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Quinta-feira, 29/6/2017
Retratos da ruína
Elisa Andrade Buzzo

Como e quando foi arrancado o duplo caminho retilíneo de árvores da nascente avenida Paulista? Suas copas, como triângulos, empinadas para cima, para o futuro, tão bem protegidas por uma estrutura de madeira; tal qual um grande prédio em construção. Provavelmente hoje não há nenhum exemplar delas, retratadas na aquarela de 1891 de Jules Martin, exposta no MASP na mostra “Avenida Paulista”.

A exposição mostra as muitas faces da avenida cheia de prédios, centro financeiro, comercial e cultural, símbolo de orgulho da cidade grande, em seus protestos, em suas residências, em seus primórdios, em suas conturbações frente ao inchaço da cidade. Em suma, na glorificação das linhas mais que retilíneas dos edifícios de concreto ou vidro em elegantes fotos PB.

Mas não tem jeito, o que acaba me chamando mais a atenção é a destruição, mais do que a reconstrução. Fotos coloridas de 1996 dão conta da vida que segue na avenida enquanto a mansão dos Matarazzo está, literalmente, quebrada ao meio. Fotos de 1957 documentam a demolição do Belvedere do Trianon, onde seria construído, pouco mais tarde, o próprio MASP. A marreta está no ar, eternizada antes de esfacelar mais um pedaço da construção.

Acho que é isso o que surpreendente nesse jogo de construção e destruição. O que era feito para durar dura muito pouco e provavelmente não se pensava que assim seria. Quando, como e para dar lugar a quê esta nossa Paulista com feições completas atuais cederá o lugar de seu espigão ultravalorizado?

Se o terreno do Belvedere cedeu seu espaço ao MASP, um ícone difícil de se pensar separado da avenida, um pujante palácio eclético carioca também teve seu destino fatídico exposto, não só em fotografias, mas em registro de vídeo. Pois saindo do MASP, assisto ao documentário Crônica da demolição, sobre o Palácio Monroe.

O diretor Eduardo Ades conta com um farto material de imagens e depoimentos a história do Palácio Monroe, que foi por décadas sede do Senado Federal, e sua demolição desastrosa em 1976. Hoje o terreno na Cinelândia é um vazio difícil de entender, com uma fonte e seu subterrâneo utilizado como estacionamento.

Por outro lado, a Paulista e seus quarteirões flamejantes. Um Burguer King abre na esquina com a Brigadeiro, praticamente em cada esquina um Starbucks, um novo shopping de entrada congestionada. Cada vez mais do povo, cada vez mais comercial, cada vez mais desmemoriada de seu passado praticamente ausente. Fora isso, cada vez mais um retrato da decadência de nosso país, com sua pobreza, seus viciados, seu descaso com a memória, e seus pedestres cercados por sua falta de perspectiva pessoal e social. Um pequeno resumo do que se pode fazer com escombros.

Elisa Andrade Buzzo
São Paulo, 29/6/2017

 

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