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Quarta-feira, 16/11/2016 Preparar Para o Impacto Marilia Mota Silva "Pienso que el electorado norteamericano eligió ayer al más ignorante, inculto y mentiroso de los candidatos presidenciales de los últimos tiempos. No ha existido en la arena política de los Estados Unidos un aspirante a la Casa Blanca tan impulsivo, temperamental, racista, xenófobo, misógino y capaz de utilizar el poder político para hacer daño." Oscar Arias (Ex Presidente de Costa Rica) Agora sabemos: apesar das caras e bocas, da vulgaridade, dos insultos gratuitos, o homem estava jogando para vencer. Assim que foi confirmado como presidente-eleito dos Estados Unidos, sua equipe de transição informou que tinha uma série de documentos pronta para sua assinatura no primeiro dia de trabalho. Todos no sentido de anular medidas da administração anterior. Passado o primeiro choque, os analistas de todo o mundo se debruçaram sobre o assunto e concluiram: com Trump no poder, o futuro é imprevisível. Para falar só de um ponto: Que consequências virão dessa aliança Russia & Estados Unidos? Se os Estados Unidos saírem da OTAN, seus antigos aliados ficarão à mercê das ambições imperiais de Putin, que não esconde sua intenção de expandir suas fronteiras aos limites da ex-União Soviética. Ninguém ousa explorar esse cenário. Imagino como se sentem os países do leste europeu que ainda lutam para sair da pobreza e do atraso depois de sessenta anos sob a dominação russa. E os países árabes. É bom lembrar, no entanto, que um Presidente não governa sozinho. Seu poder é limitado pelo Congresso. Trump terá a maioria nas duas casas, e na Suprema Corte, mas nem sempre os deputados e senadores votam com o partido. Clinton viveu essa situação, tendo a maioria. Obama, sem ter, foi quase paralisado por uma oposição implacável. Além disso, como se tem repetido ultimamente "treino é treino, jogo é jogo". Depois da primeira conversa com Obama, Trump já admite manter alguns pontos do Obamare, Programa de Saúde, que tinha prometido desfazer completamente. Mas o medo predomina. Já se vê um nível de polarização e divisão entre as pessoas, que nunca houve antes, dizia Bill Maher ontem, no seu programa de tevê. Populismo e polarizacão. Incitação ao ódio, ao ressentimento. Parece que a humanidade precisa dar vazão aos seus instintos mais destrutivos, de tempos em tempos. Se olharmos o passado, veremos que há poucos intervalos de paz entre fases de desvario. Um bom exemplo e símbolo é o Muro de Berlim - derrubado há menos de trinta anos - também num dia 9 de novembro, coincidência sombria - agora Trump promete construir outro. Michael Moore, creio que o único jornalista americano que previu que Trump venceria, disse que um dos motivos dessa vitória foi o sexismo. Que o homem branco, supremacista, não poderia admitir uma mulher no comando depois de oito anos de Obama. Pode ser que isso tenha contribuido (embora me pareça que uma candidata com menos problemas poderia ter vencido). Nesse caso, aqui também a história se repete. Os homens afro-americanos conquistaram o direito de votar em 1870. As mulheres de qualquer raça só cinquenta anos mais tarde, em 1920, e depois de muita luta. Sexismo aqui será maior que o racismo? Sexismo inclusive das próprias mulheres, é bom lembrar. Se não é possível prever o futuro, já se percebem mudanças no comportamento das pessoas, nesses primeiros dias depois da eleição: - Há protestos por todo o país. Não tumultos, badernas. Mas protestos de qualquer forma. Há uma atmosfera de tensão nas ruas. Fui ao supermercado agora há pouco: a moça do caixa usava o véu de muçulmana. Era visível seu nervosismo. Só relaxou um pouco quando viu que não havia hostilidade em mim. Outro sinal significativo da mudança de valores que essa eleição representa: nos Estados Unidos, o presidente eleito, antes de tomar posse, transfere a gerência de seus negócios e propriedades para terceiros não ligados à família, através do Blind Trust. Reagan, os Bush, Clinton, todos fizeram isso. Por uma questão de ética: para evitar contaminação entre o público e o privado. Trump, dois dias depois de eleito, transferiu seus negócios para seus filhos. Para agravar o problema, esses filhos fizeram parte de sua equipe de transição. Assim, quando um deles estiver negociando em qualquer lugar no mundo - as Organizações Trump tem negócios em países como Rússia, Emirados Árabes, India, Ucrania e Arabia Saudita - os envolvidos vão saber que do outro lado, na verdade, está o Presidente dos Estados Unidos. . O advogado de Trump, questionado sobre isso, disse que estava tudo bem: Ele não está mais interessado na companhia. Ele está interessado em consertar a América! Sério? Não é a primeira vez que Trump mistura público e privado. Em Setembro ele pagou $8.2 milhões do dinheiro de campanha a sua própria companhia, pelo aluguel de carros e de escritórios na Trump Tower. Para os que acreditam que salvaguardas éticas são necessárias no serviço público, os próximos anos prometem ser um desafio. Nos demais aspectos, considerando os assessores que ele começa a escolher, o horizonte se anuncia ainda mais opressivo. Marilia Mota Silva |
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