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Sexta-feira, 1/7/2016
A melhor Flip
Marta Barcellos

1 - A melhor Flip já aconteceu e você não estava lá. Console-se em ouvir as histórias das primeiras e bucólicas edições, quando se tropeçava em Chico Buarque como hoje só se tropeça nas pedras, quando as piadas sobre as pedras eram novidade, quando o assunto era literatura, e não neurociência nem astronomia (muito interessantes, também).

2 – Minha primeira Flip, em 2010, foi um desastre. Literalmente. Na volta ao Rio, o carro onde estava bateu de frente numa SUV que atravessava a estrada. Fui retirada do carro pelos bombeiros, aquela cena de filme, quebrei uma costela e fiquei bem traumatizada com a experiência. Não conseguia me imaginar indo (e principalmente voltando por aquela estrada) à Flip novamente. Mas, adivinha, acabei escrevendo um conto a partir da sensação de não conseguir respirar e olhar os tetos de um hospital ao lado de uma usina nuclear. O conto foi publicado na antologia Sábado na estação, organizada por Luiz Ruffato. Fui à Flip seguinte de ônibus, dispensando todas as caronas.

3 – Você já sabe: a Flip é elitista. De fato, é necessária uma grana considerável para se hospedar, e almoçar, e jantar, e beber, na Paraty da Flip. Mas há pelo menos uma boa notícia: ficou completamente dispensável pagar os 50 reais (este ano) para ver uma única mesa da Tenda dos Autores da Flip. Com toda a crise, a programação paralela é melhor a cada ano. E de graça. E sobre literatura.

4- Provavelmente estou falando em causa própria. Este ano, retorno à Casa Sesc, que oferece a programação mais ampla entre as “offs”, inclusive com “astros” que já se apresentaram na tenda principal. No ano passado foi esquisito: participei de uma mesa para ser apresentada como vencedora do Prêmio Sesc de Literatura, mas eu era uma escritora sem livro (como o prêmio é dado a um manuscrito com pseudônimo, a publicação pela editora Record só acontece meses depois). As perguntas giravam em torno de: como você fez para ganhar?

5 – Este ano, com o Antes que seque na mão, e menos tímida depois de encarar vários eventos literários, vou participar da mesa “Jornada rumo a si mesmo”, com dois escritores já veteranos, Paula Fábrio e Marcos Peres, também “descobertos” por prêmios. A melhor Flip é sempre a próxima, não?

6- A próxima ou a última? Neste sexto item, o entrelugar: a próxima Flip já se tornou a última. A Flip das frestas e das brechas, como disse o professor Leonardo Tonus. A Flip que resiste aos rótulos: Flip da elite, Flip das polêmicas, Flip da crise. Se a Flip resiste, quem resistirá à ela? Eu que não. Até 2017.


Marta Barcellos
Rio de Janeiro, 1/7/2016

 

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