|
Terça-feira, 22/9/2020 Meu malvado favorito Renato Alessandro dos Santos Venho cada vez mais descendo ladeira abaixo. Pleonasmo conta? Conta. Primeiro, foram os filmes, que, em proporção a séries, hoje vejo cada vez menos; antes disso, decerto, veio alguma outra coisa, mas não me lembro exatamente o quê; então, como viver suplanta qualquer tentativa modorrenta de arrancar da memória um espasmo qualquer, deixo tudo pra lá e me concentro no agora, e o agora anda terrível. T.E.R.R.Í.V.E.L., você sabe. Coronavírus, Bolsonaro, 2020 de um modo geral. Mas há sempre essas horas quando o espírito, apesar de tudo, alça voo e, lá em cima, olhando para baixo e, longe do alcance de todos os transes vividos aqui na superfície, continua planando, entre as nuvens, entre o cerúleo do infinito azul. Horas assim são raras na vida de gente que tem de levantar cedo e trabalhar feito um condenado para, se tudo correr bem, pôr na mesa o pão de ontem, já bastante maltratado pelo tempo. Infelizmente, é assim. Aos menos afortunados, nem tudo são rosas & mar, também, mas o prazer que certas coisas suscitam em horas de leveza de espírito compensa essas artimanhas que o destino, feito revoada de pombos enfezados, deixa em nós. Dexter Morgan é um serial killer que tem estado aqui em casa, em plena época de pandemia, quase toda noite. As seis horas da tarde nem bem despontam no horizonte e nos ponteiros do relógio, e eu já paro todo o trabalho, toda a leitura, todo o estudo, toda a caminhada, toda a audição dos discos de vinil, e ligo o notebook, a Amazon Prime e, em seguida, aperto o player de Dexter, série cuja nota no IMDb ultrapassa os oitos pontos e que traz um assassino serial que se vinga daquelas pessoas que nem mesmo o que o gato enterra valem. Como? Matando-as, para, em pequenos sacos pretos de lixo, ser desovadas no oceano. A cidade é Miami, e Dexter tem uma irmã de criação, um passado tenebroso e um presente onde pode, sozinho, agir como Batman, Daredevil ou algum outro super-herói incapaz de deixar passar incólume aquela criatura que tão pouca simpatia demonstra por outras pessoas. 2008 é lembrado como o ano da quebra do mercado imobiliário que pulverizou a economia norte-americana e, dominó, as bolsas do mundo todo. Mas 2008 é também o ano em que Dexter já era uma série consagrada que passava na TV paga. O que sei é que, 12 anos depois, ver Dexter continua a ser entretenimento dos mais agradáveis a quem séries gosta de ver. Assim, quando as 18 horas se anunciam já vou logo desligando tudo e me preparando para o périplo que o Código Dexter pede; isto é, as precauções que o moço toma para que não vá preso ou para que não seja morto pelo estado, uma vez que em Flórida há a pena de morte a pessoas que andam por aí matando outras. Não sei como a série termina. Em 2008, não a vi – só a temporada um e olhe lá. Mas, hoje, após duas semanas, entro eu na quinta temporada e, a julgar pelo andar da fibra óptica, nesta semana ou na próxima a série termina, para mim, e depois vem de novo a pachorra, a busca por algo que possa de alguma maneira amortecer os milhares de mortes de 2020, a presença de gente como Bolsonaro & Trump no mundo etc. Claro, ninguém precisa pedir a cabeça de Jair, como fez o Hélio. Mas, Dexter, se estiver passando por Washington ou Brasília esses dias e... Renato Alessandro dos Santos |
|
|