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Segunda-feira, 1/7/2002 Mademoiselle Colette Helena Vasconcelos Mademoiselle Colette é um das glórias da França e da Literatura. Os seus livros, aparentemente destinados a meninas bem comportadas são, afinal, tão escandalosos como a vida da autora. Esta mulher, que foi a primeira a ter direito a um funeral de Estado, (apesar de o arcebispo de Paris ter recusado oficiar a cerimónia religiosa, o que suscitou críticas de católicos devotos como Graham Greene), causa admiração e suscita controvérsia. Judith Thurman, que escreveu a sua biografia, ("Secrets of the Flesh", Ed. Bloomsbury) é excepcionalmente objectiva e pragmática ao chamar a atenção para os defeitos da escritora, apesar da óbvia admiração demonstrada; porque o mais interessante na personalidade de Colette é a sua total ausência de uma moral tradicional judaico-cristã. Ela foi uma amante da beleza, da Natureza, dos animais, dos prazeres sensuais, da alegria, da energia, e manteve sempre um desprezo bem humorado em relação a convenções e a ideias feitas. Através da sua vida e da sua escrita, (indissociáveis uma da outra), transmite-nos a ideia de um mundo que, ainda hoje, nos parece quase perfeito. Sidonie-Gabrielle Colette nasceu na rústica povoação de Saint-Sauver-en-Puisaye, a 28 de Janeiro de 1873. Da infância, guardou sempre uma memória encantada, influenciada principalmente pela figura da mãe, Adèle-Eugénie-Sidonie, a quem ela chamava Sido. O pai, Jules Colette, um incurável sonhador, fora capitão dos zuavos e perdera uma perna em batalha. Colette mostrou a sua adoração por Sido em centenas de páginas de memórias dedicadas à figura materna. Aos seus olhos, ela representava a beleza, a sabedoria, a força, a alegria inexaurível e o elo que a ligava ao paraíso que fora a sua juventude. Para ela, as mulheres como Sido e, mais tarde como ela própria, nada perdiam com a idade, antes se tornavam perigosamente sedutoras com o seu ar de calma autoridade e serena confiança. É comum dizer-se que Colette criou apenas três grandes figuras que depois recriou na sua vasta obra: a primeira foi a própria Colette, aquela que eliminou o nome (Gabrielle-Sidonie) para usar apenas o apelido, Colette, "juste comme les garçons"; a segunda foi Sido, a mãe que ela endeusou; e a terceira foi Léa, a prostituta de quarenta e nove anos, genialmente irónica, com uma carreira bem sucedida como mulher, cortesã e dominadora de homens. Em "Chéri", Léa mantém um gigolo bastante mais novo que ela mas, tal como as outras "courtisanes" de Colette, não é uma prostituta desgraçada ou insegura. Todas elas são mulheres maduras e poderosas que manipulam os homens e gerem a sua vida com grande inteligência, sem tirarem os olhos das cotações da Bolsa. Enquanto coleccionam as melhores jóias, consomem as melhores iguarias e vinhos e mantêm as melhores casas, com um exército de criados às ordens, conservam um aspecto permanentemente cuidado, apresentam-se bem vestidas e bem penteadas e cultivam um fetiche, o da limpeza, especialmente nas partes íntimas. (Em "Gigi", a avó diz para a neta que, numa emergência, o rosto pode aguentar uma noite inteira sem ser lavado."tandis que le soin du bas du corp, c'est la dignité de la femme.") Colette começou a escrever quando tinha pouco mais de vinte anos. Claudine, a sua criação, foi a primeira "teenager" típica do século, a aparecer em literatura: rebelde, desafiadora, cheia de segredos, eroticamente irrequieta, excitada pelo facto de ser mulher e, ao mesmo tempo, irritada e impaciente com o seu próprio género. Estas figuras de adolescentes chocaram as cabeças bem pensantes da época e os livros de Colette foram fechados à chave, para que as meninas de boas famílias não pudessem ter-lhes acesso. O Vaticano apressou-se a colocá-los no Índex. Por essa altura, Colette era considerada totalmente amoral, uma "criatura cuja vida se baseava unicamente no prazer dos sentidos." Francois Mauriac decidiu unilateralmente "absolvê-la" do pecado da luxuria, uma vez que, segundo ele, "esta criatura carnal e pagã faz-nos desejar caminhar para Deus". Com as suas atitudes, a sua inteligência e a sua beleza selvagem, Colette atraía tanto os libertinos, como aqueles que achavam que a deviam "salvar". Prestavam-lhe homenagem pela sua "inocência perversa", característica primordial de uma "filha da Natureza": "Colette é uma criança impulsiva destituída de qualquer sentido moral" escreveu a marquesa de Belboeuf (Missy). Colette comentou, sarcasticamente, que estas palavras vindas da dita marquesa, que era sua amante, mas também um travesti e uma antiga viciada em droga, pareciam-lhe, no mínimo, estranhas. Colette baseava a sua filosofia de vida nas ideias de Sido, que sempre se sentira muito adiantada para a época e que comungava das opiniões dos ateístas, boémios e revolucionários sexuais que grassaram por entre os discípulos de Fourier, em cujas fileiras se incluía o seu irmão, Eugène. Mas, numa altura em que uma mulher tinha pouco mais a seu favor do que a beleza da juventude, Sido foi praticamente empurrada para um casamento com Jules Robineau, velho, feio e com dinheiro. ("Céus, os maridos são tão estúpidos" costumava ela dizer, raivosamente). Jules tinha uma amante oficial a quem batia regularmente e no início do casamento tentou fazer o mesmo a Sido. Esta apressou-se a "domesticá-lo", respondendo-lhe da mesma moeda. Mais tarde Sido diria à filha que ".nunca achou que fosse decente ou conveniente, dormir com os próprios maridos" e se Juliette, a sua primeira filha, se parecia com Robineau, já o segundo filho nasceu quando ela mantinha uma ligação com o capitão Colette que veio a ser o seu segundo marido. Talvez por ter herdado da mãe esse desprezo pelas convenções, Gabri (a "minet-chérie") sempre preferiu o ambiente de boémia da gente de teatro e artistas. A "Vagabonde" sentia-se muito melhor nesse "demi monde", onde não se valorizava o casamento nem as instituições mas sim a satisfação dos sentidos e a plenitude sexual. Numa cultura puramente hedonista em que se procurava uma sexualidade livre do constrangimento da monogamia e da procriação, a maior parte das pessoas eram bissexuais e as mulheres, ou eram solteiras ou viviam sozinhas, tinham amantes jovens e tomavam elas mesmas conta dos negócios. Esta situação aumentava-lhes o prestígio em vez de o diminuir. Eram mulheres de "carreira", eroticamente maduras e sabedoras, experientes e sedutoras que, tal como Colette desprezavam as tarefas caseiras que colidiam com o processo criativo. O tempo do esplendor de Colette foi uma época de grandes convulsões. É impossível esquecer o impacto do célebre processo Dreyfus, que abalou a França e a Europa, e que Zola analisou. O anti-semitismo colocava-se a par e passo com outras paranóias da sociedade. O horror misturado com fascínio que colocava no mesmo grupo, os judeus, os homossexuais e as mulheres emancipadas, estava intimamente relacionado com o medo da miscigenação. Colette afirmou que tinha algum sangue negro, (antepassados seus teriam emigrado para a Martinica e prosperado no comércio do tabaco, rum e chocolate) e criou personagens tipicamente bastardas, nas quais as fronteiras do género, ou são invertidas ou esbatidas: mulheres-criança, raparigas com problemas, homens efeminados, rapazes perdidos, travestis e homossexuais fazem parte do seu universo vivencial e literário. Zola, em "Nana", definiu muito apropriadamente essa sociedade de fim-de-século decadente: a mistura de uma classe média emergente com dinheiro novo e um gosto pelo consumismo desenfreado; uma aristocracia vendida que abandona os seus valores e que busca apenas os prazeres mais imediatos; e um proletariado roído pela pobreza, pelo álcool e pelos "genes defeituosos". Começa também nessa altura a notar-se a importância de um "quarto estado" cheio de poder, a imprensa escrita, que se aproveita parasitariamente dos escândalos na sociedade e da miséria em geral. Quando Colette conheceu o que viria a ser o seu primeiro marido, Henry Gaulthier-Villars, dito Willy, ele era já um "homme du monde", conhecido em toda a cidade de Paris. A diferença de idade entre ambos, catorze anos, era normal na época. Ela parecia ainda mais nova e cultivava o aspecto "gamine", ele deleitava-se com a imagem de velho sátiro. O casamento deixou toda a gente surpreendida. Willy passara pelo exército mas rendera-se aos encantos de Paris, onde desenvolvia as suas aptidões para os ditos espirituosos e perturbantes, vivia no meio teatral e literário e era um personagem medianamente célebre nos salões e na sociedade da época. Colette era, ainda, uma ilustre desconhecida que viera da província. Willy, que já tinha um filho de uma amante, iniciou-a na arte do prazer sensual e introduziu-a na corrupta sociedade da época. Casaram-se a 15 de Maio de 1893 e, mais tarde, Colette afirmou que o primeiro ano de vida juntos foi um pesadelo apenas comparável às seis semanas, nos finais de 1941, quando o seu terceiro marido foi encarcerado pelos nazis. Mas, por outro lado, ela deu a seguinte imagem do seu casamento como: ".o fruto de um arrebatamento culpado, de um impulso de adolescente atrozmente impuro. (Tal como eu) existem muitas raparigas núbeis que sonham tornar-se o objecto de jogos, a obra-prima licenciosa de um qualquer homem de meia idade. Se muitas jovens colocam as suas mãos delicadas em garras de veludo, oferecem as suas bocas ao espasmo glutão de outras bocas inflamadas e olham serenamente para a sombra na parede de um enorme estranho, é porque a curiosidade sensual lhes sussurra conselhos imperiosos". Gauthier-Villars continuou a manter as suas múltiplas conquistas, fazendo sempre o papel de sedutor experimentado junto de mulheres muito jovens, as suas "ninfas", como ele lhes chamava. O escritor que não conseguia escrever era também um deprimido crónico. No início do século XX, enquanto a vida em Paris dava sinais de grande agitação e insegurança, com os ataques dos anarquistas e assassínios de políticos, descrédito das instituições, perda de fé religiosa e as grandes descobertas da ciência que punham em causa um grande numero de dogmas, as pessoas, principalmente os artistas, sofriam de nervosismo, de uma sensação de apocalipse iminente, de solidão, de vazio e de uma descrença generalizada nas relações entre seres humanos. Multiplicavam-se os movimentos, as seitas e os cultos, aumentava a tendência para o misticismo, generalizava-se o consumo de drogas e a frequência dos suicídios acompanhava um desejo bulímico e insaciável pelos "prazeres carnais". Era costume as mulheres "shootarem-se" durante os jantares, (na coxa direita, "logo acima do cinto de ligas") e as senhoras de sociedade mantinham relações sáficas, uma vez que o adultério homossexual apresentava vantagens evidentes: eliminava o risco de gravidez, diminuía o das doenças venéreas e satisfazia a curiosidade sexual, ao mesmo tempo que servia de vingança em relação a maridos frequentemente brutais e desajeitados. Contra o pessimismo generalizado, Nietzsche e Ibsen avançavam a ideia de que, contra uma sociedade corrupta e decadente, contrapunha-se a fé no homem e a "vontade de exprimir a sua própria personalidade". Colette subscrevia inteiramente estas teorias. A sua vida de casada foi uma lenta e penosa aprendizagem para a formação da sua personalidade. Depois de uma doença que quase a matou (para alguns, um esgotamento nervoso devido à revelação da "infidelidade crónica" de Willy, para outros, o eclodir de uma doença venérea "herdada" do marido), Colette ingressou corajosamente na vida que lhe estava destinada, passando a frequentar a sociedade e fazendo "vista grossa" à forma como Willy se comportava com as mulheres. Este, segundo Colette, não só recebia as amantes no apartamento de ambos, como esperava que ela as entretivesse social e sexualmente, exercendo um domínio avassalador e premente. Quando compreendeu que ela era um "bem a capitalizar", mobilou um apartamento com um escritório onde ela era "encerrada, maltratada, forçada a escrever, obrigada a exercer actos sexuais degradantes e a ser sistematicamente humilhada". Por vezes Willy mostrava-se sedutor, admirador das suas capacidades, lisonjeiro e indulgente, outras vezes era cruel, distante e negativo. Era um verdadeiro "papa-mari", alternadamente protector e castigador, fornecendo-lhe aquilo a que ela chamou os "seus prazeres confusos". Uma das formas de lidar com o problema foi, ela própria, disputar as amantes de Willy, como foi o caso das americanas Georgie Raoul-Duval e Natalie Clifford Barney. Foi na reclusão imposta por Willy que Colette começou a escrever os livros que lhe deram a fama mas que, inicialmente eram publicados como se fossem escritos pelo marido. O primeiro "Claudine à L' École" tornou-se um êxito retumbante. Seguiram-se-lhe mais três "Claudines" e Willy montou um esquema de "marketing" que se revelou compensador. Todos os prostíbulos de Paris ostentavam uma Claudine residente e havia loções, gelados, roupas, cigarros, perfumes, pó-de-arroz e postais com a imagem de Claudine, a mulher criança, perversa e ingénua ao mesmo tempo, natural e super produzida. Através dessa personagem, Colette descreveu magistralmente as experiências simultaneamente eróticas e violentas que as raparigas experimentam ".essas neuroses da puberdade, o hábito de comer barro e carvão, de ler livros indecentes e de espetar alfinetes nas mãos". Willy era um "empresário da literatura" que mantinha uma verdadeira "fábrica" (à maneira de Andy Wharol), por onde passavam escritores, jornalistas e artistas de toda a espécie que trabalhavam em tudo o que interessasse no momento, colunas em jornais, ensaios, notícias da má língua, escândalos e memórias "proibidas". Mas, por altura em que apareceu "Claudine s'en va" o casamento estava praticamente desfeito. Willy tinha uma amante muito jovem, imatura e ambiciosa (que se tornou a sua segunda mulher, Meg). Colette, cansada da vida conjugal iniciou uma relação com a Marquesa de Belboeuf, (Missy), um famoso travesti que descendia em linha directa da imperatriz Josefina. De maneiras impecáveis e vestindo-se a rigor, Missy mantinha um desejo feroz por ternura que só encontrava noutras mulheres. ("Le Pur et l' impur", 1941, foi a obra que Colette dedicou ao amor lésbico.) Com Willy à beira da ruína, foi engendrado um divórcio entre ambos para proteger algum dinheiro ganho com os direitos de publicação das "Claudine". Colette aproveitou a relativa liberdade, (apesar de separados, continuavam a ter uma relação estreita e no primeiro ano depois do divórcio, os dois "casais", Colette e Missy, Willy e Meg passaram o verão juntos, à beira-mar) para iniciar a sua carreira teatral. Escrevendo e representando pelos palcos da Europa, entrou em contacto com toda a espécie de pessoas, principalmente jovens da classe trabalhadora que tentavam ganhar a vida. O seu esforço ensinou-a a respeitar o trabalho, o bom senso e o esforço criativo. Ela também apreciava a vida boémia das ceias tardias e das festas que duravam toda a noite. Entretanto, as relações homossexuais deram lugar a um segundo casamento respeitável. Henry de Jouvenel era mais novo do que ela três anos, um aristocrata, político respeitado e director de "Le Matin", o jornal para o qual Colette iniciou a sua colaboração como jornalista, chegando a fazer trabalhos como correspondente durante a 1.ª Grande Guerra. A paixão entre ambos foi tão violenta que Colette ignorou a doença da sua adorada mãe, para não se afastar de Jouvenel. Mas foi também uma relação de luta pelo poder entre duas fortes personalidades que nunca se conformaram com a fidelidade ou com a estabilidade de uma vida familiar, apesar do nascimento de uma filha. Henry manteve uma longa sucessão de amantes e Colette, seis meses depois de ter publicado "Chéri", a sua obra-prima sobre a relação entre uma mulher mais velha e um jovem, iniciou um "affair" com o filho adolescente de Jouvenel, o seu enteado, Bertrand de Jouvenel, que tinha então dezassete anos (Bertrand foi anos mais tarde amante de Martha Gelhorn, a quem falou sobre a sua profunda paixão por Colette). Do casamento com Jouvenel nasceu uma filha, Bel-Gazou, que nunca foi muito apreciada pela mãe. Colette não tinha vocação maternal e costumava dizer: "Je suis un écrivant qui a fait un enfant". Entregou a filha a amas, nunca tinha tempo para a ir ver e, mais tarde, condenou-a pelas suas ligações lésbicas, apesar da sua própria experiência nesse campo. Quando Henry de Jouvenel decidiu enveredar pela política, quis que Colette se portasse de uma forma mais respeitável e que abandonasse o teatro mas ela recusou. Detestava a política, enquanto que ele tinha ciúmes do seu amor pelos animais. Algumas semanas antes de Colette fazer cinquenta anos, Jouvenel deixou-a. Mas Colette já não era nenhuma criança desamparada. Tinha um nome, (fora até agraciada com a Légion d'Honneur em 1929), uma reputação (escandalosa) e um contínuo desejo de independência. Apesar da sua ligação com o enteado ter continuado durante mais algum tempo, acabou por casar com Maurice Goudeket, o seu terceiro e ultimo marido, um homem de ascendência judaica suíça e holandesa, dezasseis anos mais novo do que ela e que lhe foi devotado até ao fim da vida. Durante a Segunda Grande Guerra, Maurice foi preso pela Gestapo. Para conseguir a sua libertação, Colette mexeu todas as influências, chegando a escrever para a imprensa colaboracionista e privando com alemães durante a ocupação, o que contribuiu para uma mancha negra na sua reputação. Apesar de duramente criticada por este facto, ela sempre afirmou, candidamente, que tinha de libertar o marido e que, para além disso, nunca acreditara na vitória dos Aliados. (Colette nunca foi uma escritora com problemas de ética como Gide ou Mauriac. Os seus personagens não colocam qualquer tipo de questões metafísicas nem sofrem de angustias morais) Nos últimos anos da sua vida, Colette continuou a escrever, a viajar, a entusiasmar-se com projectos, apesar de confinada à cama (a sua "jangada") pela artrite crónica. Apesar da sua entrada para a Académie Française, conseguiu chocar sempre a mentalidade burguesa dos franceses. Nunca perdeu o seu sotaque da Borgonha, dizia sempre o que pensava e com a idade engordou, não se ralando minimamente com o facto. Pintava o cabelo de cores chocantes, (malva e roxo eram as favoritas), usava sandálias especiais fosse no verão ou no inverno, escrevia uma coluna numa revista feminina (onde foi a primeira a descrever os sintomas da anorexia e os pormenores de um orgasmo fingido), abriu um salão de beleza durante a Depressão, quando Maurice ficou arruinado, e disse sempre o que pensava até morrer, a 3 de Agosto de 1954. Todas as suas experiências, principalmente esses "segredos da carne" que ela explorou exaustivamente, serviram de tema para os seus livros. Para ela, o "segundo sexo" era o mais forte e, através do seu exemplo, demonstrou que as mulheres tinham uma grande capacidade para trabalharem, para experimentarem o prazer, para se autonomizarem e para utilizarem da melhor maneira a sua "agressividade intrínseca". Colette representa a transformação radical da mulher do "ancien régime" num ser livre, sensual e actuante. "Sou realmente uma filha da Natureza", disse ela, "adoro tudo o que é arbitrário, prefiro a paixão à bondade e o combate à discussão". Nunca lamentou nada e perseguiu o seu desejo de se tornar uma artista superior, mesmo à custa da rejeição da maternidade. "O meu egoísmo", dizia "é uma face da minha monstruosa inocência". Nota do Editor Texto gentilmente cedido pela autora. Publicado originalmente na Revista Storm, editada por Helena Vasconcelos em Portugal. (Foi mantida intacta também a grafia original.) Helena Vasconcelos |
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