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Terça-feira, 20/9/2022
Neste Momento, poesia de André Dick
Jardel Dias Cavalcanti


As coisas que passaram estão aqui Neste Momento, de André Dick, como, “Na praia havia um velho fliperama”. Também as coisas que vão passar estão aqui Neste Momento, como “Quando a zebra zebrina passa por essas linhas”. E as coisas que estão Neste Momento aqui estão também, como “A praia está agora”. E tudo Neste Momento se torna poesia.

André Dick, poeta e doutor em Literatura, nos brinda com seu novo livro de poemas Neste Momento, publicado pela Kotter Editorial. Aproximadamente uma centena de poemas que percorrem um variado grupo de elementos que vão de objetos a seres humanos e animais, de sensações a sentimentos amorosos, num jogo de contrastes entre afirmações e negações, entre possibilidades e impossibilidades, através de universos materiais e imateriais, como o coração, a luz, o silêncio, por exemplo.

O livro é dividido em 4 partes: Infância, Caos, Casa em Mudança, Mundo Mundo. Não existe uma ligação direta entre os grupos de poemas, mas a questão da percepção de um mundo singelo, de objetos reconhecíveis do cotidiano, de situações aparentemente mundanas, de singelas lembranças domina o livro como um todo. São os elementos que – levados ao termo de uma sentença – produzem no leitor uma sensação de campo já percorrido por ele, como se fossem experiências universais, que são recorrentes no coração humano.

Atento ao recurso das rimas e aliterações, Dick compõe, por vezes, uma relação ente espaço e tempo, já que é nesse entrecortar de forças que pode produzir seus labirintos linguísticos: “Parece breve quando é muito pouco/ Ou muito quando parece ligeiro/ A mesma parada o tempo inteiro/ A mesma aceleração até o rosto.”


Arnaldo Antunes, no prefácio do livro, aponta o elemento principal da poesia de Dick: “A alquimia que transmuta lembranças em sensações no tempo presente se dá por cadências minuciosamente elaboradas, com sutis tessituras aliterativas(...) que revelam sentidos luminosos.”

Outro comentador é Ronald Polito, que no posfácio enumera os termos de sua poesia, como “listar, denominar e ao mesmo tempo correlacionar e contrastar campos da experiência” e chama a atenção para aspectos da atmosfera fabular e fantasiosa de vários poemas.

Já Matias Mariani, na orelha do livro, anota que Dick produz “o poema enquanto transição de estados, como trajetos, como vir a ser”.

Se podemos falar de uma poética em Neste Momento, talvez o objetivo de Dick seja o de retomar aquelas experiências originais pelos quais passamos e que só conseguem retornar quando ganham a forma da poesia. Assim, diz o poeta: “Tudo volta a ser/ Como era quando fomos crianças/ Tudo um dia volta a ser amado.”


Jardel Dias Cavalcanti
Londrina, 20/9/2022

 

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