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Terça-feira, 2/4/2002 O Conflito no Oriente Médio Pedro Paulo Rocha Em Israel, judeus, beduínos, muçulmanos, comerciantes, soldados, namorados, homens, mulheres e toda a sorte de seres compõe um diversificado mosaico humano, numa convivência que se tornou extremamente difícil e se agrava numa progressão que se torna cada vez mais assustadora. Uma das conseqüências deste clima de tensões é o enorme prejuízo econômico de uma região que tinha no turismo uma das principais fontes de receita, e atualmente está com seus hotéis, lojas, e toda a estrutura turística praticamente parada. E não há nenhum negócio, exceto o de armamentos, que não esteja enfrentando grandes dificuldades. E Israel, um país militarmente fortíssimo, é obrigado a manter uma caríssima máquina de guerra que se revela impotente contra um inimigo invisível, que pode desencadear um novo atentado a qualquer momento, deixando todos sob o domínio do medo e da insegurança. Mas, porquê depois de progressos consideráveis, no rumo da paz, houve uma considerável inversão do processo? A explicação me parece óbvia: a eleição de um general conhecido por ser o mais forte representante da linha dura, para governar Israel. Um general que provocou deliberadamente o desencadear do conflito, violando, arrogante e ostensivamente, um recinto considerado pelos muçulmanos como sagrado. Um general para quem só existe um caminho: a guerra e a destruição completa do inimigo pelo uso extremo da força e para quem a represália é o único caminho que conhece. E com isto o gen. Sharon apenas conseguiu associar Israel à imagem de Golias, em contraposição aos palestinos, que passaram a representar David. O que é reforçado pela mídia com as imagens de jovens palestinos, armados de bodoques e fundas, enfrentando mísseis israelenses. O resultado desta política de agressão se reflete nas manchetes dos jornais: O Globo: "ONU manda Israel se retirar das cidades palestinas". Gazeta do Povo: "Israel desafia a ONU e mantém cerco aos palestinos". E cria uma onda de revolta e má vontade contra Israel, ao ponto de provocar aplausos de aprovação à declaração do escritor Saramago de que "O que acontece na Palestina é um crime. Podemos compará-lo com o que ocorreu em Auschuwitz." A quem está de fora, a visão clara é de que esta guerra deve cessar o quanto antes, com o respeito mútuo entre as partes, numa convivência pacífica e o direito dos palestinos e israelenses de terem os seus próprios países, com plena autonomia, dentro de fronteiras demarcadas. Uma questão que agrava o conflito diz respeito aos assentamentos judeus dentro de território palestino, que a ONU, em resolução, já determinou, sem sucesso, que deveria ter fim. A aprovação, pelos países árabes, de estabelecerem relações diplomáticas com Israel, já abriu uma boa porta para um entendimento. Mas uma das maiores dificuldades a este entendimento é a negativa das partes em se colocar na posição do seu oponente. O que conduz à necessidade de intermediação, pois só quem não está diretamente envolvido é capaz de indicar soluções de forma sensata e neutra, num acordo em que ambas as partes deverão fazer concessões mútuas. Uma das réplicas que os judeus apresentam, com insistência, é que "Arafat quer tudo". Quem conhece a mentalidade dos árabes sabe que esta é uma velha filosofia de negociação, que eles sempre adotaram: pedir muito, para regatearem. E, certamente, o problema maior dos governos, tanto israelense quanto palestino, será controlar a insanidade de seus próprios radicais e não enfrentarem-se mutuamente. Porque assim como o fanático Amir assassinou o líder Isac Rabin, e Barak já foi declarado pela direita radical israelita como traidor, também entre os palestinos há muito ódio para ser contido e muito fanático que não tem na paz o seu ideal. E se os dois povos se enfrentam, ao invés de conterem seus radicais, mais se acirrará este ódio mútuo e mais difícil se tornará se atingir a paz, que é a única solução admissível. Porque, nesta política insana do "olho por olho", acabarão todos irremediavelmente cegos. Pedro Paulo Rocha |
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