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Sexta-feira, 28/10/2022 O segredo para não brigar por política Luís Fernando Amâncio O ano era 2002. Em uma escola pública, eu conversava com alguns colegas sobre futebol. Provavelmente comentando sobre a rodada do fim de semana. De repente, surgiu um amigo nosso, que não participava da conversa, e começou a xingar o São Paulo FC. Ofensas gratuitas e coléricas. Ficamos perplexos: o São Paulo sequer era pauta no momento. Fiz, evidentemente, o que minha sabedoria acumulada em 16 anos permitia: cortei relações com o agressor. O início dos anos 2000 foi particularmente desagradável para ser são-paulino. Chamar meu time de ruim era um tema sensível. Afinal, era verdade. O rompimento da amizade durou, se muito, duas semanas. Não se rifa um amigo por divergências futebolísticas. Até um adolescente sabe disso. Hoje, ouço com frequência pessoas se queixando de conflitos por diferenças políticas. Na família, sobretudo, mas também no ambiente de trabalho, na igreja, na vizinhança… Durante eleições, só não faz inimizade quem já morreu. Da minha parte, porém, fiquei feliz com uma constatação: neste ano, não briguei com ninguém por política. Refiro-me a bate-bocas, trocas de mensagens ácidas, xingamentos, dedo na cara… Nada. Sobrevivi ao período eleitoral quase como um monge - já que nem os padres são poupados ultimamente. A chave para o sucesso? Simples. Não convivo com quem esteja no espectro político inverso ao meu. O que reduz bastante as chances de briga. Sendo sincero, eu não sou a pessoa mais sociável que esse planeta já viu. Então, eu também convivo pouco com quem pensa parecido comigo. Quem é antissocial precisa ser seletivo. Se vamos ter poucos amigos, por que gastar fosfato com quem acredita em “mamadeira de piroca”? Ou, atualizando a fake news, com quem chama a Globo de petista? E não é que eu me ache melhor do que ninguém. Não recrimino quem pensa diferente. Mas o mundo tem espaço suficiente para todos. No meu canto, guardo uma distância segura de quem: - defende candidato que ataca as instituições democráticas; - acha aceitável político homenagear torturador; - pensa que “minorias têm que se adequar” ao que determina as maiorias; - não se incomoda com discursos misóginos e homofóbicos; - não se indigna com a corrupção que o Orçamento Secreto permite. Sou a favor da pluralidade de opiniões. Mas sou contra a barbárie. Lembram do colega que xingou meu time lá no longínquo 2002? Mesmo depois de tanto tempo, ele é um grande amigo meu. Temos algumas divergências - ele é corintiano, por exemplo. Mas concordamos no fundamental: não há justificativa possível para se tolerar o intolerável. Luís Fernando Amâncio |
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