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Quinta-feira, 30/5/2002
Torço para quem eu quiser
Adriano Maesano

Qual é a marca do tênis que você está calçando agora? E do seu relógio? E da sua televisão, do rádio do seu carro e do seu microcomputador?

O ser humano não é patriota ao escolher este tipo de coisa. Usamos tênis Nike, relógios Swatch e nossos equipamentos eletrônicos geralmente são japoneses. Não temos o sentido de patriotismo ao comprar estes produtos, deixando de lado marcas como Penalty, Olympikus, Dumont, Gradiente e Itautec. Compare a bilheteria dos filmes nacionais com aqueles produzidos em Hollywood.

Por que razão devo ser patriota e torcer para a Seleção Brasileira?

Independente de torcer ou não, quero ter o direito de escolher as marcas que vou consumir, as pessoas com quem desejo conviver e os times que merecerão meu apoio. Não escolhi meus parentes nem minha pátria. Não sou obrigado a gostar dos meus primos. Nem de determinada seleção ou atleta nacional.

Lembro vagamente da Copa do Mundo de 1978, pois tinha menos de 5 anos. Minha maior lembrança refere-se à partida Argentina e Peru. Os argentinos massacraram os peruanos por 6x0, e eu estava vendo o jogo em casa, sem meus pais, que estavam em uma festa. Eu adorei ver aquela chuva de gols, papel picado e muita festa. Mal sabia que aquele jogo representou uma das maiores farsas da história das Copas do Mundo, e que a enorme diferença de gols classificou nossos vizinhos para a final, eliminando "nossa" Seleção Brasileira.

Sofri muito em 1982 e 1986, ao ver grandes craques sucumbirem em partidas dramáticas, contra Itália e França respectivamente. Sendo um apaixonado pelo futebol, aos 12 anos chorei muito com a eliminação nos pênaltis em 1986.

A Copa de 1990 não causou muito sofrimento, apesar do Brasil ter jogado muito bem na partida contra a Argentina, quando eles marcaram na única vez que chegaram na meta brasileira.

O futebol covarde de 1994 não mereceu meu apoio, e fui imparcial na final contra a Itália, lamentando apenas o fato de um dos maiores craques que vi jogar, Roberto Baggio, ser o responsável pelo pênalti decisivo. Teria sido mais justo ver Bebeto bater, e converter, a última cobrança. Ao menos o Brasil atuou com vontade e dignidade, merecendo o título pelo excelente conjunto e equilíbrio da equipe.

Minha seleção em 1998 era a França. Era um dos poucos que acreditavam na equipe francesa, que tinha o melhor retrospecto nos anos que antecederam a Copa do Mundo. O Brasil fez um belo papel, chegando à final com um time limitado e mal escalado (lembrem-se que Bebeto arrastava-se em campo), mas era certo que não poderíamos vencer a equipe francesa, que era muito superior ao Brasil, e ainda jogava em Paris, às vésperas do 14 de julho.

Espero que o Brasil não tenha muito sucesso nesta Copa do Mundo, pois desta forma o "estilo Scolari" seria enterrado, como ocorreu com Sebastião Lazaroni em 1990. Este treinador é grosseiro, ignorante e retranqueiro, envergonhando "nossa" nação, além de levar o verdadeiro futebol brasileiro para o buraco. Apesar de craques como Ronaldinho Gaúcho serem capazes de um milagre, e conduzindo o Brasil ao penta, espero não ter o desprazer de ver Felipão, Murtosa e Antônio Lopes pulando e chorando sob os berros de Galvão Bueno. Aí seria demais!

Acho que vou torcer pela Argentina. A atual situação do país, somada com a safra de craques como Verón e Sorín é motivo suficiente para que eles tenham meu apoio. Não sei se vencerão, pois o goleiro deles é horrível, como "nosso" Marcos, que traz amargas lembranças pela semelhança (física e tecnicamente) que tem com Valdir Peres, que causou muita preocupação aos brasileiros 20 anos atrás.

Adriano Maesano
São Paulo, 30/5/2002

 

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