - ou *pior* -, a privada

Eu sei, a imagem é forte. Mas olhe à nossa volta: olhe a nossa política...

Fiquei ouvindo o Teori Zavascki falar e pensei: "É o cúmulo termos de entender sobre isso agora". Seria como obrigar todo mundo a entender a Teoria da Relatividade (eu aprendi a prová-la na faculdade; esqueci já). Ou ter de entender de química fina. Ou sei lá o quê. (Pense em alguma coisa bem técnica e específica)

Eu sei que é importante "participar", "exercer sua cidadania" etc. Mas eu tenho o direito de ignorar, se quiser. De não querer saber de nada de política. Nem dessas pessoas

Só porque adquiriram um certo protagonismo na vida nacional, ficam pensando que são importantes. Não são. Essas pessoas são horrorosas

Todas elas. Porque mesmo as "melhores", entre elas, deixaram que a coisa chegasse aonde chegou

Nós não somos políticos. E estamos fazendo o trabalho deles. Porque eles não fazem

Seria como se faltasse luz, e tivessemos de nos meter na Eletropaulo. Ou na Sabesp, se faltasse água. Ou nos Correios, se as correspondências parassem de chegar

E o que estamos deixando de fazer - para fazer política? E o que estamos deixando de saber? E de viver?

"Ah, mas temos de lidar com o Brasil! E o Brasil é isso aí!"

Olha, eu não acho que o Brasil "é isso aí". Eu não sou "isso aí". Você é?

"Ah, mas, pelo menos, deu certo - tiramos eles de lá!"

Será que tiramos? Será mesmo? Você acredita, realmente, nisso?

Mesmo que tenhamos tirado: ocupamos um tempo precioso das nossas vidas com essas pessoas. Nossas memórias já foram corrompidas por gente como Dilma, Lula, Cunha, Renan, Collor, Sarney...

Sonho com um mundo em que não se tenha de saber o nome de nenhum ministro do Supremo

Em que não se precise saber quem é o presidente da Câmara, nem do Senado - porque eles simplesmente fazem o seu trabalho

Você sabe quem preside a Eletropaulo? E a Sabesp? E os Correios?

(Agora, por causa de tantos escândalos, acabamos tendo de saber...)

Meu ponto é: num mundo ideal, precisaríamos nos ocupar com essa gente? Passar horas, dias, meses, *anos* fiscalizando o trabalho deles?

"Qual é a solução, então?"

Olha, eu não sei qual é "a solução". Só sei que estamos nos desperdiçando

E por mais que o trabalho sujo tenha de ser feito, não posso deixar de lamentar que *nós* o tenhamos de fazer

Chegamos a um ponto em que não sei se comemoro ou se lamento...

Para ir além
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Julio Daio Borges
São Paulo, 6/5/2016

 

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