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Quarta-feira, 8/4/2020 A pandemia de Albert Camus Wellington Machado Colagem de papel sobre cartão E deu-se a peste. Oran, Argélia, abril de 1940. O médico Bernard Rieux se depara com um rato morto, com a boca ensanguentada, no corredor de sua residência. Havia outro rato morto na rua; outros na vizinhança. E nos mercados, praças. Os ratos rodopiavam, rodopiavam, vomitavam sangue e caíam no chão, esganiçavam e morriam. Eram as pulgas as infectantes. Cada vez mais ratos morriam; dezenas de ratos morriam; centenas e milhares de ratos morriam. Oito mil ratos foram recolhidos com pás e tratores num só dia. Eram as pulgas. Pulgas que infectavam além de ratos, humanos; adultos e crianças; mães, pais e avós. E eram agora vários corpos humanos infectados. Bubões (bubônica) explodiam nas coxas e nos gânglios dos humanos. Eram bolhas vermelhas. Ínguas. Seria isso uma alegoria? E a morte se proliferou em Oran, que fora sitiada pela prefeitura para que a peste não se alastrasse. Rieux se deparava com doentes, depois com agonizantes, depois com cadáveres. Os hotéis se transformaram em abrigos para pacientes em quarentena. Ruas vazias, ratos, pulgas. O estádio de futebol se tornou um grande hospital. Houve falta de soro para os pacientes. Vômitos de sangue, febre, ganidos. E mais cadáveres. Eram os ratos, as pulgas. Seria isso uma metáfora? Corpos humanos começaram a ser empilhados nos hospitais, funerárias, cemitérios. Faltavam covas para tantos corpos. Eram enterrados com cal. Houve cremação em massa. Coveiros contraíam a peste também. Prisioneiros eram usados para enterrar cadáveres. Pacientes ficaram loucos. Tentavam se suicidar. Quase não havia mais ratos. Eram as pulgas. Seria isso o absurdo? Deus existe? Padre Peneloux, um jesuíta, atribuía a peste ao castigo dos deuses. Uma provação. Que os humanos passassem pela peste com resiliência. Deus existe? Mas havia solidariedade, vários voluntários ajudaram o dr. Rieux. Deus existe? Voluntários não dormiam. Voluntários tinham febre. Voluntários tinham Bubões. Eram as pulgas. Deus existe? Seria o apocalipse? “A peste tirava a todos o poder do amor e até mesmo da amizade. Porque o amor exige um pouco de futuro e para nós só havia instante”, dizia um doente. Wellington Machado |
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