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Segunda-feira, 24/6/2002
Ataque dos Clones
Nemo Nox

Como contar a história do vilão para um público predominantemente adolescente sem fazer apologia do mal, e ao mesmo tempo deslumbrar com efeitos especiais e ser fiel a uma mitologia acompanhada em seus mínimos detalhes por milhares de fãs? Essa é a armadilha que George Lucas criou para si mesmo com a trilogia inicial na cronologia da série Star Wars. O segundo episódio, Attack of the Clones (EUA, 2002), consegue evitar alguns problemas óbvios do filme anterior, The Phantom Menace, mas não escapa sem alguns arranhões.

Anakin Skywalker já não é o menininho irritante de The Phantom Menace. Agora ele é um adolescente irritante, interpretado por Hayden Christensen (de Life as a House). Quase todos os traços do vilão Darth Vader já estão no personagem, o que lhe dá a empatia de um Hitler juvenil. Em vez de apresentar um protagonista carismático como Luke Skywalker (herói do primeiro Star Wars e filho de Anakin) para depois mostrar sua queda para o lado negro, Lucas preferiu fazê-lo detestável desde o primeiro momento, destruindo a idéia criada por ele mesmo em episódios anteriores que Darth Vader teria sido, algum dia, uma boa pessoa.

Sem um personagem central forte, Attack of the Clones se apoia nos coadjuvantes. Natalie Portman repete sua interpretação de Padmé Amidala, que deixou de ser rainha para ocupar a posição de senadora (o que nos deixa imaginando que tipo de eleitores tem uma república daquelas). Ewan McGregor também volta com seu Obi-Wan Kenobi, agora já com a barba que vimos na sua versão em terceira idade interpretada por Alec Guinness. Outras figuras conhecidas aparecem, como o Jedi negro Mace Windu (Samuel L. Jackson) e o chanceler-em-vias-de-se-tornar-imperador Palpatine (Ian McDiarmid). Mais interessantes, porém, são os novos vilões Darth Tyranus (Christopher Lee, também vilão em Lord of the Rings e famoso como o Dracula da Hammer Films) e Jango Fett (Temuera Morrison), pai do Boba Fett que mais tarde capturaria Han Solo.

De olho no mercado, Lucas não só remendou seu novo filme para acomodar o gosto dos fãs (entre outras coisas, ofereceu mais seqüências de ação e minimizou a participação do personagem mais odiado de todos os tempos, Jar Jar Binks) mas também foi buscar inspiração em sucessos cinematográficos recentes. Um romance adolescente e proibido no estilo meloso de Titanic e uma cena de combate num coliseu a la Gladiator deixam poucas dúvidas em relação a coincidências. Para quem quer ação e cenários feitos em computador, Attack of the Clones não decepciona, principalmente na luta entre Yoda e Darth Tyranus, onde o Jedi baixinho mostra que não fica atrás de Jet Li ou Jackie Chan. Mas deixa uma dúvida: se o nanico enrugado é capaz de lutar daquele jeito, movendo-se com agilidade felina e demonstrando perícia oriental, por que anda sempre manquitolando apoiado numa bengala?

Se comparado com The Phantom Menace, Attack of the Clones pode parecer um grande avanço. Mas a triste verdade é que a série Star Wars perdeu todo o brilho a partir de Return of the Jedi, um filme sobre o resgate de uma tribo de ursinhos de pelúcia. Desde então, ficou muito mais parecida com as trapalhadas de um Jar Jar Binks que com o espírito de aventura de um Han Solo.

Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pelo autor. Nemo Nox é editor do blog Por um Punhado de Pixels e do site Burburinho, onde este texto foi originalmente publicado.

Nemo Nox
Washington, 24/6/2002

 

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