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Sexta-feira, 19/4/2002
Banana Republic
Rafael Azevedo

Hugo Chávez voltou misteriosamente ao poder, de maneira até agora muito mal explicada. A imprensa não ajuda; os meios de comunicação venezuelanos, quando não estão fechados pelo governo, revelam-se ausentes, e não podem ser confiados totalmente devido à censura "bolivariana"; na CNN vemos o costumeiro boletim "imparcial", e nos jornais e TVs brasileiros, somente o ponto de vista dos partidários chavianos é repetido ad nauseam pelos nossos desinformados repórteres. Assim, ficamos sabendo que Chávez saiu do poder devido a um "golpe militar" (sic), que seu sucessor interino, o sr. Pedro Carmona é um "trapalhão", e que a sociedade venezuelana estaria supostamente dividida fifty-fifty entre os que o apóiam (os pobres, heróicos e guerreiros proletários) e os que o rejeitam (os perversos burgueses de sempre). Isso é tudo balela. Aos interessados numa leitura séria sobre o assunto, recomendo o artigo de Carlos Alberto Montaner, no Estadão do último domingo. Chávez, que saiu do poder devido a um golpe civil, e não militar (pois quase 90% da população não tolerava mais o rumo maoísta a que o comandante levava o país e sua economia, ameaçando transformá-lo numa grande Cuba, dominada por uma espécie de mega-Farc, um MST tamanho família), foi substituído por um empresário respeitadíssimo no cenário mundial, que infelizmente não conseguiu resistir aos ardis gramscianos desta esquerda podre que domina tantas instituições através da combalida América Latina, manipulando dados e massas com inacreditável facilidade. Conseguindo colocar o exército a seu favor, Hugo Chávez desestabilizou de vez a sustentação do governo de Carmona, colocou seus partidários/baderneiros na rua e conseguiu o que queria: voltou ao poder. Meu palpite é que não dura muito, felizmente. O mundo não deve ter mais espaço para líderes como este; câmeras de TV flagraram (em imagens que infelizmente não poderão ser vistas na própria Venezuela, cujos veículos de mídia estão sob um véu ditatorial tão repulsivo quanto aquela boina vermelha) membros de uma milícia armada e treinada pelos próprios asseclas de Chávez atirando a sangue frio nas multidões que protestam nas ruas, esta parcela da população que prossegue, corajosamente, fazendo seus cacerolazos nas ruas na esperança de a democracia volte a um dos recantos mais esquecidos por ela ultimamente, esta pobre Latinoamerica.
Aconteça o que acontecer, no entanto, e um estrago já foi feito; a imagem que se passou é a de que Chávez é o legítimo representante dos pobres e miseráveis venezuelanos, dos adeptos da revolución bolivariana, que ousaram se insurgir contra os interesses da potência colonizadora, e colocaram-se contra o governo corrupto e pró-americano dos empresários de Carmona, colocados no poder pela burguesia podre e fútil.
É o velho maniqueísmo dos anti-americanos, em nova roupagem. Ou melhor, não tão nova assim.


policialmente incorreto
O Brasil não é um país engraçado, mas tem muita coisa que parece piada. Policiais atiram para se proteger dum bando de "sem-terras" armados com foices, paus e pedras, além das armas de fogo que eles foram filmados empunhando - mas negam possuir - e são acusados de "massacre". Presos resolvem se rebelar, e capturar funcionários das penitenciárias e seus próprios parentes como reféns; quando a polícia invade o local, para botar ordem, como faria em qualquer outro lugar do mundo, é recriminada por todos os "formadores de opinião"; "cometeu terrível chacina". Bandidos metralham pessoas sem dó nem pena, mas quando um policial dispara de volta contra um deles é imediatamente posto "de molho" e levado a terapia para que se investigue "o que há de errado nele". Recentemente, um ônibus repleto de bandidos prestes a cometer um assalto ou um resgate de presos foi interceptado a tiros pela polícia numa rodovia do interior de São Paulo; a operação foi um sucesso, e todos acabaram mortos, mas não foram poucas as vozes hipócritas e canalhas que se ergueram contra o suposto excesso da polícia - alguns dramatizavam tanto a situação que algum desavisado lendo as manchetes pensaria que eles atiraram contra um ônibus cheio de beatas rumo a Aparecida. É a ditadura dos fracos e oprimidos, o império dos pobres-coitados. Ganha quem chora mais. Enquanto isso, quem fica a chorar de verdade somos nós, cada vez mais alheios ao fato - tudo virou chavão fácil, simplismo exacerbado. "Tem que se ver os dois lados da questão", "a obrigação do jornalista é ser imparcial". O jornalismo cada vez mais é rasteiro, e se entrega sem pestanejar a esses recursos fáceis; abole-se o pensamento, e ninguém fica ofendido.
É o fim de tudo, a covardia finalmente tomou conta do meio. Acabaram-se, se é que já existiram, os homens de coragem. "The best lack all conviction...."


"...while the worst are full of passionate intensity."
Também o futebol brasileiro, cada vez mais combalido por escândalos e vergonhas, parece a cada ano estar mais próximo do fundo do poço, se é que esse poço tem fundo. Decisões no tapetão, cai-cai, dirigentes que invadem o gramado, vale tudo nesta verdadeira máfia sem charme algum que transformou-se o esporte nacional. Enquanto isso, o nível de nosso futebol decai a passos largos, a tal nível que qualquer equipe brasileira da primeira divisão seria facilmente goleada por uma equipe européia mediana. Nossos times não sabem jogar, acostumados que estão com um campeonato fraco, arbitragens lenientes (que permitem, ou mesmo causam, esses jogos modorrentos, onde acontece uma falta a cada 30 segundos), e treinadores incompetentes, cujo máximo talento consiste em gritar para os atletas no intervalo "Vamo lá, porra!" e "Quebra ele!" durante a partida.
Uma solução, talvez longe de perfeita, mas que amenizaria um pouco a situação poderia ser a retirada do Rio de Janeiro da CBF, e das demais organizações que gerem o esporte nacional. O ambiente festivo, um certo hábito de não se levar nada a sério ali instaurado em eras passadas, somado à burocracia típica da cidade e à informalidade exagerada que tanto lhe é peculiar, tudo isso contribuiu para esse clima de baderna que impera no meio, e fez com que esse modelo de clube e dirigente, tão pouco profissional, acabasse sendo exportado pelo Rio para todo o país. Mais uma vez um campeonato chegou a sua fase final sem nenhum time carioca representando a cidade maravilhosa. Desta vez, foi a copa Rio-São Paulo, cujas semifinais serão disputadas por quatro times paulistas. Há anos, décadas, que se fala da decadência do futebol carioca - desde que me conheço por gente, pra falar a verdade. Constantemente os times do Rio e seus cartolas acabam metidos em escândalos, dos quais sempre se safam, num repetitivo círculo vicioso; como se não bastasse, ainda temos que assistir as bravatas desses que são sem sombra de dúvida as pessoas mais repulsivas do mundo, os cartolas cariocas - sujeitos como o Eu-Rico Miranda, o infame Caixa d'Água, ou Edmundo "Chorão" Santos, do Flamengo, só para ficar entre os mais célebres. Enquanto isso, é dificílimo, pra não dizer impossível, encontrar algum jogador de primeira ordem lá que receba seu salário em dia, mesmo que os times insistam em fazer contratações milionárias todo começo de temporada. Fatos e acontecimentos inacreditáveis, que "passam batidos" pela justiça e fazem pouco da opinião de todos, enquanto são esfregados em nossas caras todo dia. Não que o futebol de São Paulo ou dos outros estados seja um primor de isenção e honestidade; mas o mar de lama aqui ainda está batendo em nossas canelas; ainda não cobriu nossas cabeças como parece ter feito do lado de lá da fronteira.
A imprensa carioca, famosa por noticiar tudo o que ocorre com uma exagerada parcialidade (quem lê jornal do Rio praticamente não sabe que o campeonato paulista existe), parece ver tudo isso com uma leniência imperdoável, e ainda conseguiu envolver o Brasil inteiro num lobby pró-Romário que desestabilizou totalmente a seleção, enquanto questiona, com ares de bravata e dedo em riste, a suposta "familiaridade" e que o técnico teria com a imprensa gaúcha', e os "privilégios" de que esta gozaria com ele. Mas o fato é que a situação exige uma medida rápida: cada vez mais, o Brasil é obrigado a engolir "cariocadas" (no dizer da não menos parcial imprensa paulista); as decisões dos tribunais desportivos acabam SEMPRE apoiando os times cariocas, que exatamente por isso sente-se à vontade para ignorar as leis, colocando em campo jogadores sem condições legais de serem escalados, superlotando seus estádios (vide caso São Januário) e mentindo sobre suas bilheterias, recusando-se a pagar impostos, entre os outros ardis que dominam.
A CBF e o STJD (Supremo Tribunal de Justiça Desportiva, responsável pelos julgamentos que envolvem os jogadores e juízes dos campeonatos de futebol realizados no país - aliás, que mal lhe pergunte, por que diabos um tribunal especialmente de justiça desportiva?) têm sua sede no Rio de Janeiro. Ambos favorecem acintosamente as equipes cariocas, em toda e qualquer circunstância. O caso do Tribunal é ímpar; todos seus membros, sem exceção, são cariocas, e proferem todos os dias, entre seus irritantes erres e esses sentenças escancaradamente pró-times do Rio; na mais recente delas, o CSA, de Alagoas, teve um recurso negado sem qualquer explicação convincente, contra um pedido de anulação de partida (ou perda dos pontos disputados) que pedira quando o time do Vasco utilizara-se de um jogador suspenso no jogo que acabou eliminando o time alagoano. Armando Marques, aquele "sujeito mentalmente prejudicado de orientação homossexual" (politicamente correto para bicha-louca) recentemente coagiu o juiz do jogo Figueirense x Caxias, válido pela final do Campeonato Brasileiro da segunda divisão, a colocar em sua súmula que já havia encerrado a partida quando da invasão da torcida do Figueirense, o que não tinha sido verdade; o fato veio à tona, e o caso foi a julgamento. O tal juiz arrependeu-se, confessou o que fizera; ainda assim foi punido. Armando é macaco velho. É também carioca, se não de nascença, com certeza de "crescença". Uma mala preta cheia de dólares para quem adivinhar se algo aconteceu com ele.
As bravatas e o tom desafiador são os mesmos dos dirigentes; esses tais "juízes" do tal tribunal estão constantemente nos programas esportivos, sempre utilizando-se do vocabulário ridiculamente rebuscado e dos ternos mal-ajambrados peculiares a quem freqüentou o ambiente pouco salutar das faculdades de Direito, para disfarçar suas inconfundíveis maneiras de quem passou a vida num boteco de cais do porto, de chinelo, bermuda e palito no canto da boca. Defendem suas posições e esculhambam tudo e todos com a fineza e os trejeitos de um Eurico Miranda, atropelando (ou pretendendo atropelar) qualquer um que ousar se opor às suas arbitrariedades. Pergunto: será que não era hora de isso mudar? Será que tudo o que vem ocorrendo não justifica uma intervenção, governamental ou não, neste meio, que tanto gera e tanto mais poderia gerar de dinheiro para os cofres públicos, entre impostos e outros meios de arrecadação? E será que não ajudaria se o estado cujo futebol mais movimenta dinheiro no país - dinheiro real, pago em dia, e não nas promissórias do Flu ou do Mengão - sediasse os órgãos que mandam no futebol do país? Ou então, se é para evitarmos bairrismos tolos, então que a CBF e o resto da corja vá para Brasília - afinal, o Rio deixou de ser a capital do país há mais de 30 anos, por que o nosso futebol deve continuar a ser centrado lá?

Rafael Azevedo
São Paulo, 19/4/2002

 

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